Alunos do oitavo período de medicina da UFJF-GV questionam tempo sem aulas práticas

De acordo com os universitários, eles ficam impossibilitados de entrar no estágio obrigatório, pois precisam cumprir uma carga horária de aulas práticas

Alunos que terminaram as aulas teóricas do oitavo período do curso de medicina na UFJF-Campus Governador Valadares estão ansiosos e aguardam para poder ter acesso às aulas práticas. Segundo os alunos, para entrar no estágio obrigatório, também conhecido como internato, em unidades de saúde de Valadares é necessário cumprir uma carga horária de aulas práticas, mas eles esperam o posicionamento da instituição e questionam o tempo que estão parados.

São 51 alunos que aguardam o início das aulas práticas. E essa situação de espera está gerando insatisfação entre eles. De acordo com os alunos que foram ouvidos pelo DRD, a turma não tem contato com cenário da prática desde março de 2020. Já a carga horária teórica do oitavo período foi encerrada no dia 20 de novembro. Entre incertezas e chateações, muitos deles até retornaram para suas cidades e aguardam uma solução.

João Vítor da Silva Machado, 24 anos, é de Cataguases, município da Zona da Mata. Com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais no Campus Governador Valadares, ele retornou para a cidade natal. “A nossa principal reivindicação é concluir essa parte prática para seguir com o curso. Porém, há alguns fatores impeditivos, atualmente, por parte da UFJF-GV para conseguirmos avançar. O que estou sabendo é que nós do curso de medicina perdemos muitos locais de práticas desde o início da pandemia. Parte dessas aulas práticas era na Policlínica, mas, como ela se transformou em Centro Covid, nós perdemos cenários de prática de ortopedia, reumatologia e dermatologia, que estão sendo atendidos em locais em que a UFJF não tem contrato. Nesses mais de um ano de pandemia, e sabendo dessa mudança, a UFJF-GV ainda não resolveu essa questão, seja fazendo contrato com os novos locais ou disponibilizando novos locais”, lamenta.

João Vítor da Silva Machado lamenta situação atual de sua turma, que está sem atividades (Foto: Arquivo pessoal)

João Vítor conta que os consultórios tinham até 10 alunos, o que não é viável no cenário atual, e gostaria muito que houvesse uma resolução por parte da UFJF-GV o mais rápido possível. “A nossa solicitação é fazer as aulas práticas para entrar no internato o mais rápido possível, pois já estamos há um ano e três meses sem contato com o cenário prático, pagando aluguéis e outras contas em Valadares, sem perspectiva nenhuma de retorno, aguardando as deliberações da UFJF-GV.”

Fernanda Chitarra, 27 anos, é natural de Juiz de Fora e também voltou para sua cidade após a pandemia. Ela reforça o questionamento do tempo em que estão parados sem desenvolver atividade alguma. “A nossa situação enquanto estudantes é de estar sem seguimento de atividades teóricas e práticas desde novembro de 2020. Estamos sem nenhuma atividade prática durante um ano e três meses. Existem duas turmas completamente paradas aguardando que sejam discutidas possibilidades factíveis e cabíveis por meio da universidade. Essa estagnação causa diversos prejuízos a nós, estudantes, pela descontinuidade do ensino, pela incerteza de quando iremos retomar nossas atividades, pelos impactos psicológicos e financeiros trazidos por todo esse entrave. Acredito que a morosidade do nosso retorno também impacta na consolidação do espaço de atuação da universidade, já muito debilitado, e também ao auxílio prestado pelos estudantes, docentes e universidade à comunidade, frente a um momento em que a atuação no âmbito da saúde se expôs muito mais necessária quanto sempre fora.”

Fernanda explica que os alunos já tentaram diálogo com a UFJF-GV, mas sem conseguir solucionar a situação. “Estamos em contato com diversas instâncias da universidade, sempre debatendo junto a elas a importância do nosso retorno o mais rápido possível, buscando auxiliar no que podemos enquanto estudantes, principalmente frente ao cenário inédito que a pandemia nos trouxe. Discutimos diversas possibilidades de agilizar nosso processo de pagamento das práticas que estão pendentes, sempre levando em conta os cenários de prática disponíveis no município, a necessidade de cumprir normas sanitárias, protocolos de biossegurança. Em todos os casos, não obtivemos concordância da universidade, sendo todas as possibilidades rejeitadas e, até pouco tempo, sem nenhum retorno do que seria possível ser feito.”

Fernanda Chitarra demonstra preocupação e entende que as aulas práticas de sua turma precisam começar o quanto antes (Foto: Arquivo Pessoal)


A estudante ainda faz um apelo à UFJF-GV para que apresente soluções viáveis para o início das atividades práticas. “Acredito que levo a consternação de toda a nossa turma e de muitos outros estudantes da UFJF-GV devido à morosidade dos processos para o nosso retorno. Com a demora para que cumpramos essas práticas e consigamos dar continuidade ao internato, muitas outras turmas ficam impossibilitadas de retomar suas atividades, diante da redução dos cenários de prática, medidas de biossegurança necessárias para o retorno e medidas de segurança do município. Nosso apelo, tanto à UFJF-GV quanto ao Município e, até mesmo, à comunidade de Governador Valadares, é que nossa situação seja resolvida o mais rápido possível. Sabemos que a universidade está se movimentando para que nosso retorno seja feito, mas pedimos apresentação de resoluções concretas e ágeis, visto o tempo que estamos aguardando para que elas sejam tomadas.”

Procurada pelo DRD, a assessoria de comunicação da UFJF-GV enviou uma nota em resposta aos questionamentos dos alunos. Confira a nota na íntegra.

“Desde o início da pandemia pelo novo coronavírus, a Universidade Federal de Juiz de Fora tem buscado formas de amenizar as perdas dos alunos e, dentro das normativas do MEC, implantou o Ensino Remoto Emergencial. Entretanto, para garantir a segurança de docentes, técnicos e estudantes, as aulas práticas presenciais se mantiveram suspensas. A turma em destaque tem que cumprir as atividades práticas para estar apta ao estágio final de internato; esse retorno das atividades depende de análise das condições epidemiológicas do município e melhorias nos indicadores da situação do sistema de saúde.

A UFJF está em processo de estruturação para admitir o retorno presencial dessas atividades práticas; porém, cabe ressaltar que não se trata meramente de uma autorização de retorno, mas de um processo complexo que passa pela disponibilidade do campo de prática, adequação dos espaços para biossegurança, adequação das turmas (que agora têm que ser subdivididas para não causar aglomerações e aumento de risco para os pacientes, discentes e professores), entre outros.

Embora o Campus Governador Valadares não possua espaço próprio para o desenvolvimento de práticas com pacientes, convênios com instituições parceiras foram assinados, com o objetivo de suprir necessidades da comunidade acadêmica. Portanto, a UFJF está ciente e trabalhando para estabelecer com segurança o retorno de seus alunos. Infelizmente, porém, neste momento não é possível estabelecer datas específicas, nem anular ou compensar os prejuízos causados a toda a sociedade por essa pandemia.”

Internato voltou a funcionar em fevereiro

Desde o dia 19 de fevereiro, a UFJF-GV voltou a realizar o estágio obrigatório em unidades de saúde da cidade, na rede municipal e no Bom Samaritano. As atividades haviam sido suspensas logo no início da pandemia, situação que também trouxe questionamentos de outros alunos pelo longo período de paralisação. Segundo a UFJF-GV, esse retorno só foi possível depois da adoção de uma série de medidas para a segurança desses alunos durante os estágios.

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