Mudanças meteorológicas já são sentidas desde o início de junho
Na última quarta-feira, dia 21, às 11h58, começou oficialmente o inverno. Essa data marca a mudança astronômica da estação. “Em 21 de junho, o sol está perpendicular ao Trópico de Câncer, no hemisfério Norte. Assim, astronomicamente, começa o verão no hemisfério Norte e, consequentemente, o inverno aqui no hemisfério Sul. Para nós, é o solstício de inverno”, explica o professor Fulvio Cupolillo, especialista em Geografia e Climatologia do Instituto Federal de Minas Gerais, em Governador Valadares.
Na prática, já é possível perceber a mudança de estação desde o início de junho. Lembra das manhãs e madrugadas frias em Valadares? Isso é inverno. Na maior parte do país, as mudanças meteorológicas não seguem estritamente o calendário astronômico, e a percepção da variação da sensação térmica pode passar despercebida.
“Faz cerca de duas semanas que a estação de inverno começou para nós. Nesse período, tivemos alguns dias com temperaturas mais baixas em Valadares. No domingo, dia 18, os termômetros chegaram a cerca de 11°C, registrando a temperatura mais baixa do mês de junho até agora”, informa Fulvio Cupolillo.
O professor também explica que, em Valadares, não temos as estações bem definidas, como primavera, verão, outono e inverno. Na verdade, temos duas estações: a estação seca, de abril a setembro, e a estação chuvosa, de outubro a março.
Portanto, quando falamos que o inverno começou, no Brasil, estamos nos referindo a um período com umidade relativa do ar mais baixa, diretamente relacionado ao clima seco e com maior variação de temperatura durante o dia.
“Junho é um mês em que as manhãs começam a ser um pouco mais frias e as tardes mais quentes. Por isso, há uma amplitude térmica, ou seja, a diferença entre a temperatura máxima e mínima, que já é maior durante o dia. Quando chegar julho, a tendência é que essa amplitude aumente, ou seja, manhãs mais frias e tardes ainda quentes”, detalha o professor.
El Ninõ
Em 2023, as mudanças meteorológicas que ocorrem normalmente nesse período podem ser ainda mais intensas devido ao fenômeno El Niño, que afeta a região do oceano Pacífico, aquecendo suas águas e impactando todo o globo, especialmente a América do Sul. A projeção é que este seja um dos maiores dos últimos anos, com a temperatura das águas oceânicas até 4°C acima da média.
Com a possibilidade de umidade abaixo da média histórica, prevê-se um aumento na propagação de incêndios florestais. Normalmente, o mês de setembro é o período de alerta para esse tipo de ocorrência em nossa região, mas, devido aos efeitos do El Niño, os institutos de meteorologia anteciparam essa previsão para o final de julho e início de agosto. Esse período do inverno pode afetar diretamente o agronegócio, com queda na produção e maior necessidade de investimento em irrigação devido à seca.
Além disso, há preocupação com os efeitos da umidade mais baixa na saúde da população, especialmente em relação a doenças respiratórias, que tendem a se agravar. “Com a umidade relativa do ar abaixo de 30%, as pessoas começam a sentir os efeitos da mudança de tempo, o que não é adequado para nós, que vivemos na Mata Atlântica. Somos adaptados a umidade superior. Portanto, quando a umidade está em torno de 30%, as pessoas já podem apresentar desconfortos”, alerta Fulvio Cupolillo.
Se o modelo meteorológico previsto se concretizar, com a continuação da baixa umidade relativa do ar e aumento das temperaturas, espera-se que o verão seja ainda mais rigoroso. Ou seja, no final do ano, são esperadas temperaturas mais altas.
“Quando temos um El Niño muito forte, algumas características do nosso inverno são afetadas. As manhãs são frias, mas não tanto; as tardes são mais quentes do que o normal; a umidade relativa do ar fica mais baixa; e a entrada de frentes frias quase não ocorre, pois o El Niño forma uma barreira no sul do Brasil. A massa de ar seco permanece sobre as regiões Sudeste e Centro-Oeste, e não chove. Isso acontece todos os anos, mas, em anos de El Niño, o período de seca se intensifica”, destaca o professor especialista em Geografia e Climatologia.