O que esperar para o futuro da educação pós-pandemia?

Confira a entrevista do DRD com a pedagoga Karla Nascimento

A pandemia de Covid-19 trouxe consequências inimagináveis para os mais diversos setores. Com a necessidade de paralisar aulas por todo o país, para manter o distanciamento social e evitar a disseminação da doença, a educação sentiu os impactos do novo coronavírus.

Crianças e adolescentes de todo o país tiveram de trocar a rotina escolar pelas aulas a distância, pela internet ou pela TV. Mas, será que as escolas e professores estavam preparados para essa nova realidade? E os alunos? Será que isso vai deixar impactos para o futuro da educação? Confira a entrevista do DRD com a pedagoga Karla Nascimento.

DRD – Como podemos avaliar o cenário atual da educação?

Karla Nascimento – Nas últimas décadas foi possível perceber uma presença cada vez mais pujante das tecnologias digitais da informação e comunicação na educação. A pandemia do novo coronavírus e as determinações do Ministério da Educação para substituir as atividades presenciais por atividades remotas, como medida preventiva à disseminação do vírus, intensificaram a utilização dessas tecnologias como mediadoras do processo educativo.

Os impactos são muitos, pois a Educação não evoluiu na mesma medida das tecnologias. Faz-se necessário maior investimento em ciência e tecnologia, em equipar as escolas brasileiras, sobretudo as escolas públicas e do campo, com computadores e acesso à internet. É necessária a formação de professores para o uso das tecnologias com intencionalidade pedagógica.

DRD – Essa preparação já tem acontecido?

Karla Nascimento – Sim. No curso de Pedagogia da Univale, que eu coordeno, por exemplo, em cumprimento à diretriz de formação de professores vigente, há uma disciplina específica sobre tecnologias na educação, buscando preparar as futuras pedagogas e professoras para seu uso pedagógico, buscando uma compreensão para além da perspectiva instrumental das tecnologias, mas também para a forma como ela altera as relações sócio-espaciais, além de perpassar transversalmente por todo o percurso formativo dos estudantes.

DRD – E o que podemos dizer sobre essa relação entre escola e tecnologia?

Karla Nascimento – A escola, como a conhecemos, sempre esteve marcada por uma estrutura de tempos e espaços fixos que as tecnologias, com sua forma fluida e dinâmica, tensionam o tempo todo. Esse é um dos grandes desafios que impulsionam mudanças pedagógicas. Compreender que a escola não é mais o único espaço de acesso ao conhecimento, mas que ele transita velozmente pelas redes interconectadas, rompendo as fronteiras do tempo e do espaço.

DRD – E como isso impacta no papel do professor?

Karla Nascimento – Nesse cenário, o professor não é mais aquele que transmite o saber, mas aquele que faz a mediação entre estudante e o processo de construção de conhecimentos, provocando a curiosidade, instigando a busca, a pesquisa, a reflexão e a criticidade.

Não é porque as informações estão disponíveis na rede que a figura do professor/pedagogo desaparecerá. Ele é o personagem fundamental para ajudar a conduzir o processo educativo, para selecionar conteúdos de reconhecido valor científico, ao mesmo tempo em que reconhece os saberes populares, da vida que pulsa nas comunidades, nos bairros, nas ruas, no reconhecimento dos vários territórios educativos.

A mudança é paradigmática e vai impelir cada vez mais os professores ao desconhecido, para que sejam aprendizes, para que saibam lidar com as incertezas desse tempo, para que estejam dispostos a mudar, a se reinventar, não pensando que serão substituídos pelas tecnologias, mas para integrá-las aos processos educativos que nascem e emergem em uma cultura digital que não pode ser desconsiderada.

A presença do professor/pedagogo sempre será fundamental, pois é ele quem gerencia, planeja e executa, avalia e redireciona o processo educativo, visando sempre à educação integral dos sujeitos, em todas as suas dimensões, cognitiva, emocional, social e cultural. Somos nós que, por meio da educação, buscamos uma sociedade mais igualitária, mais justa, mais solidária, no reconhecimento da educação como prática humanizadora, transformadora, libertadora, pautando-nos pelo respeito às diferenças, pelo apreço à tolerância e pela construção de uma cultura de paz.

DRD – Que recado você gostaria de deixar pedagogos e professores neste momento tão complicado?

Karla Nascimento – A Pedagogia, como ciência da educação, precisa de profissionais que, para além de dominar as técnicas, possam abraçar a vida, possam amar as gentes e o mundo, como nos conclamou o maior educador brasileiro de todos os tempos, Paulo Freire. No reconhecimento e na luta por essa educação, como ato de amor e de coragem, é preciso continuar lutando pela qualidade da educação como um direito, desde a básica à superior, pela inclusão de todos e de todas, pelo reconhecimento da ciência como promotora de conhecimento e pela valorização dos profissionais da Educação, que neste momento estão dando um show de como podem se superar a cada dia, apesar de tudo.

Currículo: Karla Nascimento de Almeida é bacharel em Jornalismo pela Universidade Vale do Rio Doce (Univale) e pedagoga graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É mestre em Gestão Integrada do Território pela Univale, com dissertação de título “Conexões rizomáticas: ciberterritorialidades docentes e discentes”.

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