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Novo chefe de Hong Kong cumpre promessa de obedecer à China ao anunciar propostas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O novo chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, afirmou que sua gestão priorizará o aumento da competitividade e a atração de talentos estrangeiros em um momento em que a ilha perde a importância para cidades asiáticas rivais, como Singapura. Só a palavra “talento”, aliás, foi usada quase 60 vezes pelo líder em discurso de quase três horas nesta quarta (19).


Lee ainda reforçou a submissão da ilha à China continental no pronunciamento, destacando a necessidade de aumentar a segurança nacional -e repetindo, assim, as palavras de Xi Jinping no Congresso do Partido Comunista Chinês em Pequim no início desta semana.


Alguns governos do Ocidente veem um paradoxo entre essas duas metas. Eles consideram que o rebaixamento de Hong Kong da posição de hub financeiro número um na Ásia se deve à própria erosão de direitos e liberdades no território nos últimos anos, que teriam prejudicado o ambiente de negócios e exacerbado a “fuga de cérebros”.


Lee, que assumiu a liderança de Hong Kong este ano, foi um dos principais responsáveis pela adoção de uma linha dura à repressão ao movimento pró-democracia na região, tendo atuado como chefe de segurança entre 2017 e 2021.


Com uma limitada experiência de gestão financeira, ele enfrentará vários desafios para retomar o crescimento de Hong Kong -a economia da ilha encolheu em 1,3% no segundo trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2021.


A região administrativa ainda foi abandonada por mais de 200 mil honcongueses e estrangeiros só nos últimos dois anos, afetados pela restrição das liberdades políticas e pela política estrita de controle da pandemia da China.


Lee anunciou uma série de medidas para voltar a atrair residentes para a ilha. Uma delas é a emissão de vistos de residência de dois anos para indivíduos com salários de mais de US$ 318 mil, ou que tenham se formado em uma das cem melhores universidades do mundo e tenham ao menos três anos de experiência no mercado de trabalho.


“Além de cultivar e reter talentos locais ativamente, o governo também buscará talentos pelo mundo de maneira proativa”, disse o líder.


Ele ainda afirmou que o regime investiria o equivalente a US$ 3,8 bilhões na moeda local em um “fundo de co-investimento” para atrair empresas. Ele acrescentou que a bolsa de valores pretende revisar suas regras de modo a facilitar a entrada de iniciativas de alta tecnologia no ano que vem.


Hong Kong retirou a quarentena obrigatória para todos os visitantes no mês passado, depois de seguir à risca a política de Covid zero chinesa ao longo de toda a pandemia. Os setores do turismo e da gastronomia foram profundamente prejudicados pelos lockdowns prolongados e o fechamento da fronteira com o continente, vital para a economia. Lee afirmou que continua a negociar a retomada do trânsito entre fronteiras com as autoridades chinesas.


No que se refere ao mercado imobiliário -um dos problemas mais espinhosos da ilha, que tem um dos metros quadrados mais caros do mundo-, Lee prometeu ceder terrenos o suficiente para a construção de 72 mil unidades residenciais nos próximos cinco anos. A oferta de moradias populares também aumentará em 50% no mesmo período, com a conversão de mais da metade das localidades semi-industriais subutilizadas da cidade.
O chefe do Executivo não anunciou a flexibilização das medidas de congelamento dos preços de propriedades implementadas ao longo da última década, no entanto. A falta de menção à questão decepcionou o mercado imobiliário, que viu seus preços caírem em cerca de 10% este ano.


Por fim, as leis propostas para aumentar a segurança nacional na ilha buscam controlar ainda mais a internet, regulamentando áreas como cibersegurança, atividades de crowdfunding e controle de informações falsas. Lee não divulgou um cronograma para o cumprimento desses planos.


Devolvida à Pequim 25 anos atrás, após passar um século e meio sob domínio britânico, a cidade tem vivido uma disparada da repressão à dissidência política recentemente. Em 2019, antes dos protestos que paralisaram a região administrativa chinesa, havia apenas 26 pessoas presas por motivos políticos. Hoje, elas são 1.163, de acordo com o Hong Kong Democracy Council (HKDC), entidade formada por expatriados com sede em Washington, nos Estados Unidos.

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