Ao chegar à humilde mas aconchegante casa da moradora mais antiga do pico da Ibituruna, a recepção não poderia ser mais sugestiva. Um beija-flor “passeava” em meio às flores cultivadas na entrada da casa de Florinda Rosa do Carmo, a dona Flor. Com seus 89 anos bem vividos, ela garante, junto com uma prima que mora em outra região do pico, ser a moradora mais antiga da região.
Dona Flor teve nove filhos, sendo sete mulheres e dois homens, que teve que cuidar praticamente sozinha a vida inteira, já que o marido morreu quando ainda era nova. Dos nove filhos, apenas um dos homens não está mais vivo. Cinco dessas filhas também moram no pico da Ibituruna, em casas ao longo do que moradores e frequentadores da região conhecem por Vila Dona Flor. “Netos eu nem lembro quantos. São tantos! E já tem até alguns bisnetos também”, disse ela, que também desconversou sobre o nome dado ao local. Segundo ela, a região, na verdade, chama-se Córrego da Cabeceira do Brejaúba.
Mesmo rodeada pelos filhos, dona Flor mora sozinha, em meio à natureza e vivendo uma vida simples, mas que muita gente daria tudo para ter. “Não troco isso aqui por nada. Podem me oferecer qualquer coisa lá embaixo que eu prefiro ficar aqui. Às vezes eu desço pra comprar alguma coisa, visitar algum parente ou amigo, mas tem vez que fico doida pra voltar logo”, disse.
Apesar dos 89 anos, dona Flor afirma que ainda visita as filhas constantemente pelo pico. “Eu ainda enxergo bem e ando melhor ainda. Sempre vou às casas de minhas filhas a pé. Tem dia que vou almoçar lá em cima ou mesmo visitar alguma delas”, comentou.
O transporte no pico também nunca foi problema. Segundo ela, quando não havia estradas, os moradores se locomoviam no lombo de animais. Hoje, o ônibus para quase na porta da casa dela. “Tem muita gente com carro por aqui pra poder levar e trazer a gente em casa, mas nem precisa. O ônibus para aqui na porta”, afirmou.
Talvez o único lamento de dona Flor seja a escassez de água. Segundo ela, as nascentes estão secando ou bem fracas. “Antigamente chovia sempre e hoje está mais difícil. Não é sempre que isso acontece. Quando a água falta, sempre tem alguém pra buscar lá na cidade”, explicou a moradora.
Dona Flor também gosta de receber visitas dos parentes e amigos que constantemente sobem o pico. “Vem até gente dos Estados Unidos aqui. Graças a Deus, as pessoas gostam muito daqui e é bom recebê-las. Sem falar nos netos e bisnetos que também vêm pra cá. Aqui é muito gostoso e eu não troco meu cantinho por nada”, concluiu.
Missas realizadas no cruzeiro
A estátua da santa que hoje guarda a cidade, Nossa Senhora das Graças, foi inaugurada em janeiro de 1963. Antes dela, segundo dona Flor, havia um cruzeiro no pico, onde vez ou outra um padre rezava alguma missa com a participação de moradores da região.
O início da instalação da santa foi em outubro de 1962. A primeira estrada do pico foi aberta somente para a instalação da estátua de 24 metros e 42 toneladas, que custou, à época, Cr$ 24 mil. Ela foi transportada dividida em quatro blocos, puxados por uma tropa de burros oferecida por um sitiante do bairro São Raimundo, um Jeep e uma Rural, veículos populares da época. A obra foi custeada por empresas e também por contribuições da população.