Na Valadares de outrora, a cadeia era lugar de maus-tratos e muito sofrimento para os prisioneiros que ali chegavam. Ao adentrar naquele lugar não havia esperança, nem busca de um melhor conviver para os criminosos. As autoridades não confiavam que poderia haver reabilitação social e moral para aqueles apenados; criminosos que haviam causado muita dor e sofrimento às famílias que aqui viviam. Nunca imaginaram que poderiam oferecer uma atividade de transformação social, e que, se houvesse um incentivo de qualificação ao trabalho e de incentivo à leitura, poderiam mudar a história de vida daquelas criaturas amofinadas em celas sombrias.
Hoje, acreditamos que, levando a palavra e livros literários àqueles detentos, isolados em suas celas à mercê da solidão, estaremos reconduzindo-os aos sonhos perdidos, às lembranças que se aconchegam em suas almas e em seus corações, revivendo gestos fraternos vividos por eles.
Lendo, eles brincam de sonhar, põem-se a refletir sobre seus erros, sentem o arrependimento de fatos passados, impõem-se limites ao desalento e criam afetos em seus espíritos.
Visitando-os mensalmente passamos a entender que, para alguns, a leitura, com certeza, os levará ao mundo espiritual, despertando o sentimento de querer, fazendo nascer em seus corações as lágrimas da saudade e a esperança no futuro que os aguarda.
A Valadares de hoje evoluiu em relação aos criminosos do passado. O cadeião da Afonso Pena se transformou em um Centro Cultural. As grades da antiga cadeia hoje são estantes de livros. O cadeião foi substituído por penitenciárias, onde as bibliotecas são espaços de destaque e lazer entre os apenados. Os prisioneiros são tratados como pessoas humanas que erraram e têm o direito de se redimir dos erros cometidos.
Maria Cinira dos Santos Netto | Patrono: Euclides da Cunha