por Arthur Arock*
We are the Crystal Gems (Nós somos as Crystal Gems)
We’ll always save the day (Nós sempre salvamos o dia)
And if you think we can’t (E se você não acredita que podemos)
We’ll always find a way (Nós sempre achamos um meio)
That’s why the people of this world believe in (E é por isso que o povo desse mundo acredita)
Garnet, Amethyst, and Pearl, and Steven! (Na Garnet, Ametista e Pérola, e Steven!)
Com essas frases musicais começa cada episódio de Steven Universe, o tema da nossa coluna da hoje.
Normalmente, dou início aos textos explicando por que escolhi escrever sobre certo tema para certa data. Hoje eu não posso fazer isso, simplesmente porque não tenho um motivo para estar escrevendo sobre esse tema. Não no calendário. O motivo de eu estar escrevendo sobre Steven Universe não é nenhum outro além de essa série ser possivelmente minha obra de arte preferida.
Eu não vou novamente fazer o discurso para pessoas que não aceitam animação como um meio de arte válido, ainda agarrados à noção antiquada e limitada de que é algo para crianças. Se a essa altura, acompanhando meus textos, uma pessoa ainda não aceitou que qualquer mídia é capaz de transmitir qualquer qualidade de conteúdo, do mais vil ao mais puramente genial, não sei mais o que posso dizer para passar essa noção. E, por mais que seja uma pena, a perda é só dessa pessoa, porque Steven (em minha humilde opinião), enquadra-se na descrição de “mais puramente genial”.
Eu sei que a sinopse não ajuda muito a ideia que estou tentando passar, mas vou colocá-la aqui do mesmo jeito: Steven Universe é uma série de animação criada por Rebecca Sugar que conta a história (o famoso “coming-of-age story”) de Steven Universe, que vive com as Crystal Gems – alienígenas humanóides – Garnet, Ametista, Perola e seu pai humano, Greg, na cidade fictícia de Beach City. Steven, que é meio Gem, tem que aprender a lidar com os poderes que herdou de sua mãe, além de ajudar as Gems a protegerem o mundo de sua própria espécie.
Eu sei, eu sei. Parece só mais uma das muitas coisas sy-fy/aventura/fantasia que eu gosto e vivo indicando. E admito que foi isso que me “convidou” a assistir à série em primeiro lugar. Mas, se foi isso que me puxou, foi a beleza e profundidade de Steven Universe que me faz permanecer.
A série trabalha (diretamente ou por meio das “metáforas” do seu pano de fundo sy-fy) temas como família, saúde mental, relacionamentos (das mais diferentes ordens), identidade, LGBTQAI+, perda… E isso sempre com cuidado (até mesmo com carinho) e leveza, mas sem jamais ser superficial. Isso, é claro, tem tudo a ver com a pessoa por trás da criação de Steven Universe: Rebecca Sugar é uma pessoa não binária e bissexual que não nega que muito de suas próprias experiências são inspirações para sua criação (como é o caso de todo bom artista).
Outro ponto muito forte que Sugar traz para Steven é seu talento como compositora: a série é do começo ao fim embalada por músicas que vão ficar com você muito depois de o episódio ter terminado. Algumas pelo seu ritmo cativante, outras por suas letras realmente tocantes. Um dos meus exemplos preferidos é a música intitulada apenas “Change”, cantada pelo personagem tema, que incorpora bem muitos dos temas da série:
I can make a promise (Eu posso fazer uma promessa)
I can make a plan (Eu posso fazer um plano)
I can make a difference (Eu posso fazer a diferença)
I can take a stand (Eu posso tomar uma posição)
I can make an effort (Eu posso fazer um esforço)
If I only understand (Se apenas eu entender)
That I, I can make a change (Que eu posso fazer a diferença)
[…]
Steven (falado): Listen to me, Spinel! I understand. After everything you’ve been through, you must be ia lot of pain. (Me escute, Spinel! Eu entendo. Depois de tudo que você passou, você deve estar sentindo muita dor.)
