Melhores práticas para acolhimento de mulheres foram debatidas durante o 3º Seminário Integrado de Prevenção à Violência Doméstica, promovido pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública, Polícia Militar e Polícia Civil
Cerca de 1.200 policiais militares, policiais civis e profissionais que atuam na política de prevenção à criminalidade participaram, na manhã desta quinta-feira (26/11), do 3º Seminário Integrado de Prevenção à Violência Doméstica.
Realizado de forma semipresencial, com transmissão ao vivo pelo YouTube, o evento teve como objetivo qualificar o atendimento às vítimas a partir da capacitação dos profissionais de Segurança Pública que trabalham diretamente com o enfrentamento à violência contra a mulher e ao feminicídio.
Promovido pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Polícia Militar de Minas Gerais e Polícia Civil de Minas Gerais, o seminário abordou como é feito o trabalho de prevenção à violência de gênero, a necessidade de evitar a revitimização da mulher que sofre a agressão e a importância de qualificar os registros das ocorrências para garantir a maior proteção das vítimas.
Além de policiais militares, policiais civis e profissionais da política de prevenção social à criminalidade, também participaram da capacitação convidados externos que compõem a rede de enfrentamento à violência contra a mulher, incluindo representantes do Ministério Público de Minas Gerais, Defensoria Pública de Minas Gerais e Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
O evento teve entre seus encaminhamentos o alinhamento das forças de segurança pública e o início dos estudos qualificados para a inserção do chamado Formulário de Avaliação de Risco no Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), o antigo boletim de ocorrência.
A ideia é fornecer mais elementos e um detalhamento qualificado das ocorrências para que os magistrados consigam aplicar de forma mais eficaz as devidas punições aos agressores e as medidas protetivas às vítimas.
“Vamos trabalhar para aperfeiçoar o nosso sistema Reds, para dar qualidade ao registro da ocorrência, de modo que essa mensagem consiga chegar ao magistrado na hora de baixar uma sentença”, explicou o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, General Mario Araujo.
Em sua fala na abertura do evento, o secretário ressaltou a importância da mobilização das forças de segurança para melhor enfrentamento do crime: “Além de saber fazer, é preciso querer fazer. Não adianta fazermos um discurso bonito se o nosso policial na ponta da linha, seja militar ou civil, não quiser participar desse processo de construção de uma sociedade mais pacífica”, afirmou.
“A partir daqui, vamos criar uma doutrina integradora no enfrentamento à violência doméstica. Vamos reunir todo esse conhecimento e trazer para uma doutrina única, um ambiente integrador, procurando preservar a institucionalidade de cada seguimento”, completou.
Esforços conjuntos
As ocorrências de feminicídios consumados em Minas Gerais apresentaram queda de 9,24% em 2020. Foram registrados 108 casos entre janeiro e outubro deste ano, contra 119 no mesmo período do ano passado. Os números de violência doméstica e familiar contra a mulher também estão em queda, passando de 124,2 mil entre janeiro e outubro de 2019 para 121,5 mil no mesmo período deste ano.
Apesar dos avanços, o chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, delegado-geral Wagner Pinto, reconheceu, durante seu pronunciamento no seminário, que ainda é preciso avançar e aprimorar o trabalho de enfrentamento a essa violência.
“Nós, enquanto elo de Segurança Pública, temos que combater veementemente esse tipo de violência de gênero. Não é permitido mais que as mulheres permaneçam enclausuradas em seus lares e silentes em decorrência de tamanha violência. Nós da Polícia Civil estamos diuturnamente capacitando nossos policiais civis para que proporcionem um trabalho técnico e investigativo de qualidade”, ressaltou.
Também presente na cerimônia de abertura do seminário, o comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel Rodrigo Sousa Rodrigues, destacou a importância do trabalho conjunto das forças de segurança e também a especificidade da Polícia Militar, por sua presença nos 853 municípios mineiros.
“Nós temos uma atribuição a mais: estamos próximos da vítima e temos que ter uma percepção e um olhar direcionados à violência doméstica, para evitar que as ocorrências aumentem. A intervenção do nosso policial militar na ponta da linha vai fazer a diferença, para o bem, ou para o mal. E nossos esforços são para que aquela intervenção seja sempre para o bem daquela pessoa”, destacou.
“Juntos podemos sempre fazer mais. E é essa atuação direcionada, com metodologia e planejamento, que vai permitir o nosso sucesso”, ressaltou.
Em mensagem de vídeo enviada para transmissão no evento, o governador Romeu Zema lançou o desafio de as forças de segurança trabalharem cada vez mais para que Minas se torne o Estado referência no Brasil em redução da violência doméstica.
“Esse tema sempre me preocupou muito, desde meu primeiro dia de governo. A violência contra a mulher tem de ser constantemente combatida. Tivemos avanços, sim, neste período, mas considero esses avanços ainda tímidos. Precisamos ir muito além, daí a importância deste evento”, pontuou Zema.
O seminário
Após a cerimônia de abertura do seminário, a subsecretária de Prevenção à Criminalidade da Sejusp, Andreza Gomes, ministrou uma palestra abordando as principais estratégias necessárias para o combate à violência de gênero.
“As causas da criminalidade são diversas, então as estratégias de enfrentamento não podem ser únicas. Precisamos juntar esforços e estratégias nesse combate”, destacou.
A subsecretária apresentou os fatores de risco e os fatores de proteção relacionados ao ciclo da violência doméstica e detalhou o trabalho desenvolvido pela Secretaria tanto no âmbito da sensibilização e acolhimento das vítimas quanto na responsabilização dos agressores.
“Nosso objetivo é avançar no aprimoramento e qualificação dos profissionais, e esse seminário é um passo importante para avançarmos no que é prático, no fazer do dia a dia”, afirmou.
Em seguida, a delegada Luísa de Oliveira Drumond, da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) de Belo Horizonte, abordou formas de os profissionais de Segurança Pública evitarem a revitimização em casos de violência doméstica, familiar e sexual contra a mulher.
“A revitimização é um sofrimento adicional imposto à vítima. Reconhecermos eventuais falhas do nosso dia a dia é o primeiro passo para evoluirmos enquanto servidores da Segurança Pública”, destacou a delegada. “Não cabe a nós julgar moralmente o que a vítima diz. Mas acolher, fazer uma escuta atenta, documentar e dar os devidos encaminhamentos do inquérito”.
A última palestra foi do diretor de Operações da Polícia Militar, coronel Alexandre Magno. O coronel explicou aos policiais a importância de um preenchimento completo do Reds para contribuir com a quebra do ciclo da violência.
“Precisamos buscar relatar a veracidade dos fatos que o policial presencia. É esse boletim de ocorrência que vai subsidiar as ações subsequentes, por isso é nossa função fazer o preenchimento qualificado, com dedicação. Só assim identificaremos os casos de maior gravidade ou de reincidência”, afirmou.
Participaram também do 3º Seminário Integrado de Prevenção à Violência Doméstica a defensora pública Maria Cecília Oliveira, da Defensoria Especializada na Defesa dos Direitos da Mulher em Situação de Violência de Belo Horizonte; a promotora de Justiça Patrícia Habkouk, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Ministério Público de Minas Gerais; e a desembargadora Ana Paula Nannetti Caixeta, superintendente da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.