Queimadas podem levar animais silvestres à extinção e ao desequilíbrio ambiental, alerta bióloga do IFMG-GV

A ocorrência de queimadas tem trazido prejuízos a Governador Valadares e outras cidades da região Leste de Minas. Os focos de incêndio têm crescido devido à estiagem e à vegetação seca. Pior do que os prejuízos causados pelo fogo, muitos animais estão morrendo, outros estão migrando para os ambientes urbanos em busca de refúgio. O DRD conversou com a bióloga e professora da área de meio ambiente do IFMG (Campus Governador Valadares) Allynne Avylla Alves, que falou sobre os impactos das queimadas para o meio ambiente.

Segundo levantamento do Corpo de Bombeiros, em 2021, até o mês de julho, foram registradas 110 ocorrências de incêndios. De agosto a setembro foram 71 casos só em Governador Valadares. De forma geral, na região, foram 190 ocorrências de incêndios florestais.

Conforme a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, entre janeiro e setembro deste ano, o estado já ultrapassou a média histórica de ocorrências de incêndios florestais em Unidades de Conservação. São 534 registros este ano, contra 354 da média histórica, entre 2013 e 2020.

Segundo levantamento do Corpo de Bombeiros, em 2021, até o mês de julho, foram registradas 110 ocorrências de incêndios. De agosto a setembro foram 71 casos só em Governador Valadares  (Foto: Juninho Nogueira)

Impactos das queimadas

Nesta época do ano, de final do inverno, com altas temperaturas, com ventos fortes e baixa umidade do ar, a velocidade do fogo se torna incontrolável e perigosa quando se trata de queimadas. Qualquer fagulha pode se tornar um incêndio com enormes proporções, pois o fogo é levado pelo vento, atingindo propriedades rurais e chegando às unidades de conservação, por exemplo. Para piorar, a ocorrência de incêndios florestais pode causar um desequilíbrio ambiental, que, a longo prazo, leva espécies da fauna e da flora à extinção.

Allynne Avylla Alves é bióloga e professora no IFMG (Campus GV) das disciplinas de Ecologia e Biodiversidade, Proteção Ambiental, Gestão de Áreas Verdes e Unidades de Conservação, Recuperação de Áreas Degradadas. Segundo ela, os incêndios florestais alteram o ecossistema dos animais, que migram para outras áreas em busca de habitats.

“Imagine a situação: você foge da sua casa porque ela está em chamas, não há mais comida, água, e na fuga há risco de morrer incendiado. Muitas espécies que estão em risco de extinção podem ter seu processo acelerado devido ao impacto das queimadas. Esses impactos podem ocasionar variações na disponibilidade e na qualidade do alimento e mudanças nas estruturas dos habitats, como a destruição dos locais de abrigo para a reprodução, proteção e descanso. Os animais em contato com o fogo podem apresentar queimaduras, intoxicações e morte. O incêndio pode causar eliminação de todos os indivíduos da população, ou a redução da população abaixo de seu tamanho mínimo crítico, podendo levar a estado de extinção”, afirmou.

A bióloga e professora da área de meio ambiente do IFMG (Campus Governador Valadares) Allynne Avylla Alves detalhou os impactos das queimadas no meio ambiente (Foto: Arquivo Pessoal)

Allynne citou o “Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção de 2018”, da Fundação Chico Mendes – ICMBio, que indica os critérios para a categorização do risco de extinção e a classificação do risco de extinção de diversas espécies animais. “Conforme o Livro Vermelho, são consideradas espécies ameaçadas, de acordo com a Portaria MMA nº 43/2014, as espécies categorizadas como Vulnerável (VU), Em Perigo (EN), Criticamente em Perigo (CR) e Extintas na Natureza (EW). Espécies endêmicas, ou seja, próprias somente daquela região, que não conseguem fugir e/ou adaptar-se após o incêndio florestal, podem ser extintas. Algumas espécies que apresentam pouca variedade alimentar podem ser extintas após toda a fonte alimentar estar queimada”, acrescentou.

