Maio é considerado o mês de muitas coisas: das mães, das noivas… Mas para mim o título mais significativo é que é o mês nerd do ano.
Isso se dá porque em maio nós temos duas comemorações de muito peso para os nerds do mundo afora: o mais significativo é o Dia da Toalha, 25 de maio (sim, eu não vou entrar em detalhes porque vou escrever toda uma coluna sobre ele daqui a algumas semanas); mas, quase tão famoso como é o “May the 4th Be With You!”, o Dia do Star Wars.
A data vem do trocadilho das sonoridades das palavras: “May 4th” (e eu nunca vou entender porque raios os norte-americanos põem o mês antes do dia; mas o que esperar de um país que usa “pés e polegadas” como unidade de medida?) tem uma sonoridade muito parecida com “May The Force”, metade de uma das frases mais icônicas da franquia Star Wars, “May The Force Be With You” (Que A Força Esteja Com Você). A ideia pegou muita força nos últimos anos, tanto que a Nintendo está querendo copiar o feito e lançar 10 de Março (no modo norte-americano de escrever “Mar 10”) como o Dia do Mario (eu acho que o trocadilho aqui é autoexplicativo: Mar10… MarIO… Percebeu?), mas essa ideia ainda não pegou.
Um dos grandes movimentos que a Disney (atual dona dos direitos da Star Wars) tem feito para popularizar a data é usar o dia 4 de Maio como data de lançamento para muitos produtos da franquia. E este ano não vai ser diferente.
Antes de continuar, eu sei que isso não deve ter gerado muita animação para a maioria dos leitores: não que eu ache que não existam fãs de Star Wars lendo esse artigo, isso é quase impossível, levando em conta que essa é uma das franquias mais populares (e lucrativas) do mundo. Até mesmo uma pessoa que nunca tenha visto nenhum filme (e eu me pergunto porque uma pessoa em sã consciência abriria mão dessa experiência, nem que fosse para descobrir sua opinião sobre o assunto) consegue reconhecer os personagens e diversos elementos dessa galáxia muito distante, provavelmente sabe até citar uma fala ou outra dos filmes.
Sim, eu acredito que há fãs de Star Wars lendo esse artigo, só não acredito que eles estejam muito empolgados com o futuro da franquia. Uma sensação mais que justa, levando em conta a qualidade (ou melhor, a falta de qualidade) do roteiro dos últimos três filmes: “The Last Jedi”, “Solo” e “The Rise Of Skywalker”. Eu sou o primeiro a admitir que esses três títulos são possivelmente o top 3 piores filmes da franquia (apesar de “Phantom Menace” estar no páreo). Verdade seja dita é que eu sou um fã muito chato (e atípico) de Star Wars: só gosto realmente de 4 dos 11 filmes (sendo eles a trilogia original e “Rogue One”, que, me fazendo mais atípico ainda, é meu preferido). E, me permitindo um adendo, só quero dizer porque sustento firmemente uma opinião tão impopular como ter Rogue One como o preferido na franquia, o filme com menos Jedi/força/tantos outros elementos que fazem Star Wars ser um sucesso. Eu acredito que tudo se resuma a um simples motivo: a Rebelião. Eu nunca gostei de Star Wars pelos jedi ou pela força (são elementos que me agrada, mas não são o motivo) e sim porque os filmes são sobre um grupo de combatentes da liberdade lutando contra a opressão e tirania de uma ditadura militar espacial que se mantêm no poder por meio da violência, censura, propaganda (como “trazer ordem para galáxia” e “seria pior sem nós”), notícias falsas, repressão, tortura e outras táticas típicas de governos fascistas. Eu tanto prefiro esse lado Rebelião do universo Star Wars, que meus personagens preferidos sempre foram Leia e R2-D2.
Dito isso, voltemos ao tema principal: então, se não gosto da maioria dos filmes, como posso ser um fã de Star Wars?
Porque Star Wars é muito mais que apenas os filmes.
