Como muitas famílias católicas têm o costume de se abster de carne vermelha e frango neste período, as vendas de bacalhau e outros tipos de peixes aumentam
Nos dias que antecedem a Semana Santa, a procura por bacalhau e peixes costumeiramente aumenta, devido à tradição de muitas famílias de não comer carne vermelha neste período. Donos de peixarias confirmam essa tendência, mas ressaltam que a onda roxa atrapalhou um pouco, pois restaurantes que normalmente compravam deixaram de comprar, por não poderem receber clientes nos estabelecimentos, considerando que o delivery não surte tanto efeito.
Em pesquisas realizadas ontem (30) em alguns supermercados e peixarias, o bacalhau “Saithe” salgado era encontrado entre R$ 49,90 e R$ 59,90 o quilo, enquanto o mesmo bacalhau dessalgado foi encontrado a partir de R$ 79,90. Já o bacalhau importado “Morhua” pode ser comprado a partir de R$ 99 o quilo. Também é possível encontrar o “lombo” de bacalhau por R$ 149,00 o quilo.
Já em relação ao valor dos peixes, o surubim era encontrado a partir de R$ 35,90 o quilo; dourada do Belém, R$ 32,90 o quilo; dourada São Francisco, R$ 26,90 o quilo; e piramutaba, R$ 22,90 o quilo. Dos peixes empacotados e congelados, filé de merluza 500g sai a R$ 17,98; filé de tilápia 400g, R$ 19,90; traíra inteira, R$ 17,98 o quilo; traíra sem espinha, R$ 29,98 o quilo; postas de cação 800g, 16,99.
Carlos Abreu administra uma peixaria no Mercado Municipal junto com a esposa há 20 anos. De acordo com ele, os pescados que têm mais saída no período da Semana Santa são surubim, dourada do Belém, piramutaba, camarão e filés, além do bacalhau.
Carlos conta que o comércio de pescados estava em uma crescente, mas, após o decreto da onda roxa, apresentou uma queda. Porém, mantém a esperança de boas vendas, já que ele indica que o brasileiro tem o costume de deixar pra última hora para fazer as compras.
“Vários clientes, como restaurantes e pizzarias, não compraram mais, pois só no delivery não conseguem atingir o mesmo êxito que teriam se estivessem com as lojas abertas. Na semana passada estava muito parado, mas desde a última sexta-feira melhorou um pouco o movimento. Segunda e terça o comércio é razoável, mas de quarta a sexta a gente espera um maior número de clientes. Brasileiro se dedica mais a comer o peixe nos últimos três dias da Semana Santa e estamos esperançosos”, disse.
Tradição católica
A Semana Santa se inicia no Domingo de Ramos e se encerra uma semana depois, no Domingo de Páscoa. Uma das tradições católicas é não consumir carne vermelha ou frango na Sexta-feira da Paixão.
Maiza Elaine é uma das muitas fiéis que seguem essa tradição. “A Igreja Católica propõe a seus fiéis, na quaresma, abster-se de carne nas quartas e sextas-feiras, para relembrar o sacrifício que Jesus fez por nós, de passar 40 dias no deserto. Desde pequena eu aprendi com meus avós a não comer carne, principalmente na Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa. A igreja Católica recomenda que não se coma carne vermelha e nem o frango, pois é algo prazeroso, e por isso não se deve comer, a fim de renunciar aos desejos carnais e fazer a vontade de Deus. A carne de peixe é aceita pela igreja por não trazer saciedade. Na minha família temos o costume de fazer muito bacalhau na Sexta-feira Santa, mas nos últimos anos esse tipo de peixe ficou muito caro, sendo substituído por outros.”
Amine Halabi do Vale também explica que segue a tradição católica de não comer carne vermelha ou frango na Sexta-feira da Paixão. “Eu e minha família não comemos carne e substituímos por peixe, mas nem sempre tem que ser o bacalhau. Apesar de ser um peixe com sabor especial, o mais importante é a abstinência por carne, além do jejum e oração. Estive pesquisando o preço do bacalhau, mas está de assustar. Teve um grande aumento, e fica difícil fazer um almoço para toda a família com ele. Pensei em fazer pelo menos uma torta com lascas de bacalhau, que são bem mais em conta. E completar o almoço com um peixe mais em conta mesmo.”
Maria das Graças Silva Oliveira destaca que este período da Semana Santa não é só se abster de algum tipo de alimento específico, mas de manter viva a fé que professa. “Manter viva nossa fé, nossa crença de que Deus nos enviou seu filho pra morrer uma morte de cruz para nos salvar. Já em relação à Sexta-feira da Paixão, aqui em casa costumo fazer o peixe de duas formas: moqueca e o frito. Eu sempre vou a região de praia no Carnaval e trago um peixe de água salgada, a tainha. Quando não tenho, aí providencio uma traíra e faço recheada, sem espinha.”