Fechamento de lojas preocupa os valadarenses

O comércio varejista da área central da cidade é uma das atividades que mais passam por rotatividade, mas sempre que uma loja se fecha, pouco tempo depois abre-se uma nova no mesmo local

A grande discussão é sobre o desaparecimento de várias lojas tradicionais e sobre o que está acontecendo com o comércio de Governador Valadares

A grande discussão atualmente em Governador Valadares é sobre as transformações que vêm ocorrendo no comércio da cidade. Vários estabelecimentos comerciais estão encerrando suas atividades, enquanto outros estão chegando, e muitas das vezes ocupando os mesmos espaços que foram desocupados. Aliás, essa sempre foi uma constante na cidade e mostra que o município, por ser polo regional, absorve com facilidade as novas opções de produtos e marcas que chegam, apesar de lamentar a extinção de lojas até cinquentenárias.

Antes de lamentar as “perdas” é preciso observar que os consumidores estão sempre mudando seus costumes e suas preferências, principalmente porque a cidade tem um grande fluxo de jovens nativos ou de várias outras cidades que aqui vêm para estudar, seja no ensino médio ou no superior. Outro fator que tem que ser lembrado é o grande número de valadarenses que já moraram em outros países, principalmente nos Estados Unidos, Canadá, Portugal e ou países da Europa, que chegam com um novo tipo de comportamento de consumo.

Portanto, quem não se moderniza se perde no tempo e acaba perdendo espaço no mercado. É preciso lembrar também que o comércio virtual se tornou um forte concorrente invisível, oferecendo produtos de qualidade comprovada e preços bem competitivos. A inovação é a palavra de ordem na atualidade, e observa-se que é esse o momento que a cidade está vivenciando.

Para fazer uma análise sobre o tema, o DIÁRIO DO RIO DOCE entrevistou a secretária municipal de Planejamento, a economista e doutora em Gestão Zenólia M. de Almeida, que não vê uma crise pontual, mas um movimento natural do mercado.

Zenólia Almeida sugere precaução ao replicar notícias das redes sociais que não condizem com a realidade

DRD — Como a senhora define esses comentários nas redes sociais, de que a cidade está em decadência devido a essas mudanças no comércio?

Zenólia: As redes sociais são uma bênção e uma maldição. Assim como nos colocam em dia com as informações, também contribuem para ecoar notícias sem lastro de veracidade. Estou falando isso porque recebi esta semana um rol de empresas que “fecharam as portas”; algumas de nossa cidade, outras não. A lista termina com a seguinte afirmativa: “GV não tá fácil não! A cidade vai morrer!” O pior é que as pessoas replicam sem sequer analisar a veracidade do conteúdo.

DRD — Como a senhora vê essa transição?

Zenólia — O capitalismo é um sistema econômico que visa ao lucro e à acumulação de riquezas. Está baseado na propriedade privada dos meios de produção (capital e terra), que têm a função de gerar renda, por meio do trabalho. Por ser um processo dinâmico, o sistema capitalista é marcado por ciclos de crescimento, crise, estagnação e recessão que, tal como ondas, atingem todo o sistema. A economia valadarense é um microuniverso da economia brasileira, que, por sua vez, repercute a economia global. Tudo o que acontece (de bom ou de mau) no macrouniverso se repete com intensidade relativa em nossa cidade. O PIB (conjunto de riquezas produzidas em um país no período de um ano) do Brasil está estagnado no patamar de 2012. O que dizer de Governador Valadares?

DRD — Então, o que está acontecendo em Valadares não é diferente em outras cidades de seu porte?

Zenólia — Basta perguntar: qual cidade brasileira não está vivendo a crise que se espraiou por toda a economia brasileira, especialmente a partir de meados de 2014, que levou ao encolhimento de 3,8% no PIB de 2015, tornando-se a maior recessão desde 1990 (Governo Collor)? No ano seguinte (2016), o PIB teve outra forte queda, acentuando os graves efeitos da pior recessão da história, após a década de 30.

DRD — E qual a consequência que se vê em Governador Valadares?

Zenólia — As consequências para Governador Valadares, uma cidade baseada em comércio e serviços, de renda per capita da ordem de 1,5 salário mínimo, são sentidas no desemprego, no empobrecimento da população e no endividamento das famílias. Esses impactos criam um círculo vicioso para a economia local, reduzindo a propensão e a capacidade de consumo das famílias. A título de exemplo: Valadares gerou pouco mais de 10 mil empregos entre 2007-2014, mas, nos anos de recessão que o país atravessou (2015-2017), quase 60% dessas vagas foram perdidas. Ademais, a crise financeira do Governo do Estado de Minas Gerais reduziu o volume de recursos disponíveis para o Município, agravando ainda mais o quadro.

DRD — A gente vê que, apesar da crise, a cidade segue caminhando. O que tem sido feito para contrapor essa situação?

Zenólia — Concluo afirmando que, apesar da evidente crise, Governador Valadares apresenta uma boa oferta de serviços em várias áreas, com destaque para educação e saúde. Nosso comércio é diversificado na oferta de bens e atrai pessoas da microrregião. Somos servidos por vários modais de infraestrutura logística, além de excelente e estratégica localização. A construção de um novo terminal de passageiros no Aeroporto Coronel Altino Machado (1º no Brasil a utilizar a moderna plataforma BIM) representa um ganho para a infraestrutura econômica, enquanto porta de entrada de pessoas e investimentos. Críticas são bem-vindas, desde que possam contribuir, de forma positiva. Antes de partilhar informações, é bom lembrar o antigo conselho de um sábio. Reflita: O que você vai contar é verdade? Vai ajudar alguém? Acha mesmo necessário passar adiante essa história?

por Raimundo Santana | Editor-chefe

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