Dinheiro, muito dinheiro. Essa é a razão para a chamada onda de alegria Joe Biden no mercado financeiro. Até aí nenhuma novidade; afinal de contas, o mercado é financeiro e, obviamente, serve é pra ganhar dinheiro mesmo, não para uma vaga no paraíso. Não é? Parece óbvio, mas alguns confundem. Dessa forma, se considerar que entender o mundo é importante, entender o caminho que leva desde a atual situação política norte americana ao engordamento dos cofrinhos dos investidores neste início de ano será primordial para sua saúde financeira.
A descrição do fenômeno é simples. No mercado financeiro, os papéis se valorizaram quando os investidores perceberam que os democratas teriam maioria na Câmara dos Representantes e no Senado dos Estados Unidos, somando ao governo democrata o presidente eleito Joe Biden. As três maiores fontes de poder daquele país estarão nas mãos de apenas um partido. Desse fato, pode-se descrever algumas de várias razões para explicar a relação “democratas no poder com alegria”, pelo menos por alguns anos dos rentistas da bolsa de valores.
Primeiro, os caras gostam de estado, de investir, de gastar, de fazer guerra, de políticas de assistencialismo, e por aí vai. A política do Partido Democrata é conhecida por ser adepta da teoria de que o Estado é um agente que promove o bem-estar social, o conhecido “welfare state”. Com as torneiras de dinheiro púbico jorrando, mais recursos circulando, as empresas lucram consequentemente mais. Em consequência, os investidores da bolsa ganham mais moedinhas para encherem seus cofrinhos.
Segundo, como dinheiro não nasce em árvore… o governo Democrata precisará se financiar de duas formas: ou aumentando impostos, o que não é provável, ou pegando empréstimos. De quem? Dos investidores. Mais dinheiro circulando, mais pressão inflacionária, juros mais altos. Ou seja, já podem aumentar os bolsos, pois eles se encherão rapidamente. O investidor, que de bobo não tem nada, já percebeu isso.
Terceiro, a política de Biden é mais simpática a Pequim. A guerra comercial entre Estados Unidos e China deve ter uma boa trégua e o mundo pode voltar a crescer. Mais comércio mundial significa mais trocas de bens e valores. O que por si já é um receita de crescimento. Realidade que valorizará, naturalmente, as empresas.
Essas, entre outras causas, a curto prazo, significa melhores condições para as empresas terem lucros, o que explica a atual onda de valorização dos papéis. Mas nem tudo é festa. Cedo ou tarde, o mercado cobra a conta e, quando isso ocorre, normalmente vem em forma de recessão e necessidade de aumentar impostos para a população. Parece uma receita de bolo: populismo seguindo de crescimento econômico, crise, recessão, aumento de impostos. Só que esse bolo aqui é sempre amargo. A alegria momentânea pode resultar em uma grande ressaca.
• Ricardo Dias é bacharel em direito e policial militar em Governador Valadares
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