Coronavírus: pandemia causa mudanças na rotina de pessoas em várias cidades do Brasil

Veja como está a situação em Valadares, Belo Horizonte, São Paulo e Salvador

Ruas vazias, supermercados lotados. Ônibus fazendo os trajetos normais com muito mais rapidez, já que o número de passageiros esperando nos pontos é bem menor. Clubes fechados, aulas suspensas, crianças tendo que se adaptar a uma rotina de estudos a distância — já que o período é de quarentena, e não de férias.

O álcool gel está presente (e visível) em todos os lugares: nos balcões de lojas e restaurantes, nos banheiros de uso coletivo, nas bancas, nos locais de trabalho. O único lugar em que você pode ter dificuldade para encontrá-lo é nas prateleiras do supermercado.

Tudo isso faz parte da nova rotina em diversas cidades do Brasil, desde que os casos suspeitos do novo coronavírus começaram a surgir em diferentes partes do país, culminando nas recomendações mais recentes do Ministério da Saúde, que pedem o isolamento social.

Comércio fechado em Valadares

Na manhã da última sexta-feira (20), o prefeito de Governador Valadares, André Merlo, anunciou um novo decreto municipal, que determina o fechamento de todo o comércio da cidade a partir da segunda-feira (23). Apenas locais considerados essenciais permanecerão abertos, como supermercados e farmácias.

No mesmo dia, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), decretou estado de calamidade pública no Estado, e determinou o fechamento do comércio em todos os 853 municípios de Minas Gerais.

Joselma Brandão é agente de viagens. A empresa onde ela trabalha está fechada desde o dia 19/03

Mesmo antes das determinações, muitos estabelecimentos em Valadares já estavam fechados. Joselma Brandão (55) é agente de viagens e trabalha em uma empresa de turismo na cidade, que fechou as portas na quinta-feira (19).

A principal preocupação da empresa foi o contato com pessoas vindas de outros países, que chegavam à agência para trocar dinheiro estrangeiro por moeda local. Além disso, o turismo foi uma das primeiras áreas afetadas pela pandemia.

“A demanda caiu muito, muitos voos foram cancelados, ninguém consegue falar com as companhias aéreas, só por e-mail, e assim mesmo temos que aguardar pelo atendimento. Ficou horrível. Nós esperamos que as coisas melhorem, porque a cada dia que passa parece que vai piorar mais ainda”, conta Joselma.

Sobre a rotina em quarentena, ela não está muito satisfeita, mas entende a necessidade das recomendações. “Pretendo voltar [ao trabalho] rápido, porque essa rotina de ficar dentro de casa e não poder sair é um tédio. Não estou gostando mesmo e acredito que ninguém esteja gostando dessa situação. Mas vamos esperar o tempo necessário, fazer o quê?”

Ônibus com horários reduzidos

Outra medida tomada pela Prefeitura de GV, no enfrentamento ao coronavírus, é a redução nos horários do transporte público, que passa a funcionar em escala de domingo. De acordo com a nota divulgada pelo órgão, espera-se que o fechamento do comércio, a partir do dia 23, diminua, consideravelmente, a demanda pelo transporte, por isso a redução de horários.

Na última semana, a empresa Mobi, responsável pelos ônibus coletivos da cidade, informou que estava realizando ações constantes de higienização na frota. Para quem depende do transporte público, no entanto, permanece a insegurança.

“É um lugar por onde passam muitas pessoas, que eu não sei de onde vieram, né? Eu uso o álcool na mão, mas ainda assim eu fico com medo”, destacou a diarista Maria de Fátima de Carvalho (47), durante uma viagem no ônibus 81B, em direção ao bairro Santa Rita.

“Isso vai dificultar para mim, né? Porque, infelizmente, eu não posso parar de trabalhar. Eu ganho por dia, se não trabalhar eu não pago minhas contas. E eu dependo do ônibus para chegar ao meu trabalho”, destacou Maria de Fátima.

Pontos famosos da capital mineira estão vazios

Belo Horizonte não parece mais a mesma cidade de um mês atrás. A circulação de pessoas nas ruas é muito menor do que o normal, inclusive, em pontos de grande movimentação na cidade, como o Mercado Central e o Terminal Rodoviário.

“Aqui no Mercado Central, que é um dos pontos de referência turística de BH, a situação é de extrema precaução. O movimento caiu mais de 60% e a sensação é de que essa situação pode se elevar, porque, a partir do momento que não tem gente circulando, não tem gente comprando, então o comércio não tem pra quem vender. Conversando aqui com alguns comerciantes do Mercado, eles reconhecem que o movimento caiu muito, e que a tendência é cair mais ainda”, destacou o editor do Diário do Rio Doce, Raimundo Santana, em viagem a Belo Horizonte.

De acordo com Raimundo, a maioria da população está atendendo às exigências das autoridades sanitárias e de saúde, e estão tomando as precauções para evitar a propagação do coronavírus.

“Alguns ainda tentam amenizar os efeitos do que essa epidemia pode causar daqui pra frente, mas a maioria está consciente, ou se conscientizando, sobre o que é preciso fazer para evitar a contaminação. Vários pontos da cidade estão em alerta através das orientações que a prefeitura de Belo Horizonte tem repassado. A gente vê claramente que a movimentação ou aglomeração de pessoas tem sido reduzida. Principalmente, porque várias instituições deixaram de funcionar ou estão com funcionamento apenas interno. Então, isso já causa um esvaziamento na cidade, e, consequentemente, no comércio, na prestação de serviços”, afirma.