Spinel (falado): No! NO! You don’t understand! You can’t chande the way I feel! (Não! NÃO! Você não entende! Você não pode mudar o como eu sinto!)
Steven (falado): That’s right! Only you can! (Isso mesmo! Só você pode!)
[…]
You can make it different (Você pode fazer a diferença)
You can make it right (Você pode consertar)
You can make it better (Você pode fazer melhorar)
We don’t have to fight (Nós não temos que lutar)
You can make an effort (Você pode fazer um esforço)
Starting with tonight’ (Começando hoje à noite)
Cause you (Porque você)
You can make a change (Você pode fazer a diferença)
É claro que o brilhante elenco que empresta a voz aos personagens (e todos são excelentes na parte musical) ajuda muito. Apesar de o elenco todo ser notavelmente bom, eu destacaria a presença da maravilhosa Estelle, a cantora britânica que faz a voz de Garnet (uma das personagens principais da série). Com essa voz maravilhosa, músicas cantadas por Garnet são sempre um ponto alto de qualquer episódio (e Estelle se mostra uma dubladora muito talentosa também, levando em conta que esse foi seu primeiro trabalho na área). Todas as vezes que ela canta é um ponto forte e emocional. Mas se precisasse indicar apenas uma, iria com “True Kind Of Love” do filme da série.
Devo admitir que várias vezes já comecei esse texto só para parar novamente. Eu sempre me vejo tendo problemas de escrever algo que explique para o leitor o quanto gosto de Steven Universe, sempre acho que minha escrita está aquém da minha série preferida. Mas, então, ligo a TV de madrugada e está reprisando algum dos meus episódios preferidos (“Mr. Greg”, “Reunited” ou o episódio final “Change Your Mind”) e penso: “Essa série merecia um artigo!”. E me pego a escrever de novo. Dessa vez eu acho que a coisa vai pra frente, porque acabei identificando meu problema para escrever esse texto: para mim, Steven Universe é uma série difícil de explicar, porque, por mais que eu perceba o quão brilhante ela é no sentido racional, ela me toca em um lado muito mais emocional. Às vezes algumas cenas me deixam profundamente emocionado e eu nem sei explicar o porquê. Talvez só pela maestria com que eles são escritas/executadas (no episódio final, tanto a escrita brilhante quanto a animação marcante de James Baxter se destacam para criar uma obra-prima), ou seja, porque as cenas tocam em partes do meu emocional que nem eu ainda identifiquei, mas que estão lá – algo que é notoriamente uma das potências de uma grande obra de arte.
Em vez de tentar explicar, eu vou novamente me recorrer a um dos pontos fortes da série: uma música (já que coloquei uma de abertura e uma no meio, acho justo usar uma de epílogo). Como as outras duas, essa é cantada pelo personagem título, mas esta, em especial, é um dueto com a personagem Ametista. Então, vou deixar as palavras do próprio Steven Universe em um trechinho da música “No Matter What”:
In the dark of the night (No escuro da noite)
In the light of the day (Na luz do dia)
When you’re raring to go (Quando você está ansioso para ir)
When you’re tired from the fight (Quando você está cansado da luta)
When you’re losing your mind (Quando você está enlouquecendo)
Let me give you a thought (Deixe eu te dar uma ideia)
I’m gonna be right by your side, no matter what (Eu estarei bem ao seu lado, não importa o que)
[…]
Through whoever you’ve been (Por quem quer que você tenha sido)
Through whoever you’ll be (Por quem quer que você seja)
Through whatever you lose (Pelo quer quer você perca)
You will always have me (Você sempre terá a mim)
At the end of your rope (Quando achar que está no fim da sua corda)
I’ll be holding you tight (Eu vou estár te segurando forte)
I’m gonna be right by your side, no matter what (Eu estarei bem ao seu lado, não importa o que)
* Nascido em Governador Valadares e atualmente residente em Belo Horizonte. Sua formação acadêmica se traduz numa ampla experiência no setor cultural. É escritor, crítico e comentarista cinematográfico e literário.
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