Mais 12 mortes: com obras do Hospital Regional paralisadas, hospitais em Valadares vivem cenário de guerra

Com as obras ainda paradas, o hospital poderia aliviar atendimento na pandemia em Valadares e mais 86 municípios da macrorregião Leste

Governador Valadares vive seu pior momento na pandemia do novo coronavírus. Não há mais vagas de leitos de UTI Covid disponíveis no SUS e nem na rede privada. Só nesta terça feira (23) foram confirmadas mais 12 mortes no município. Já são 662 óbitos e 18.126 casos confirmados, sendo que 16.941 pessoas estão curadas.

Enquanto isso, as obras do Hospital Regional, localizado próximo à BR-116, saída para Teófilo Otoni, seguem inacabadas e longe de ser retomadas. O DRD esteve no local da obra nesta terça-feira (23). O que se pode ver é um local completamente deserto.

Hospital Regional, localizado próximo às BR-116, saída para Teófilo Otoni – FOTO: Eduardo Lima

Em abril de 2020, o governador Romeu Zema anunciou a retomada das obras, após cinco anos de paralisação, durante videoconferência realizada com deputados federais e estaduais, representantes da região do Vale do Rio Doce. Os recursos para o término das obras, no valor de R$ 78 milhões, são oriundos da Fundação Renova. Esse dinheiro, inclusive, já está na conta do Estado.

Após a conclusão das obras, o Hospital Regional deverá oferecer 265 leitos, sendo 176 de enfermaria, 39 de urgência e emergência e 50 leitos de UTI, além de nove salas de cirurgia.

Atraso que mata

As obras do Hospital Regional de Governador Valadares começaram em 2013, pela empresa Consórcio Socienge Engeform, e tinham término previsto para setembro de 2015, durante a gestão de Antônio Anastasia (PSDB). No último mês do governo, em dezembro de 2014, mais de 75% das obras já estavam concluídas (período de 21 meses). Porém, no governo de Fernando Pimentel (PT), os trabalhos não tiveram sequência. Em fevereiro de 2015 veio a determinação para que as obras foram paralisadas.

Hoje a obra ainda está paralisada. Apenas seguranças vigiam o local, para evitar furtos de fiações elétricas e outros materiais. A equipe de reportagem do DRD não teve autorização para acessar o complexo. Visivelmente, a obra está praticamente finalizada. Pelo lado de fora, muita sujeira e mato.

Acesso para entrada no hospital é restrito – FOTO: Eduardo Lima

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (SES MG), o Governo de Minas, por meio do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), havia publicado aviso de licitação para a conclusão das obras do Hospital Regional.

Na licitação está prevista, para a conclusão da obra, a construção de uma portaria, reservatórios subterrâneos, rampa de acesso, conclusão das subestações, casas de gases medicinais, cabine de medição e casa de geradores, além de todo o acabamento dos blocos. Também estão previstas a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE); instalações elétricas e de proteção de combate a incêndio nos blocos C e D; instalações hidrossanitárias de ligações nas áreas externas; ligações de esgoto sanitário nas áreas externas; instalações de climatização/ventilação, principalmente com redes de dutos; paisagismo; comunicação visual, entre outros. No entanto, as obras não começaram.

Enquanto isso, Valadares vive o drama da falta de leitos de UTI para tratamento de covid. Antes mesmo da pandemia, o drama era o mesmo no Pronto Socorro para atender toda uma demanda de mais de 50 municípios da região.

A situação não é apenas em Governador Valadares. Ao todo, 10 hospitais regionais estão com as obras inacabadas no estado. Em Divinópolis, Sete Lagoas, Teófilo Otoni e Conselheiro Lafaiete, por exemplo, ainda não foram retomadas as obras. Regiões que sofrem com muitos casos de covid, demandando exames e tendo de transferir pacientes para outras cidades, poderiam ter essa retaguarda, não fosse a morosidade do governo.

Cobrança das autoridades

A conclusão da obra do Hospital Regional tem sido pauta de reivindicações do prefeito André Merlo (PSDB), diante do benefício que ele representa para toda a região e do quanto já foi investido na sua construção. Entretanto, a gestão da obra é responsabilidade do Governo do Estado de Minas Gerais.

“Esperamos que o governador Romeu Zema reconheça tamanha necessidade dessa obra não só para Valadares, mas para toda a região, e a reinicie o quanto antes”, declarou André Merlo.

O presidente da Câmara Municipal de Valadares, vereador Regino Cruz, afirmou que o Hospital poderá auxiliar no atendimento à população. “O Hospital Regional de Governador Valadares é um desejo de todos nós. Que as obras possam ser concluídas o mais rápido possível, pois ele irá amenizar o nosso sofrimento nestes tempos de pandemia. Em Nota Oficial do Poder Legislativo, reiteremos ao Governo do Estado a necessidade de concluir o Hospital Regional, que atende toda a região Leste de Minas. Iremos cobrar essa obra insistentemente”, disse Regino.

O deputado Federal Leonardo Monteiro (PT) culpou o atual governo pela morosidade na entrega do hospital. “Desde 2019 venho cobrando do governo a conclusão dessa obra. Quando começou a pandemia, a justificativa era que não tinha dinheiro. Agora esse dinheiro chegou via Vale, através da Fundação Renova, e já está depositado na conta do Estado. Ali são mais de 200 leitos. Hoje nós não temos um leito sequer disponível em Valadares. Talvez, se esse hospital estivesse pronto, estaria ajudando no combate à pandemia. O que não pode acontecer é as pessoas continuarem morrendo e um hospital parado”, disse.

O deputado acrescentou que, mesmo inacabado, o espaço do hospital poderia ser aproveitado para tratamento de doentes. “Nesse sentido, considerando, como já dito, que uma das principais medidas de enfrentamento ao coronavírus seja o isolamento dos doentes, sugiro ao governador a utilização do prédio do futuro Hospital Regional como espaço de tratamento e isolamento dos doentes, ainda que em caráter provisório. Várias outras cidades têm promovido a construção de espaços de emergência para atitude semelhante, como a construção de hospitais de campanha no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e no Estádio Pacaembu, em São Paulo. Temos a estrutura física de um grande Hospital Regional, com mais de 90% das obras concluídas”, destacou.

O deputado federal Hercílio Coelho Diniz (MDB) afirma que a conclusão da obra é ainda mais urgente e necessária neste período de pandemia, por isso tem cobrado celeridade no processo. “Nós entendemos que o Hospital Regional de Valadares é uma das demandas mais importantes da nossa região, e desde o início do mandato estamos em busca de uma solução para o término das obras, junto à Renova, ao Governo do Estado e também ao Governo Federal. Agora, com a crise de saúde pública causada pela pandemia, nossa cobrança tem sido ainda maior. Recentemente, participamos de uma reunião, em Belo Horizonte, com o juiz federal da 12ª Vara, Dr. Mário, juntamente com o prefeito André, com o vice-prefeito David e o procurador-geral do Município, Elias Souto, para reforçar a necessidade do Hospital e para que a obra seja retomada imediatamente. Também, na sexta-feira, 20, nos reunimos, no Governo de Minas, com o secretário de Estado de Saúde, Dr. Fábio Baccheretti, com a deputada Celise Laviola, com o prefeito André Merlo e a secretária municipal de Saúde, Carol Sangali, para pedir celeridade no processo, a fim de que Valadares possa ter condições de dar suporte aos municípios da região no enfrentamento à covid-19. Não podemos permitir que uma obra tão necessária fique parada, presa a processos licitatórios e burocracias, principalmente quando as pessoas mais precisam”, declarou.

Imagens gravadas hoje, terça-feira (23), na entrada de acesso ao hospital.

Imagens: Eduardo Lima

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