Bancas de jornais se reinventam para continuar no mercado

por AGNALDO SOUZA, estagiário
sob supervisão do editor Raimundo Santana

Nas últimas décadas, acordar cedo no domingo e tomar um cafezinho enquanto lia o jornal era rotina de muitos brasileiros. Porém, com os avanços tecnológicos e a modernização da informação, muitos jornais e revistas migraram do impresso para o digital. Diante disso, as bancas precisaram se reinventar.

Wesley Gomes, proprietário de uma banca no centro de Governador Valadares há 19 anos, acompanhou essa mudança e é um dos que tiveram de se adaptar.

“A procura por revistas ainda continua, mas com menos intensidade; já os jornais eu nem vendo mais. Depois que os jornais e revistas passaram a ser on-line, as vendas caíram muito e começamos a focar em outras variedades, como acessórios para celular, chaves, alicates, água, refrigerante e outras coisas”, contou.

Jornais como o Estado de Minas, Folha de São Paulo, O Globo, Estadão, Diário do Comércio, Jornal do Brasil, Gazeta, Tribuna, Extra, O Dia, entre outros, circulavam pelas bancas de Valadares. Hoje em dia, é praticamente impossível encontrar algum lugar que ainda venda esses impressos.

Segundo o jornalista e produtor cultural Alpiniano Silva Filho, mais conhecido como Tim Filho, essa migração do impresso para o digital mudou muito o perfil do jornaleiro, que teve que se ajustar a essa nova era da informação.

“Essa mudança afetou muito os jornaleiros, que antes tinham as vendas de jornais e revistas como grande parte do movimento diário nas bancas.  Até alguns anos atrás, quando passávamos por essas bancas, assim como as revistas, víamos várias pilhas de jornais, locais e nacionais, e esses eram produtos que saíam muito. Agora, raramente vemos impressos, só poucas revistas e algumas apostilas para concurso. As bancas, hoje, trabalham mais com prestação de serviços, como amolar alicate, fazer chave ou até preencher formulário para documentação”, contou ele.

Com essa mudança no mundo das notícias, não só os veículos de comunicação e os pontos de venda tiveram que se adaptar, mas os leitores também. Iolanda Belício, carioca de 47 anos que mora em Valadares há 20 anos, contou que, apesar de sentir falta de ler o jornal impresso, entende que essa foi uma mudança inevitável.

“Eu costumava ler jornais impressos e, depois que eles ficaram mais difíceis de ser encontrados, eu tive que me render às notícias digitais mesmo. Hoje em dia, praticamente todo mundo tem um celular, o que tornou essa mudança inevitável, e acaba que realmente fica mais prático,” pontuou.


“Meu impresso tem cheiro de café fresquinho e gosto de pão com manteiga”

Ana Lúcia, jornalista formada pela Univale e diretora de Jornalismo na
Prefeitura Municipal de Governador Valadares

“De vez em quando me pego refazendo um percurso que fez parte da minha vida por muitos anos: acordar cedo para ir à padaria e ficar enrolando no balcão, só para ver outros clientes chegarem e saírem com um pão quentinho nas mãos e um exemplar do meu impresso favorito debaixo do braço.

Isso era motivo de orgulho, afinal, algumas notícias que ele trazia eu já conhecia por ter participado da produção de parte do conteúdo como repórter em Valadares – trabalhei na sucursal do Jornal Hoje em Dia por 22 anos.

Raramente eu sabia qual seria a capa, escolhida entre as notícias mais importantes e quase no final da noite, e enorme era a minha surpresa quando, vez ou outra, eu emplacava nessa página de destaque. Era como vencer uma disputa, ganhar um prêmio.

Quando isso acontecia nos dias de semana, quase sempre era por causa de um ‘factual daqueles’, e, nos domingos, pelas reportagens com histórias especiais que exigiam paciência e muita dedicação na apuração. Normalmente, vinham de viagens cansativas e desafiadoras, horas de trabalho.

A saga dos índios Maxakalis, que vivem no Vale do Mucuri, onde estive pela primeira vez em 1997 levando na mala coragem, uma máquina de datilografia e dinheiro extra para o fax enviado à Redação em Belo Horizonte (afinal, a internet não havia nos alcançado ainda), e a de alguns Pataxós que abandonaram a terra mãe em Carmésia para se abrigarem no colo de outras, em Açucena e Guanhães, renderam capas incríveis.

A emigração de valadarenses para vários cantos do mundo e descobertas de pesquisadores que tivemos a honra de divulgar (se bem que hoje a palavra mais indicada seria compartilhar), também me deram essa oportunidade. Sempre, claro, com a ajuda especial de belas imagens captadas por grandes fotógrafos que passaram pela sucursal. Se uma imagem vale mais que mil palavras, peço licença para homenageá-los em nome do fantástico repórter fotográfico Leonardo Morais.

Ah, essas lembranças me fazem sentir cheiro de café fresquinho e o gosto do pão com manteiga que trazia da padaria junto com exemplares de concorrentes do meu impresso. Como eu gostava de ver os jornais empilhados por meses e sendo fontes de consultas para a meninada aqui de casa!

Quando passaram a ser lançados sobre o muro, ainda de madrugada, ir à padaria para vê-los na prateleira, ao lado do caixa, fresquinhos como as fornadas de pão, passou a ser um gesto de amor.

O avanço da era digital e a migração quase que obrigatória para as plataformas on-line fez calar a voz do jornaleiro, que praticava arremesso acertando quase sempre locais improváveis, na minha rua. Assim, o meu velho e valioso jornal impresso foi perdendo espaço nas padarias, nas bancas de revistas que já foram ‘bancas de jornais’, mas nunca perderá em meu coração.

Aos impressos que resistem bravamente, o meu muito obrigada. Viajando em suas páginas nos tornamos cidadãos do mundo e para o mundo. E que venham novos desafios!”

Ana Lúcia Gonçalves
51 anos

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