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Mineiro que estava em voo com deportados fala sobre 41 dias na prisão

“Me alimentaram apenas de burrito e água misturada com remédio para trancar o intestino”

Com apenas 19 anos de idade, um mineiro do interior de Minas Gerais estava no segundo voo fretado pela administração Biden com brasileiros deportados. Ele, que será identificado por JS, para evitar represálias ou constrangimento, conversou com a redação do Brazilian Times, com exclusividade, e relatou parte da sua aventura, desde o momento em que decidiu se aventurar na travessia da fronteira do México com os Estados Unidos.

Ele disse que sempre foi um sonho morar nos EUA, assim como milhões de brasileiros, e já teve oportunidades no passado, mas não havia ainda se sentido motivado, principalmente pela tenra idade. “O motivo da minha ida, agora, foi pela necessidade de um trabalho e uma renda que pudesse me ajudar a construir um futuro”, disse ele, ressaltando que a pandemia da covid-19 complicou a vida dos brasileiros.

De acordo com JS, o contrabandista de pessoas cobrou US $14 mil, mas este valor só seria pago depois que ele entrasse nos EUA.

JS relata foram cinco dias do momento em que saiu de sua terra natal até chegar à fronteira. Ele conta que saiu de sua casa em uma terça-feira e seguiu para São Paulo, onde ficou hospedado em um hotel. No dia seguinte foi colocado em um avião com destino à Cidade do México. “Quando cheguei lá, fui levado para um hotel, onde dormi, e no dia seguinte fui, de avião, até Tijuana.”

Quando ele chegou à Tijuana, foi colocado em um táxi e levado para a cidade de Mexicali, onde teve acesso à fronteira. Mas foi nesta parte da viagem que ele foi preso.

JS lembra que foi preso por dois agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês) por volta das 4:00 a.m. do quinto dia de viagem. Ele foi levado, em camburão, até a beira de um rio onde os oficiais aguardaram a chegada de outro veículo para fazer a transferência do mineiro, que foi levado a um centro de detenção na cidade de El Centro, Califórnia.

O mineiro ficou em uma cela com capacidade para 30 pessoas, mas havia mais de 100 detidos no local. “O lugar era climatizado com ar condicionado, mas a situação de conforto não existia em nenhum momento. A maioria dos detidos era brasileira e uma pequena parte cubana. Na minha cela havia cerca de 90 brasileiros e em todo o centro estimo uns 400”, disse.

“Para dormirmos, era nos dado um cobertor de alumínio e nos dividíamos em três para que um dormisse no chão, outro no banco e outro ficava em pé”, lembra. “Nos revezávamos a cada duas horas para que todos pudessem dormir”, continua.

Em relação à alimentação, os detentos recebiam burritos em horários marcados. De acordo com o mineiro, um era servido às 02:00 a.m., outro às 08:00 a.m., outro às 02:00 p.m. e um às 10:00 p.m. “Às 4:00 p.m eles nos davam uma barra de cereal pequena que tinha apenas 100 calorias”, disse. “Com esta alimentação, o que nos restava era beber água, porém, eles nos forneciam água com muita mistura de remédios, que trancavam o nosso intestino e não conseguíamos evacuar, e dificultava a liberação da urina”, continuou.

De acordo com JS, todos os dias, por volta das 10:00 a.m., os detentos tinham que sair da cela para que fosse feita a limpeza. “Nesse período, que raramente passava de cinco minutos diários, íamos para um espaço ao ar livre, mas cercado com concertina nas telas”, continua.

Ele disse que foi a pior experiência de sua vida e que entre os piores momentos que se lembra estão o tratamento desumano. “Em nenhum momento eles nos agrediram ou apontaram armas ou coisas desse tipo, mas destruíam o nosso psicológico sempre que tinham oportunidade”, denuncia.

Após 11 dias neste centro, o mineiro foi transferido para uma prisão em Louisiana com a promessa de que teria uma oportunidade de uma entrevista e, posteriormente, audiência com um juiz de imigração. Mas não foi isso que aconteceu e ele entrou em processo de deportação.

“Pelo fato de não dominar bem o idioma inglês, só soube que seria deportado quando fui revistado por uma agente que falava espanhol, já no aeroporto, onde eu aguardava por horas o avião”, disse ele. Nessa altura da história, o mineiro já estava detido havia 48 dias.

APRENDIZADO

JS disse que tudo o que passou serviu para que ele amadurece como ser humano e que visse o mundo de maneira diferente. “Pelo fato de o Brasil ser um país rico de recursos minerais, entre outros, penso que isso deveria ser diferente. Nosso país tem condições de fornecer oportunidade para que nós e outros sintamos vontade de ingressar ou ficar nele para trabalhar e obter uma boa renda, e não nós, brasileiros, termos que arriscar a nossa vida em busca de trabalho em outro país. O conselho que eu dou não é para desanimar ninguém que também tem vontade de se arriscar; porém, digo para nunca se esquecerem de pedir a Deus a proteção, pois todos sabemos o quão arriscado se tornou essa travessia. Graças a Deus eu fui e retornei com vida e saúde para os meus familiares e amigos. Entretanto, são muitos os casos de pessoas que vão em busca desse sonho com suas próprias pernas e voltam em um caixão. Um aprendizado que trago pra vida é de que não há dinheiro no mundo que pague estar aqui. Sentir o agir de Deus em sua vida nos momentos de dificuldade e angústia; estar e falar com seus familiares e amigos e estar livre não têm preço”, finalizou. (Fonte: Brazilian Times)

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