A campanha do candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou ter presenciado um tiroteio durante agenda na manhã desta segunda (17) em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.
De acordo com a equipe do candidato, não houve feridos entre os integrantes da comitiva. Um homem de 38 anos morreu no tiroteio. Segundo a polícia, ele tinha registro sob suspeita de roubo.
Tarcísio estava em Paraisópolis para inaugurar um polo universitário na favela. Segundo ele, a “equipe foi atacada por criminosos”. “Nossa equipe de segurança foi reforçada rapidamente com atuação brilhante da Polícia Militar”, escreveu o candidato em sua página no Twitter.
No entanto, na tarde desta segunda, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, afirmou que é prematura a conclusão de que se tratou de um atentado. Ele afirmou ainda que as câmeras instaladas nos uniformes dos policiais serão usadas na investigação.
Tarcísio, que tem o apoio do governador Rodrigo Garcia (PSDB) no segundo turno, tem um discurso linha dura na segurança pública, inclusive afirmando que os paulistas não se sentem seguros. Ele também diz que quer rever o uso de câmeras pelos policiais, medida que gerou queda na letalidade.
Segundo Campos, as investigações da Polícia Civil não podem ser influenciadas pela afirmação do candidato nas redes sociais de que foi alvo de uma ação criminosa.
Em entrevista à imprensa, o secretário afirmou que o primeiro confronto se deu com policiais à paisana que faziam a segurança do local onde o candidato estava.
O secretário afirmou que os tiros foram disparados a cerca de 100 metros do local onde estava a campanha. “Foi um ruído com a Polícia Militar”, disse o secretário. Por “ruído”, o secretário explicou que o termo se refere à situação em que “a polícia está em um local onde há um desequilíbrio com quem está no local”.
O coronel Ronaldo Miguel Vieira, comandante-geral da Polícia Militar, detalhou que o tiroteio teve a participação de ao menos oito indivíduos que rondavam o local em motos. Dois deles estavam com armas longas. Uma van escolar foi atingida pelos disparos, mas segundo o coronel, ninguém foi ferido.
De acordo com o fundador do polo universitário, Wallace Rodrigues, o prédio onde o candidato estava não foi atingido por tiros. “Ouvimos disparos do lado de fora do prédio. Foram disparos para o alto de opositores políticos do Tarcísio”, disse Rodrigues.
Os tiros foram ouvidos no momento em que o fundador iria fazer um discurso. Tarcísio foi orientado por seguranças a deixar o local, desceu os três lances de escada do prédio, entrou na van e foi embora. O veículo, que é blindado, deixou o local em alta velocidade.
O agente licenciado da Polícia Federal e que acompanha Tarcísio, Danilo Campetti, pediu que todos se deitassem no chão. Campetti, inclusive, estava armado.
Adversário de Tarcísio, Fernando Haddad (PT) afirmou na tarde desta segunda que enviou mensagem ao candidato na tentativa de falar com ele sobre o episódio.
Rodrigo disse, em nota, que determinou investigação imediata do ocorrido. “Tarcísio de Freitas e ele e sua equipe estão bem. A Polícia Militar agiu rápido e garantiu a segurança de todos. Determinei a imediata investigação do ocorrido”, afirma a nota.
O governador também disse em entrevista à CNN que um homem morreu no tiroteio e que Paraisópolis é segura.
“Uma comunidade de bem, onde todos andam livremente, não podemos confundir com a localidade que ocorreu esse atentado. Importante a polícia esclarecer este atentado, este crime, um dos bandidos foi alvejado e veio a óbito”, afirmou Rodrigo, que não deu detalhes da identidade do homem morto e nem as circunstâncias.
O governador disse não ser possível denominar o que houve como atentado e, sim, como uma “tentativa de crime” que a polícia irá esclarecer.
Antes mesmo de a Secretaria de Segurança Pública ter dado informações sobre o ocorrido, respondendo se houve um atentado político ou uma troca de tiros referente a outra ocorrência, aliados de Tarcísio já associavam o crime organizado ao PT.
