[the_ad id="288653"]

Pesquisadora valadarense avalia o cenário da migração na pandemia

Começou nesta quarta-feira (16) a terceira edição do Seminário do Observatório de Migrações Internacionais do Estado de Minas Gerais (OB Minas), organizado pela Univale, em Governador Valadares. O seminário tem como objetivo discutir e avaliar o cenário atual da migração internacional que tem como destino, partida e trânsito o Brasil. Dentre os vários especialistas de diferentes universidades e grupos de pesquisa do Brasil e do exterior, referências nos estudos de migração, destaque para a pesquisadora valadarense Sueli Siqueira, que neste ano coordena os debates.

Em entrevista ao DRD, Sueli falou sobre o cenário da migração de valadarenses que ainda buscam a realização do “sonho” de ir para os Estados Unidos.

Neste ano, a Univale foi escolhida para ser sede do seminário. Porém, devido à pandemia do novo coronavírus, o evento é realizado em formato virtual. O seminário está sendo transmitido no canal da Univale no YouTube. Nesta quarta-feira (16), os debates foram sobre “Brasileiros pelo mundo em tempos de pandemia: análises e histórias”. Amanhã, dia 17, será o encerramento dos debates, com mais temas importantes, como “A pandemia como obstáculo à migração segura, ordenada e regular”, “Imigração e Direitos Humanos: o acolhimento e a garantia de direitos” e “Plano Estadual de Políticas para refugiados, migrantes e apátridas de Minas Gerais”.

Cada sessão é composta por uma mesa-redonda formada por especialistas do tema em tela e, em um segundo momento, pela apresentação de trabalhos escolhidos pelo comitê científico formado por representantes das entidades que compõem o OBMinas. 

Governador Valadares e a cultura da emigração em tempos de pandemia

A migração faz parte da história de Governador Valadares e já foi objeto de diversos estudos com o intuito de compreender suas causas e consequências. Dentre os pesquisadores que se propõem a olhar mais de perto para esse fenômeno, destaca-se a renomada pesquisadora Sueli Siqueira, pós-doutorada, autora de várias obras sobre migração.

Em entrevista ao DRD, Sueli explicou como os debates vão aprofundar os fluxos migratórios na pandemia. “Os debates vão analisar os cenários, tanto a saída de brasileiros quanto a entrada de estrangeiros neste cenário da pandemia. Reúne professores de universidades nacionais e de outros países. Os palestrantes são pesquisadores e estudiosos do fenômeno migratório”, disse.

Professora Sueli Siqueira coordena o seminário

De acordo com a pesquisadora, a cultura da migração dos moradores de Governador Valadares para os Estados Unidos teve início na década de 1960. Depois, começaram a se mudar para outros países da Europa, sempre motivados pela busca de uma “vida melhor”. “A região Leste de Minas Gerais tem um histórico de emigração para os Estados Unidos que começa nos anos 60. Não era uma característica do Brasil essa mobilidade, mas começou exatamente aqui, em Governador Valadares, e na região Nordeste. Já são mais de 50 anos de fluxo migratório e com situações que aumentam e diminuem o fluxo em determinados períodos e épocas. O que determina essa redução ou aumento de brasileiros que decidem ir para outro país são as condições locais e as condições do destino. Quando você tem um grande atrativo do destino, usando o exemplo de valadarenses que vão para os Estados Unidos, você percebe que o fluxo cresce; quando o atrativo é em território nacional, esse fluxo tende a diminuir. Pode notar, por exemplo, que no período da crise imobiliária nos Estados Unidos você percebia um retorno muito grande de brasileiros, pois a economia no Brasil estava melhor”, disse.

O surgimento da pandemia de covid-19 trouxe novos desafios para o acesso a outros países. Mesmo assim, Sueli acredita que a situação econômica é ainda a principal impulsionadora na saída de brasileiros em busca de melhores condições de vida. 

“A pandemia vai criar, sim, algumas dificuldades. Mas, mesmo assim, é impressionante como aumentou o percentual de brasileiros passando pela fronteira do México para os EUA de forma indocumentada. É um aumento significativo e ao mesmo tempo assustador em tempos de pandemia. Eles partem em busca desse “sonho”, porque essa ideia de que lá [Estados Unidos] é melhor do que aqui é fertilizada por brasileiros que já estão lá. Mas eles não comentam as dificuldades e condições exaustivas de trabalho e o risco que se corre na fronteira. Alimentam a crença de que morando nos Estados Unidos as coisas melhoram, o que, na verdade, nem sempre acontece”, afirmou.

Sueli Siqueira

É importante ressaltar que a maior parte dos brasileiros que tentam entrar de forma indocumentada ainda investe fortunas para arriscar a vida na travessia da fronteira que divide o México e os Estados Unidos. “Já entrevistei várias famílias que pagaram valores de 23 mil a 45 mil reais para tentar entrar de forma indocumentada. Eram pessoas que tinham bens e ainda pegaram dinheiro emprestado com parentes. Sempre me perguntam por que os brasileiros fazem isso. Fazem com a expectativa de que a vida lá é melhor, o que muitas vezes não se realiza”, esclarece a pesquisadora.

Deportações no governo Joe Biden

Sueli também falou sobre os recentes casos de deportações de brasileiros dos Estados Unidos, a maioria de Minas Gerais. “As deportações sempre existiram, seja no governo republicano ou democrata. Desde a década de 60 elas acontecem. O que aconteceu é que, em sua campanha eleitoral, Donald Trump tratava a figura do imigrante como um sujeito indesejável, dizia sobre essas coisas. O atual presidente, Joe Biden, não usa esse discurso, apesar de que ele nunca disse que as portas estariam sempre abertas. Só garantiu tratamento humanitário para o imigrante. Isso é um dever de todo estado. Portanto, mudou de governo, mas não mudou a legislação da imigração”, explicou.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM