GOVERNADOR VALADARES – O professor e quadrinista João Marcos Mendonça lança, no próximo sábado (8), às 16 horas, no Teatro Atiaia, em Governador Valadares, a HQ “Doce Amargo”, publicada pela Editora Nemo (Grupo Autêntica). A obra reconstrói, em linguagem sensível e poética, o colapso vivido pelos moradores da cidade após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, que completa dez anos em 2025.
Em 5 de novembro de 2015, o Brasil presenciou um de seus maiores desastres ambientais: o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. A estrutura da mineradora Samarco despejou 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos que avançaram em forma de lama tóxica por 660 quilômetros do Rio Doce. No percurso, 38 municípios foram atingidos, comunidades inteiras desapareceram, vidas foram perdidas e um ecossistema foi devastado, até que a lama alcançou a foz do rio, no Espírito Santo, e chegou ao oceano Atlântico.
Entre as cidades mais impactadas estava Governador Valadares, que teve o abastecimento de água completamente interrompido. Morador da cidade, João Marcos decidiu transformar sua experiência pessoal e familiar em um relato gráfico que mistura memória, denúncia e humanidade.
“Me interessou contar essa história sob a perspectiva humanizada, do ponto de vista ordinário. De pessoas que tiveram suas rotinas impactadas em situações absolutamente comuns, como tomar água ou um banho. E também, principalmente, para que essa história não fosse esquecida – pois isso também acontece com o passar dos anos. Relembrar esta tragédia agora que ela completa 10 anos é um passo importante nesse sentido”, afirma o autor.
A HQ acompanha o primeiro ano após o desastre: o medo diante da falta de água, as filas por galões, os boatos que se espalhavam mais rápido que as informações oficiais e a sensação de abandono diante das promessas não cumpridas. Em meio ao caos, surgem também gestos de solidariedade, conversas de vizinhos e cenas cotidianas que ganham novo sentido.
Com traço sensível e narrativa precisa, João Marcos constrói em Doce Amargo um testemunho gráfico que é, ao mesmo tempo, denúncia e memória. O professor Hernani Santana, autor do prefácio, escreve que “Doce Amargo não nasce só da mão do artista. Ele nasce do encontro, da escuta e do amor que resiste”, ressaltando que a HQ reconstrói a memória da tragédia e rompe com as versões oficiais.
As cores, assinadas por Marianne Gusmão, traduzem com sensibilidade os sentimentos que atravessam a narrativa, utilizando a lama de rejeitos de minério de ferro a artista acompanha as variações de tons emocionais da história, reforçando sua densidade dramática e o profundo impacto humano da tragédia.
João Marcos Mendonça
João Marcos Mendonça, nascido em Ipatinga, é mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vale do Rio Doce (Univale). Autor de mais de 15 livros em quadrinhos infantis publicados por diversas editoras, acumula reconhecimentos importantes, como o prêmio Cátedra 10 UNESCO de Leitura (PUC-Rio).
Em 2024, foi um dos artistas convidados do Batman Day, promovido pela DC Comics em celebração aos 85 anos do personagem. Além de quadrinista, atua como ilustrador e pesquisador sobre o uso das HQs na educação – tema que lhe rendeu o Troféu HQ Mix e deu origem a diversas publicações teóricas.
João Marcos Mendonça também ministra palestras e oficinas em instituições de ensino, eventos literários e festivais de quadrinhos no Brasil e no exterior. É criador da série de tiras “Escola de Passarinhos”, publicada no Instagram, que aborda o cotidiano escolar com humor e sensibilidade e inspirou a criação de uma startup de mídia.











