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Dia Internacional da Mulher: como é ser mulher em Governador Valadares?

Assédio e desigualdade são os principais temas levantados nas ruas; advogado ressalta que violência contra a mulher precisa ser combatida e debatida


Por Arthur Pimentel e Camila Fernandes

Neste domingo (8) é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Pelo mundo, a data é sempre marcada por comemorações e protestos, que relembram conquistas e levantam pautas de luta contra os diversos problemas que ainda atingem mulheres, em diferentes situações sociais e culturais. Em Governador Valadares, eventos já tradicionais, como a homenagem na Câmara dos Vereadores e as ações realizadas por órgãos da Prefeitura, marcam as comemorações da ocasião.

Mais do que uma data comemorativa, no entanto, o 8 de março se fortaleceu no decorrer dos anos como um momento de abertura para a reflexão sobre o ser mulher. Com a aproximação do dia, surgem questionamentos e levantamentos sobre a realidade da mulher no Brasil e no mundo. Pautas como violência, igualdade e inserção no mercado de trabalho são o centro dessas discussões.

Qual é a opinião das mulheres?

Para responder sobre “como é ser mulher em Valadares?”, nada melhor do que as próprias moradoras da cidade. Olha só o que elas disseram ao DIÁRIO DO RIO DOCE:

DESVALORIZAÇÃO NO TRABALHO

“Eu trabalhava em um posto de gasolina, era frentista. Chegou uma mulher e pediu pra eu chamar um homem para conferir a água e trocar o óleo do carro dela. Ela achou que eu não tinha capacidade de fazer aquilo. Nenhum dos meninos pôde vir e eu mesma fiz meu trabalho. Quando terminei, ela me disse que nunca viu uma mulher fazer aquilo. Ela disse que era serviço de homem, não de uma mulher.”

– Isabel Ferreira, 38 anos, auxiliar de limpeza


“No local de trabalho nós [mulheres] encontramos um pouco de preconceito. Aqui na loja, diversas vezes um cliente chega para fazer um reparo nos óculos e me pede para chamar o técnico. Aí eu digo: ‘Mas eu sou a técnica’. Por que as pessoas acham que tem que ser um homem para fazer esse trabalho? Então eu acho que tem um desmerecimento da mulher não só nessa, mas em várias outras áreas de trabalho. É como eu sempre digo: ‘Lugar de mulher é onde ela quer’.”

Ludimilla Costa, 33 anos, vendedora e técnica em ajuste de óculos

Ser mulher em nenhum lugar é fácil. Mas aqui em Valadares é muito complicado por causa do assédio. Toda hora que eu saio na rua sou cantada; é um saco isso. No meu curso não sofro com isso, porque a maioria dos alunos são mulheres, ainda bem. Mas na universidade, entres os alunos, eu vejo que rola uma desigualdade. A mulher sempre é colocada para baixo, né? No mercado de trabalho tem aquela coisa que a mulher é mais fraca ou menos competente que um homem. Mas o foco é seguir com causas que promovam a igualdade, como o feminismo tá aí para isso.”

Rafaela Lopes, 18 anos, estudante


ASSÉDIO NO TRABALHO

“Eu trabalho na rua e sempre tenho medo de algum homem chegar me desrespeitando, cantando, às vezes até tentando passar a mão, isso acontece direto. A gente fica desconfortável e insegura, porque eu sou mulher, frágil, e alguns homens vão chegando e se aproveitando disso. E eu trabalho na rua, né!”

Danielle Queiroga, 24 anos, promotora externa de vendas

Até na hora de contratar tem machismo. A gente que trabalha na rua chama mais ‘atenção’, de certa forma; por isso, contratam mais mulheres nessa área. Já reparou que não tem nenhum homem na rua gritando “CHIP DA OI!!”? E aí acontecem esses problemas do dia a dia; sempre chega um homem dando uma cantada, às vezes tenta passar a mão mesmo, mas a gente consegue controlar.”

Poliana de Oliveira, 26 anos, promotora externa de vendas

“Trabalhar na rua é muito complicado mesmo. Praticamente todo dia vem um homem jogando uma cantada; às vezes, muito pior que isso. A mulher, muitas vezes, é discriminada, apontada como a errada da história. Uma roupa curta que a gente usa, a pessoa acha que é motivo para passar a mão. A roupa não define o caráter de ninguém. As mulheres têm que se unir, porque hoje nosso espaço é muito maior do que há alguns anos, e a gente só quer igualdade.”