Nas redes sociais bolsonaristas, também houve mensagens de solidariedade ao ex-ministro, pedidos de investigação dos mandantes do atentado e referências à facada sofrida por Bolsonaro em 2018.
“Só Lula e o PT conseguem entrar numa comunidade dominada pelo tráfico e serem recebidos sem nenhum tipo de problema”, afirmou o deputado bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ), em referência à recente visita do ex-presidente ao Complexo do Alemão, no Rio.
“A pergunta que fica é: por que a direita, que é contra o tráfico de drogas, não pode entrar em comunidade do PCC e o lula pode entrar no Alemão, comandado pelo Comando Vermelho”, tuitou a deputada Carla Zambelli (PL-SP).
Haddad participava de uma caminhada em São Mateus, zona leste, quando foi avisado pela imprensa da troca de tiros. “Não tenho o menor conhecimento disso”, disse.
“Estou fazendo uma campanha de paz e muito respeitosa. […] Eu repudio toda e qualquer forma de violência”, completou, sem comentar o episódio especificamente por não ter informações sobre o ocorrido.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou o episódio durante pronunciamento no Paládio do Alvorada nesta segunda. Disse não ter informações sobre a origem da violência, mas relembrou os tiros disparados contra uma igreja em que a primeira-dama Michelle Bolsonaro estaria e acrescentou que “isto está acontecendo e a gente lamenta”.
“Recebi um telefonema do Tarcísio, algumas imagens também. Tudo é preliminar ainda, eu não quero me antecipar, se foi uma ação contra a equipe dele, se foi uma ação isolada, se algum conflito já estava havendo por haver na região. Então seria prematuro eu falar sobre isso”, afirmou, durante evento na qual recebeu o apoio do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio e do ex-senador Agripino Maia.
Bolsonaro na sequência afirmou que o episódio dos tiros contra a igreja em que Michelle estaria foi claramente uma questão política. “O que eu sei foi que há poucos dias uma ação de dois tiros em uma igreja onde a primeira-dama se faria presente. O elemento foi preso, confessou ser do Comando Vermelho e que os dois tiros foram para intimidar e evitar que muita gente comparecesse a esse evento da primeira-dama com a senhora Damares [Alves]”, afirmou.
“Isso está acontecendo, a gente lamenta. Um caso já comprovado que tem a ver com questão política, o caso Tarcísio ainda não”, completou. Bolsonaro disse ainda não saber se Tarcísio vai requerer reforço em sua segurança, mas que o episódio desta segunda-feira é um “sinal que ele deve se preocupar mais”.
No final de semana circulou nas redes sociais um vídeo no qual o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, afirma que alguém estaria sendo ameaçado e, por isso, não compareceria aos debates passou a ser compartilhado pelo WhatsApp.
A peça, no entanto, é de 2018 e não cita o nome de Tarcísio, que não concorreu naquela eleição. Na ocasião, Heleno se referia ao então candidato Jair Bolsonaro, que concorria à Presidência da República diante de Haddad.
“O [não] comparecimento ao debate no qual muita gente vinculado ao medo de sair e debater com Haddad é porque está realmente ameaçado. É um atentado terrorista onde tem uma organização criminosa, que não vou citar o nome, envolvida. Isso é comprovado por mensagens, escutas telefônicas”, disse Heleno.
A Folha de S.Paulo mostrou na quinta que Tarcísio desistiu de participar de debates e entrevistas durante o segundo turno das eleições. Na avaliação da campanha de Tarcísio, os debates e as sabatinas terão menor força na hora de virar votos e, nesta reta final do segundo turno, o candidato deverá investir em comícios e caminhadas na capital e no interior paulista. MARIANA ZYLBERKAN, CARLOS PETROCILO, CAROLINA LINHARES E RENATO MACHADO/FOLHAPRESS