Atuando pela ressocialização de mulheres condenadas, Apac celebra 17º aniversário

A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Governador Valadares é uma unidade dedicada à recuperação e à reintegração social de mulheres condenadas a penas de reclusão. Neste sábado (29), a associação completa 17 anos de serviço no município e região. E para comemorar, os voluntários que trabalham em prol da Apac cumpriram um calendário especial de atividades diversas envolvendo cultura, momentos de fé e muito aprendizado.

“Primeiro quero agradecer a oportunidade de estar falando sobre a Apac ao Diário do Rio Doce. Somos muito gratos a Deus pela vida de vocês. A Apac está comemorando seus 17 anos, então, a gente está vivendo algo extraordinário dentro da instituição. A gente tem tido condições, hoje, de estar ajudando 82 recuperandas a cumprirem suas penas de uma forma digna, sociável e onde há, dentro desse cumprimento de pena, o envolvimento delas em coisas que vão trazer benefícios para elas”, declarou o presidente da Apac, Renato Soyer.

A programação de aniversário começou às 19h30 da última quinta-feira (27), com um culto religioso. Já nessa sexta-feira (28), as recuperandas e os voluntários participaram de uma agradável noite cultural. Neste sábado – dia do aniversário – haverá cerimônia de batismo às 9h.

História da Apac

A iniciativa nasceu em 1972, na cidade de São José dos Campos – SP, por meio de um grupo de voluntários cristãos, sob a liderança do advogado e jornalista Dr. Mário Ottoboni, no presídio Humaitá. O objetivo era evangelizar e oferecer apoio moral aos presos, possibilitando, assim, a ressocialização. Mas em Valadares, os primeiros trabalhos inspirados no método criado por Ottoboni começaram antes mesmo da ‘data oficial’ de fundação da associação no município.

Em meados dos anos 2000, um casal de voluntários, ao conhecer um método diferente de execução, acompanhamento e fiscalização da pena privativa de liberdade, deu início ao objetivo de trazer esse mesmo formato de serviço para o município. Então o casal se uniu a um grupo de voluntários, que na época era liderado pelo professor Luiz Alves Lopes – o professor Luizinho. E juntos, com o apoio do Poder Judiciário, formaram a Pastoral Carcerária (prestação de atendimento a condenados) que logo mais, em 2005, resultaria na criação da Apac Feminina em Valadares.

De acordo com a associação, a estrutura da APAC é mantida com recursos de convênio com o Estado e, nas unidades administradas pelas APACs, predomina o trabalho voluntário de médicos, dentistas, advogados, psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, educadores, religiosos e artesãos.

Atual índice de ocupação

Hoje, as recuperandas da APAC se acomodam em ambientes divididos por quatro pessoas, sem superlotação. Todo o espaço de convivência é organizado e limpo pelas próprias ocupantes, que auxiliam desde a limpeza do espaço, segurança do local, até a portaria da instituição. Elas ainda possuem salas de aula destinadas a estudos e cursos, com horários livres para lazer. 

O local tem capacidade para acolher 82 recuperandas, sendo 62 no regime fechado e 20 no regime semiaberto. Em outubro de 2021, a Apac tinha 53 mulheres acolhidas. Mas atualmente a associação registra um total de 73 recuperandas em ambos os regimes. Contudo este número pode sofrer variações em caso de desligamentos ou transferências.

De acordo com o presidente Renato Soyer, o local vem passando por grandes reformas e a previsão é que logo a unidade atinja a marca de 82 mulheres acolhidas.

Processos de uma recuperanda desde a chegada à Apac

Os responsáveis pela associação explicaram que, ao ser acolhida na unidade, a recuperanda é apresentada ao conjunto de hábitos que regem a rotina da instituição, também nomeado de “metodologia apaqueana”. A partir dessa primeira ambientação, a nova acolhida é inserida nas atividades diárias, começando pela laborterapia – técnica de reeducação com base no valor do trabalho, que atualmente é a prática do crochê – e, se não tiver concluído o ensino básico, também é matriculada na escola que funciona dentro da Apac. Atualmente, são ofertados os ensinos fundamental e médio.

De acordo com os responsáveis pela associação, além do trabalho e do ensino, outra atividade que está entre as principais realizadas é o artesanato. Desse modo, as recuperandas aprendem técnicas de crochê e ponto cruz, produzem peças a partir do que aprenderam e as peças são vendidas. Além disso, a Apac oferece cursos profissionalizantes com o propósito de capacitar as mulheres para o trabalho. 

“Hoje nós temos vários cursos acontecendo na Apac. Temos cursos profissionalizantes na área de informática, na área de cabelo, maquiagem, estética, unha em gel, culinária, confeitaria. Então, hoje, a gente tem dado às recuperandas, além da oportunidade de voltarem ao estudo médio e inicial, o tempo aproveitado no cumprimento da pena. Para que elas possam estar se profissionalizando e, ao sair dali, tenham um emprego digno e não cometam nenhum tipo de crime, nada que possa desabonar sua conduta”, explicou Soyer.

Para realizar esses serviços, a unidade também conta com o apoio de voluntários e empresas locais. Tais empresas, inclusive, oferecem vagas de emprego para as recuperandas do regime semiaberto ou egressas.“A Apac, hoje, traz toda a sociedade para perto das recuperandas. É uma pessoa marginalizada pela sociedade que, com pouco tempo que está ali, já se sente acolhida pela sociedade”, acrescentou.

Como é ser uma recuperanda da Apac?

Em depoimento ao Diário do Rio Doce no ano passado, D.C., recuperanda acolhida na unidade desde 2015, contou sobre sua experiência e evolução pessoal ao longo dos anos e como o trabalho da associação ajudou no seu restabelecimento.

“Meu nome é D.C., tenho 32 anos e há sete me encontro na Apac GV. Aqui tenho recebido ajuda material, assistência médica, psicológica e social para me ajudar no meu crescimento como pessoa. Na Apac consegui terminar meus estudos na limitação do regime fechado. E, hoje, no semiaberto, almejo cursar minha faculdade, uma vez que já possuo direito ao trabalho externo. Vivi e vivo experiências fantásticas, onde consigo sempre perceber que não importa o que já fizemos, o importante é qual caminho desejamos trilhar. A Apac é uma família que me ajudou na reaproximação com meus familiares, me fazendo perceber o que realmente importa: nossa família, que é a base de nossos sonhos, pois ela nunca desiste de nós”.

Para mais informações sobre os trabalhos desenvolvidos pela Apac ou meios de se tornar um voluntário, entre em contato pelo telefone (33) 3277-2400.

“É de grande valia para toda a sociedade fazer uma visita para poder conhecer de perto o que é um sistema prisional que dá dignidade a seus recuperandos. Esta é a função da Apac”, concluiu o presidente.

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