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Trancistas se dedicam exclusivamente à beleza de homens e mulheres afros

Antes das tranças, um pouco de história. No início do século XX, o poder econômico do Brasil atuava em políticas de incentivo à imigração europeia, ao mesmo passo que não trabalhava pela inserção social do povo negro recém-liberto da escravidão.

Para os governantes daquela época, “clarear” o país e ignorar tudo o que se referisse aos negros era a melhor opção. Desde então, o desenvolvimento do país, em todos os sentidos, é baseado na tentativa interminável de adequar a sociedade aos padrões europeus. Isso deu início a um capítulo de resistência, inclusive estética, que atravessou o século e perdura até os dias atuais.

Já não é uma novidade que características naturais de pessoas negras ainda são alvos de críticas e constantes tentativas de alteração da imagem. Ou seja, o alisamento dos cabelos ou a cirurgia plástica que modifica nariz e boca nem sempre partem de uma insatisfação pessoal, mas uma pressão quanto ao que é ou não considerado bonito pela maioria.

Com isso, muitas crianças, adolescentes e jovens se renderam às mudanças estéticas, mas tempos depois decidiram assumir suas raízes. Este é o caso de uma das trancistas do Afro Ateliê, espaço dedicado à beleza de homens e mulheres afros, localizado no bairro Vila Isa.

“Começamos em 2014, de uma forma totalmente despretensiosa. Uma de nós estava começando o processo de transição capilar [retorno ao cabelo natural] e viu nas tranças uma opção para passar pelo processo com mais facilidade. Porém não encontramos ninguém na cidade que trabalhasse com as box braids [tranças]. Então começamos a tentar fazer mesmo sem muita ideia de como seria e acabou dando certo”, contam.

As belas sócio-empreendedoras são Oline (idealizadora do projeto), Jakeline, Caroline e Fernanda. Elas são da mesma família, sendo três irmãs e uma prima. Atualmente, o local oferece serviços como as famosas tranças box braids, além de penteados com tranças, entrelaçamento, dreads naturais e sintéticos, corte e finalização de cachos.

A equipe avalia a cidade de Governador Valadares como um potencial campo de propagação da estética negra, seja no comércio ou nos salões de beleza. “Hoje, vemos que o mercado em Valadares cresceu e está bem completo. Tem vários trancistas espalhados pela cidade que atendem a todos os públicos. A demanda é grande e tem crescido gradualmente. Além do comércio voltado para trançadas e entrelaçadas, antes era impossível comprar materiais aqui na cidade. Hoje tem mais de uma loja que vende materiais para esse público com valor acessível e variedade de produtos”, ressaltaram.

Em razão desse entusiasmo com o mercado da região, elas decidiram dar um passo além e lançaram um curso para a formação de novos trancistas. “Começamos este ano com a primeira turma. Desde que começamos, sempre tiveram pessoas entrando em contato com interesse em aprender a profissão e se dedicar a isso. E vimos que, hoje, estamos capacitadas para ensinar e contar mais da nossa trajetória e de tudo o que aprendemos desde o início até aqui”, contam.

Autoestima e ancestralidade

Estudiosos afirmam que as tranças existem há mais de 3000 anos a.C., tendo como origem o país de Namíbia, localizado na África. Os diversos penteados feitos com elas eram, portanto, uma forma de identificação de tribos, estado civil, religião, posição social e outras particularidades dos povos do continente africano.

Jakeline, Oline, Caroline e Fernanda acreditam que o trabalho realizado pela equipe é também uma forma de manter viva a história e a beleza de seus ancestrais.

“Sempre acreditamos que a transição capilar traz consigo uma mudança não só física. É um reconhecimento que vem de dentro para fora, um processo de autoconhecimento muito profundo e as tranças têm tudo a ver com isso. Elas facilitam esse processo devolvendo a autoestima de pessoas pretas e conectando-as com sua ancestralidade. Até mesmo aquelas que não têm ainda essa consciência acabam se identificando ao longo do processo”.

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