Uma coisa tem que se dizer sobre George Lucas (e mais tarde da Disney): eles souberam capitalizar no sucesso da franquia, lançando todo tipo de produto da marca. E quando digo “todo tipo”, eu realmente quero dizer “TODO TIPO”. Uma grande parte são tiros no pé, como o especial de natal de 1978 e a pasta de dente do Bibi Fortuna (o personagem com a pior dentição de toda a franquia! Eu juro que não entendi o que eles estavam pensando nesse caso). Ambas essas coisas, infelizmente, existiram; pode pesquisar no Google.
Mas muitas das coisas “além-filmes” são Star Wars em sua melhor forma. Os livros são um ponto fortíssimo, sendo que para mim a melhor coisa de toda a franquia é a chamada Trilogia de Thrawn: “Herdeiro do Império” (1991), “Ascensão da Força Sombria” (1992) e “O Último Comando” (1993). E, sim, estou deixando aqui como indicação. Na verdade, a maioria dos livros de Star Wars escritos por Timothy Zahn, o autor dessa trilogia, vale a pena. Outros livros (de vários autores) no universo Star Wars que eu recomendo: “Canalhas” (2018), “Darth Plaigues” (2016), “Thrawn” (2017), “Um Novo Amanhecer” (2015), toda a série “X-Wing” (1996 – 2012) e (que eu não posso deixar de citar, porque é o livro preferido da única pessoa para quem posso ligar para conversar de Star Wars) “Kenobi” (2015).
Outra mídia onde Star Wars tem mostrado uma maestria muito maior que no cinema tem sido a televisão. Desde 2003, com a série “Clone Wars”, uma animação 2D dirigida pelo lendário Genndy Tartakovsky, Star Wars vem deixando claro que a franquia mostra seu melhor não na tela grande, mas na telinha. E isso só continuou quando em 2008, trouxeram David Filoni para comandar essa divisão da marca. Ele (que com os anos viria a ser identificado pelos fãs como David “a melhor coisa que já aconteceu com Star Wars” Filoni) lançou a altamente aclamada série “Clone Wars” (eu sei que é o mesmo nome da outra, mas elas são diferentes; normalmente para fazer a distinção, as pessoas chamam a primeira de “a série 2D” e essa de “a série 3D”) em 2008. Depois, em 2014, lançou “Rebels” uma série que dá continuação à história de “Clone Wars” agora na era do Império. Mais recentemente, em 2020, ele trabalhou no projeto de Jon Favreau, a famosa série live-action “The Mandalorian” (que você no mínimo viu os memes do “baby Yoda”).
Todas essas séries são excelentes, tanto que “The Mandalorian” e a sétima temporada de “Clone Wars” figuram nas duas primeiras posições de mais vistos no Disney+.
Por essa qualidade consistente, tenho esperanças no que virá da franquia Star Wars: a terceira temporada de “The Madalorian” está confirmada; vários favoritos dos fãs vão ter sua chance ao sol como Bobba Fett no, já atualmente em gravação, “The Book of Boba Fett”; a personagem Ahsoka Tano também vai ganhar sua própria série live-action com a atriz Rosario Dawson; uma minissérie do tempo de Obi-Wan Kenobi em Tatooine foi anunciada; há boatos de que a personagem Hera Syndulla possa ganhar sua própria série como “Rangers Of The New Republic”; outro boato é uma série continuação de “Rebels”.
Mas para não ficar só na promessa, esse May 4th já nos traz um lançamento: “The Bad Batch”. Um spin-off de “Clone Wars” que vai acompanhar o titular “lote ruim” de clones que (aparentemente) se recusou a executar a ordem 66 e trair a Ordem Jedi, assim como se recusa a juntar-se ao recém-formado Império e por isso estão sendo caçados. Se as séries anteriores são alguma indicação, podemos esperar uma grande qualidade vinda de “The Bad Batch” (e o trocadilho não é intencional).
É claro que posso estar profundamente errado sobre esperar boas coisas de Star Wars. O futuro da franquia pode ser sombrio (acho improvável que tão ruim quanto os três últimos filmes, mas ainda sim sombrio). Mas uma mensagem que Star Wars sempre tentou passar (além de combate à tirania e ditadura em todas suas formas) é a de esperança… Então, porque não nutrir essa esperança? Quem sabe até rever “A New Hope” só pra reacender a chama?
No mais, nesse May 4th, só posso desejar que “may the force be with you, always” (que a força esteja com você, sempre).
As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal