Mesmo com a alta do arroz, valadarenses não devem deixar de comprar o produto

O alimento foi atingido pela inflação durante a pandemia e teve um aumento de até 20% no valor.

Na última quarta-feira (9), uma fala do presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto, repercutiu bastante entre os brasileiros, após uma reunião entre ele e o presidente Jair Bolsonaro. De acordo com João, deve ocorrer uma campanha nacional para que o brasileiro substitua no cardápio o arroz pelo macarrão.

Sendo assim, o preço dos alimentos foi um dos destaques da alta da inflação durante o mês de agosto – o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,24%. Dois produtos mais atingidos chamaram a atenção: o arroz, com valorização de 19,2% e o óleo de soja, que subiu 18,6%.

Em conversa com a equipe do DRD, a doutora em nutrição Bárbara Nery explicou que o macarrão pode ser uma alternativa ao arroz, entretanto, não é a única. Inclusive, considerando a composição nutricional dos alimentos, o macarrão talvez nem seja a opção mais barata ao arroz.

“O arroz é um cereal, assim como milho, trigo, centeio, aveia, cevada, amaranto, sorgo e quinoa. Todos eles apresentam características semelhantes, principalmente em relação à composição nutricional (carboidratos, proteínas e aminoácidos, gorduras, vitaminas e minerais). Dessa forma, não só o macarrão, mas qualquer outro cereal pode ser utilizado em substituição ao arroz. Nessa situação específica, em que o custo é o ponto principal, cabe avaliar o cereal que apresenta custo mais baixo em comparação ao arroz. Trigo e milho e seus derivados configuram boas opções.”

Bárbara Nery, doutora em nutrição

Ainda de acordo com Bárbara Nery, além dos cereais já mencionados, os tubérculos, como batatas, inhame e mandioca, também podem ser consumidos no lugar do arroz, para compensar o carboidrato da refeição. Além disso, outros alimentos oferecem carboidratos em menor proporção, como as leguminosas, frutas e até mesmo alguns vegetais.

A nutricionista ainda ressaltou a importância do arroz, que é rico em carboidratos e “um alimento nutritivo, que pode ser mantido em qualquer tipo de padrão alimentar, respeitadas apenas a quantidade e a proporcionalidade em relação a outros grupos de alimentos, mantendo uma alimentação saudável e equilibrada”, explicou Bárbara.

Como os valadarenses estão encarando a alta do arroz?

A equipe do DRD foi às ruas para entender como a população está reagindo ao aumento no preço do alimento. Apesar da alta do alimento, os valadarenses não parecem dispostos a retirar ou, ao menos, diminuir a quantidade de arroz do cardápio.

Ney Gerais, de 54 anos, dono de uma oficina de bicicletas, reclamou do preço do arroz, mas disse que não vai deixar de comprar, porque o come todos os dias. “Está caro mesmo (o arroz). Hoje em dia é mais de 30 reais um saco, sendo que há pouco tempo atrás eu pagava cerca de 10 reais. Mas, mesmo assim, é um saco de arroz de vez em quando. Não dá para esperar o preço baixar de novo para voltar a comprar. Não dá para almoçar sem um arrozinho.”

O entregador Orlando Augusto, de 23 anos, culpou os parlamentares pela alta do alimento e disse que a fala do presidente da Abras tem mais interesse político do que em baixar o preço do arroz. “Na minha opinião, ninguém vai deixar de comprar arroz e eu me incluo nessa. Por que essa fala de substituir (o arroz) pelo macarrão veio de um empresário e não de algum profissional da saúde? Se o preço do arroz está alto, os políticos deveriam baixar os impostos para os valores ficarem mais acessíveis à população. O Brasil é um dos países com mais impostos e a gente ainda tem que ficar sem comer arroz, que é um alimento básico?”

Por fim, a aposentada de 85 anos Zilda Brandão também disse que não vai retirar o arroz do seu cardápio e reclamou da alta. Segundo ela, se depender da população não comprar, o preço não vai baixar. “Eu como bem pouquinho, mas se tem uma refeição que não posso dispensar é o almoço. Na refeição mais importante do meu dia eu não vou comer arroz? Claro que está muito caro. Inclusive, é um absurdo pagar 34 reais por um saco (de arroz), mas é um alimento que rende por muito tempo. Agora, se depender da população brasileira não comprar para que o arroz fique mais barato, eu garanto que não vai dar certo. O presidente e os políticos devem criar alguma medida para controlar a inflação, porque eles não têm direito de pedir à população para não comer arroz.”

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