Cardiologista e professor de Educação Física avaliam casos de morte súbita após esforço físico

FOTO: Freepik

Entre as agravantes para a morte súbita estão o estresse excessivo, o sedentarismo e o uso de drogas ilícitas ou anabolizantes

GOVERNADOR VALADARES – O “segredo do coração” vai além de frases românticas e contemplativas. Sem meios termos ou licença poética, quando esse órgão para, toda uma vida para também. Muitas vezes, sem volta. O coração sinaliza a existência da vida humana. Então para que ela siga plenamente seu curso, profissionais da saúde recomendam, além da alimentação saudável, a prática de exercícios físicos. Tudo isso parece bem coerente. Até que um acontecimento fatal, conhecido por ‘mal súbito’, entra em cena.

Neste ano, o mal súbito interrompeu a vida de dois mineiros em menos de um mês. As vítimas, na ocasião, praticavam atividades físicas. Lucas Freitas tinha 30 anos e jogava futsal com os colegas, num domingo (6 de agosto) quando passou mal dentro da quadra e não resistiu. O jovem, do município de Sacramento, foi Mister Minas Gerais em 2016. Ele deixou duas filhas, de 3 e 6 anos. Já no início deste mês, na noite do último dia 4, o guarda municipal de Belo Horizonte e professor de Kung Fu Diego Luís, de 35 anos, morreu ao sofrer mal súbito após o treino de musculação. Ele já estava indo embora da academia quando passou mal.

Prevenção

Vale ressaltar que Governador Valadares também perdeu um jovem para a morte súbita em janeiro do ano passado. Samuel Douglas Pereira de Carvalho, de 25 anos, era instrutor de autoescola e morreu após participar do Teste de Aptidão Física (TAF) da Polícia Penal.

Mas o que é essa ocorrência tão repentina e fatal no ser humano? O médico cardiologista e coordenador do setor de cardiologia do Hospital Samaritano, de Valadares, Francisco Motta Jr., explica. “O termo que a gente mais utiliza é ‘morte súbita’, que se refere a uma morte repentina causada por algumas doenças. Existem várias causas, mas a cardiológica costuma ser a mais frequente. Pode acometer qualquer faixa etária. Desde pacientes jovens a adultos ou idosos. Podem causar morte súbita alguns problemas elétricos do coração, de circulação ou de estrutura do coração”.

De acordo com Francisco Motta, embora não seja o mais utilizado na medicina, o termo mal súbito também é reconhecido pelos profissionais. Ainda segundo Motta, metade das ocorrências de morte súbita não dão qualquer sinal, o que torna o tema ainda mais complexo. “Infelizmente, às vezes, a primeira manifestação, realmente, é a morte. Daí é fundamental a gente entender que a principal arma é a prevenção”.

Diante disso, o médico recomenda que todos, sem exceção, mantenham acesa a luz de alerta e investiguem o menor indício de problema cardíaco. “Por exemplo, se a pessoa teve desmaio, tontura, dor no peito, cansaço excessivo, palpitações, aceleração no coração e, também, se teve algum histórico familiar. Isso tudo acende uma luz de alerta”, pontua. Entre as agravantes para a morte súbita, segundo o cardiologista, estão o estresse excessivo, o sedentarismo e o uso de drogas ilícitas ou anabolizantes.

Avaliação médica é fundamental para a prática de esportes

A decisão pela prática de atividades físicas, portanto, deve respeitar o objetivo principal de contribuir para a vida e não o contrário, como determina o médico. “Claro, a gente incentiva a atividade física regular. Mas dependendo do nível de atividade, é fundamental ter uma avaliação cardiológica, para tentar diminuir os riscos de morte súbita”, comenta o cardiologista. O médico ressalta que essa avaliação é crucial, principalmente, em pessoas com idade acima de 40 anos.

Indo à prática, é a vez do instrutor físico manter os olhos atentos. Segundo o professor do curso de Educação Física da Univale Diego Alves do Santos, é preciso ser realista quanto aos riscos de uma atividade mal assistida.

“Toda prática de atividade física apresenta riscos. Desde que mínimos. Durante a realização, ocorre o aumento da atividade nervosa simpática e a redução da atividade nervosa parassimpática do coração, resultando no aumento de frequência e força de contração cardíaca. Além disso, observa-se o aumento do débito cardíaco (quantidade de sangue bombeada pelo coração por minuto). Durante a prática também acontece o aumento da pressão arterial. Essas respostas fazem com que ocorra o aumento do trabalho do coração”, detalha o profissional. Sendo assim, de acordo com o educador, o coração pode se sobrecarregar ainda mais conforme a intensidade e o volume do esforço. “Quanto maior a intensidade, maior o risco de um evento cardiovascular”, reforça.

Nesse sentido para evitar a morte súbita decorrente de esforço físico, é fundamental conhecer e respeitar os limites do corpo, como avalia o professor. “De forma geral, recomenda-se a prática de atividade física de, no mínimo, 150 minutos por semana, com intensidade leve à moderada. Levando em consideração que cada indivíduo responde de forma diferente, a progressão de volume e intensidade deve ser introduzida aos poucos, pois é necessário adaptações para que ocorra o aumento da intensidade. Lembrando que quanto maior a intensidade, maior o trabalho realizado pelo coração, e nem todo coração irá conseguir suprir essa demanda”, adverte.

Luz de alerta

Para quem não sabe identificar as denúncias do corpo durante os treinos, Diego Alves acrescenta alguns fatores que, assim como diz Francisco Motta, acendem a luz de alerta. “Sintomas frequentes como desconforto no peito, pescoço, braços, falta de ar em repouso ou exercício leve, desmaios, fadiga incomum. Deve-se procurar um médico para investigar e não praticar atividade física até que essa investigação aconteça, pois são considerados de risco muito alto”. O profissional da Educação Física destaca que pessoas já diagnosticadas com insuficiência cardíaca, sopro, isquemia e arritmia compõem um grupo de alto risco quando o assunto é a prática de esforço físico.

“É importante a realização de uma triagem de risco cardiovascular antes de iniciar a prática. Os que apresentam alguma doença cardíaca devem realizar o teste ergométrico máximo para a prescrição da prática de atividade, além de serem supervisionados por um profissional de Educação Física, principalmente, no início. Caso essas pessoas apresentem instabilidade da doença não devem iniciar as atividades até que ocorra a estabilidade”, informa Diego Alves.

O educador, além disso, repassa as seguintes orientações: procure um profissional de Educação Física para a prescrição adequada; fique atento à sua respiração durante a prática – caso esteja muito ofegante, diminua a intensidade; preste atenção à sua percepção de esforço – se a prática estiver muito “puxada”, reduza um pouco a intensidade; caso seja hipertenso, não inicie a prática de atividade se a pressão arterial estiver acima de 160/105 mmHg; pratique de forma regular, sem exageros em um único dia.

Por fim, tanto o médico quanto o instrutor afirmam que viver sem exercícios está longe de ser benéfico. Ambos os profissionais enfatizam que essa é uma das principais ferramentas de prevenção a doenças cardiovasculares. O segredo do coração, neste caso, é conhecê-lo bem antes de colocar o corpo em movimento.

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