Migração de animas silvestres para áreas urbanas em busca de refúgio

É comum, durante o período de queimadas, a presença de animais fugindo para áreas urbanas em busca de sobrevivência ou de alimentação. “Um animal que faz seu ninho no mesmo lugar pode não encontrar o ambiente adequado para fazer um novo ninho. Esses animais que fogem de incêndios florestais, quando chegam à zona urbana, sentem sede, fome e acabam sendo vítimas de atropelamento, choques elétricos, ataques de animais domésticos e maus-tratos de humanos, além do risco de transmissão de zoonoses (eles podem ser contaminados por animais domésticos/homem e vice-versa).”

“A falta de controle dos incêndios florestais tende a aumentar a probabilidade de extinção e diminuição da variedade das espécies em um dado território. Exemplos de animais que apresentam-se ameaçados de extinção, classe Vunerável, devido aos incêndios florestais, são o tamanduá-bandeira e o ouriço-preto”

Allynne Avylla Alves, bióloga

A bióloga ressalta que a maioria dos incêndios acontece de forma criminosa, e acrescenta a necessidade de mais educação ambiental. “O incêndio florestal pode apresentar diversas causas, dentre elas a ação do homem. Esta ação pode ser criminosa, acidental ou inesperada. As principais causas relacionadas são incendiários, queimada agrícola ou florestal, caçadores, pescadores, turistas e estradas. É necessário investimento em tecnologia para facilitar a identificação dos culpados e haver mais punição. No entanto, talvez não seja possível identificar todos os culpados. A melhor forma de combate aos incêndios florestais é a prevenção, e ela se inicia com a educação ambiental. A educação é uma medida de longo prazo, mas efetiva, e deve ser a primeira iniciativa para prevenir incêndios florestais e para a conservação ambiental. A população deve ser sensibilizada para a importância das florestas e dos prejuízos que os incêndios florestais podem causar”, alertou.

O incêndio florestal é considerado crime ambiental previsto no artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais (9.605), de 1998. A pena de reclusão varia de 2 a 4 anos, mais multa. 

Fora os incêndios causados de forma criminosa, existem outros fatores que levam a população a atear fogo. Queimadas nas áreas rurais são um exemplo. Isso ocorre historicamente, por ser o fogo considerado um instrumento de “limpeza”, usado para acabar com resíduos ou para renovar a pastagem de fazendas.

No entanto, é preciso ser feito da forma correta. Qualquer descontrole pode se transformar numa tragédia ambiental. “Os proprietários rurais devem ser sensibilizados para manter seus aceiros limpos, e os órgãos públicos competentes devem fiscalizar. Os aceiros, que são faixas de terra, de largura variável, sem cobertura vegetal viva ou morta, têm a função de quebrar a continuidade do material combustível e deter a propagação do fogo. Eles evitam que o incêndio tome grandes proporções. Podem ser construídos nas seguintes condições: ao longo das divisas, ao longo das estradas de acesso à área protegida, ao longo de áreas cultivadas, ao longo de áreas industriais, dentro de áreas florestadas, para facilitar o acesso em caso de incêndios, e em caso de incêndios florestais, para fazer o contrafogo. Para a construção de aceiro, o terreno deve ser trabalhado para retirar o material combustível da superfície. Os aceiros devem ser limpos periodicamente como medida de prevenção”, explicou Allynne.

A bióloga reforça a presença de mais planos de prevenção e combate a incêndios florestais, que promovem a integração das instituições, parceiros, colaboradores e outros nos trabalhos preventivos e otimizam os recursos disponíveis, com o intuito de potencializar as ações de combate aos incêndios florestais, buscando, dessa forma, evitar e minimizar os danos e prejuízos que o incêndio florestal possa causar ao meio ambiente e à população. “Atores como Polícia Militar de Meio Ambiente, Bombeiros, Prefeitura Municipal, empresas, ONGs, brigadas efetivas e voluntárias e outros contribuintes podem ser mobilizados em momentos de incêndios florestais”, ressaltou.

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