Ester de Oliveira, 29 anos, ambulante

ASSÉDIO NO CARRO

Lara Ferrari

“Com motorista de aplicativo acontece bastante. Uma vez, no caminho de casa, a corrida finalizou e o valor ficou muito diferente, eu pedi o número dele e passei o meu pra poder pagar a diferença depois, porque tava no cartão de crédito a corrida, e eu não tinha um centavo na hora. Assim que eu entrei em casa, já tinha mensagem dele sendo babaca e me cantando. No trabalho já ouvi: ‘Passa maquiagem, vem mais arrumadinha porque assim atrai mais clientes homens’. E andar nas ruas de Valadares cada dia é uma luta. Tenho medo de andar sozinha, porque cada esquina é um ‘elogio’ diferente, e, se você responder ou retrucar, ninguém te apoia, porque o assediador fala que não disse nada e que eu sou louca. Todo mundo que está perto e presencia a cena acaba acreditando nele.”

Lara Ferrari, 21 anos, atendente e vendedora


“Sinto que a igualdade ainda não é uma realidade na cidade. Caminhamos pra isso, mas ainda há muita discrepância no tratamento entre os diferentes gêneros. A questão da violência e da insegurança está presente no cotidiano, principalmente a violência moral. Um exemplo disso, é ter que pegar carros de aplicativo durante a noite. Tenho muito medo de ser violentada de alguma forma, ou assediada, o que já aconteceu: o motorista do aplicativo me cantar e fazer ‘piadinhas’ com insinuações sexistas.”

Alice Lima, 20 anos, estudante


Alice Lima

MACHISMO ENRAIZADO

 “No mercado de trabalho a mulher tem que ficar o tempo todo provando que é boa, e sempre bem arrumada. Tem muito macho que só contrata mulher pela aparência, já com segundas intenções. Eu falo isso porque já aconteceu comigo, eu já fui contratada porque os homens da empresa gostaram de mim, e não por causa das minhas habilidades profissionais, e eu tive que provar que era capacitada. Sem falar que a menina já é criada pra ser dona de casa, mãe e boa esposa. Eu nunca aceitei isso. Por que meus irmãos podiam ficar jogando videogame, enquanto eu tinha que ir lavar banheiro? Não tem que ser assim. A mulher não tem que carregar essa carga psicológica de ser responsável por tudo.”

Bruna Medina, 28 anos, analista de recursos humanos

Bruna Medina

Violência contra a mulher precisa ser combatida e debatida

O medo em relação ao assédio não é injustificado. Em 2019, Governador Valadares teve 58 casos consumados de estupro, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sejusp). A secretaria não divulga publicamente os dados isolados sobre feminicídio — eles aparecem dentro da taxa de homicídios.

No entanto, de acordo com o advogado Odilon Júnior, autor do projeto “Faça Isso Parar”, a violência contra a mulher em Valadares é alta e precisa ser urgentemente combatida. Mais do que as estatísticas, ele ressalta que é preciso olhar para a situação das vítimas.

“As pessoas veem apenas as estatísticas e questões de direito. Mas, e a vítima? Como é a vida após o desastre? As pessoas ficam muito distantes da violência por não verem como ela ocorre”, afirma o advogado.

Foi pensando nisso que ele criou o projeto “Faça Isso Parar”, que traz como ideia central o lema de que “de nada vale março ser rosas, se o resto do ano são espinhos”. O projeto vai levar mulheres que foram vítimas de violência e mulheres que atuam na segurança pública para debater a necessidade de políticas e ações permanentes de apoio às vítimas.

“A ideia é trazer essas pessoas que estejam mais intimamente ligadas com casos de violência contra a mulher, pois uma coisa é você assistir uma palestra de uma pessoa falando sobre números e estatísticas, que também é algo super válido, mas outra coisa é você ouvir aquela pessoa que passou por um trauma, ouvir a história dela, como foi o progresso dela”, explica Odilon.

“Um dos casos que vamos apresentar, que até foi relativamente divulgado na mídia, é o de uma mulher que levou 17 facadas do ex-marido. Isso ultrapassa os limites da humanidade. E ela é quem vive com as consequências, ela possui cicatrizes por todo o corpo”, ressalta.

O evento acontecerá no dia 12 de março, às 19 horas, no auditório da Fadivale (rua Dom Pedro II, 244, Centro). A participação é gratuita e não é necessário fazer inscrição.

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