Restaurante famoso do Edifício Maletta vai fechar as portas pela primeira vez em mais de 50 anos de história

Quem conhece BH sabe da “magia” que ronda o Edifício Arcângelo Maletta, no centro da cidade. O prédio faz parte da história de várias gerações de belorizontinos. Além dos apartamentos, lá também funcionam bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. Se ao cair da tarde o Maletta é ponto de encontro para o público jovem, durante o dia ele serve a quem busca um local por almoço bom e barato. Nesse quesito, um dos maiores destaques é o restaurante Xok Xok, que funciona no mesmo local há 55 anos e tem público cativo.

Depois dos decretos municipais e estaduais em resposta à pandemia de coronavírus na última quinta-feira, 19 de março, o Xok Xok teve que fechar as portas, mas sem a expectativa de abrir no dia seguinte, pela primeira vez na história. “Eu tenho cliente que almoça aqui todos os dias, há 50 anos. Ele conhece o restaurante há mais tempo que eu. O restaurante sempre esteve aberto, eu nunca vi nada parecido na minha vida”, destaca Setembrino Pereira, mais conhecido como Bino, que é dono do restaurante há 36 anos.

A maior preocupação de Bino agora é com as contas. “Já tem mais de uma semana que eu tô com dificuldades para cumprir os meus deveres. Agora, fechando, eu não sei nem o que vou fazer. Eu tenho oito funcionários e eu vou ter que dar prioridade a eles. Vou deixar de pagar outras coisas e dar prioridade a eles, porque eles trabalham porque precisam. Isso é triste, não sei se vou conseguir pagar eles um mês, dois meses”, destaca o empresário.

São Paulo: na maior capital do Brasil, apesar das restrições, o movimento não para

Em São Paulo, cidade mais populosa do Brasil e epicentro do coronavírus no país, a rotina de quarentena já não é mais novidade. A vida dos paulistanos, acostumados com o trânsito pesado e com o transporte público superlotado, está bem diferente nos últimos dias. Mesmo assim, a cidade continua bem mais movimentada do que deveria.

Daiane Vieira (26) mora em São Paulo e vê menos mudanças do que gostaria na capital

“Aqui em São Paulo muitas pessoas estão ignorando. Eu continuo vendo a mesma loucura e correria do dia a dia. Até agora eu não vi isso parar. Até mesmo os idosos, que são grupo de risco. Eu tenho pais idosos e fico puxando a orelha para eles não saírem de casa. Meu marido a mesma coisa, porque o pai dele é diabético e hipertenso, e a mãe dele é fumante, então eles estão no topo do grupo de risco. Eles ficam no sítio, isolados, e a gente fica pegando no pé falando que não é pra vir pra São Paulo”, conta Daiane Vieira (26).

Ela espera que esse movimento diminua nos próximos dias. “Eu no início não achei que isso [coronavírus] iria chegar até o Brasil, porque estava muito longe. Mas agora chegou, e nós precisamos ter consciência. Não dá pra ignorar o que está acontecendo. Alguns estabelecimentos, como os bares e academias, estão fechando. O Dória [governador de São Paulo] deu uma entrevista na quarta pedindo para que os shoppings também fechem, mas não é uma medida obrigatória. A partir do momento que não é obrigatória e que não mexe no bolso das pessoas, dificilmente vai ser cumprido. O shopping aqui de perto de casa mesmo, que é mais do povão, eu acredito que não esteja fechado. Eu fui lá na quarta-feira, no supermercado, e tava tudo normal.”

Daiane ainda destaca: “Nós precisamos tomar cuidado. Não adianta alguém que tem alto risco de contaminação, como os idosos, ficarem em casa, e nós que somos saudáveis ficarmos circulando por aí e levando a doença até eles”.

Salvador tem praias vazias e supermercados sem estoque

Alice Leroy, estudante da UFBA, em Salvador

A partir de hoje (21) está valendo o decreto da Prefeitura de Salvador (BA), que interditou seis praias da cidade por 15 dias. Lá, as escolas estão fechadas desde o dia 18, e os alunos da rede municipal vão começar a receber cestas básicas a partir da próxima segunda-feira, 23.

Alice Leroy (23) é de Belo Horizonte, mas mora em Salvador. Ela é estudante de Mestrado da Universidade Federal da Bahia, que também está com as aulas paralisadas por tempo indeterminado.

“Eu estou desde domingo (15) em quarentena, só saio quando é extremamente necessário, para ir ao supermercado. Mas, ainda assim, evito. Na última vez que eu e meu namorado fomos ao supermercado, ele estava lotado, inclusive com muitos idosos. Na farmácia tinha uma fila enorme. As pessoas estão estocando remédios em casa. Nós não encontramos álcool gel e própolis em lugar nenhum, e a vitamina C dobrou de preço.”

Alice não sabe se vai ficar em Salvador ou voltar para casa, em BH. “Não sei o que vou fazer ainda. Tô esperando por notícias mais claras da faculdade, mas acredito que isso não vai acabar tão rápido.”

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