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Maioria dos jovens não conversa com os pais sobre sexo, mostra Datafolha

Menos da metade dos jovens brasileiros conversam com os pais sobre assuntos considerados tabus. Aqueles que falam com os pais sobre consumo de drogas são 47%, enquanto os que falam sobre problemas com seus namorados 45%. Se o assunto é a vida sexual, o número cai para 40%, revela pesquisa do Datafolha.

Temas considerados menos delicados, como o desempenho escolar, é tema de diálogo para 67% deles, e o consumo de bebidas alcoólicas, 57%.

O levantamento também mostrou que as mulheres têm mais disposição do que os homens para falar sobre todos os assuntos questionados.

A maior discrepância é em relação aos problemas de relacionamento, em que 51% delas declaram conversar com os pais contra 39% deles, seguido por consumo de drogas, com 50% das mulheres e 39% dos homens, e vida sexual, com 43% contra 37%.

Para essa pesquisa, o Datafolha ouviu mil jovens de 15 a 29 anos, de 12 capitais brasileiras, entre os dias 20 e 21 de julho deste ano. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Especialistas consultadas pela Folha de S.Paulo dizem que adolescentes buscam independência em relação aos pais e, por isso, é normal que evitem falar sobre alguns assuntos. A diferença geracional e a facilidade dos jovens em buscar informações por outros meios como a internet podem acentuar a dificuldade em estabelecer diálogo.

Para Manuela Moura, psicóloga na UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em terapia de casal e família, a abertura para conversar sobre esses assuntos deve partir dos pais, mesmo que pensem diferente dos filhos. Para isso, é necessário que os tabus sejam deixados de lado -o sexo, as drogas e os relacionamentos fazem parte da vida e, por isso, precisam ser discutidos.

“Para ouvir o que seu filho ou sua filha tem a dizer, você não precisa concordar. Eles vão dizer coisas que são diferentes, você vai dizer que discorda, mas que isso seja feito de um jeito que não seja pela via da violência, dos xingamentos e da desqualificação”, afirma.

É o caso da estudante de arquitetura Rafaela Azevedo Neves, 21, moradora de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Rafaela diz que ela e a irmã sempre tiveram abertura para conversarem sobre tudo com os pais, mesmo assuntos considerados polêmicos. O acolhimento que sentem desde a infância foi determinante para estabelecer esta confiança, afirma.

O projetista Flávio José Neves, 53, pai das meninas, afirma que esta era uma preocupação da família. Ele e a mãe, a vendedora Luciana Azevedo Neves, 51, temiam que, caso se isentassem de conversar sobre temas difíceis dentro de casa, elas se informariam sobre eles por meio dos amigos ou pela internet.

“Se a gente criar esses tabus aqui dentro, vai vir de fora. Vindo de fora, a gente não sabe como vai chegar”, diz Luciana.

Para a psicóloga da UFBA, esse tipo de dinâmica familiar faz com que o jovem entenda que pode contar com a família, mesmo que pensem diferente. Por outro lado, quando os pais adotam posturas muito críticas e combativas, isso pode se transformar em afastamento e falta de confiança.

Hostil é a palavra que Evelyn Xavier, 22, usa para descrever a reação da sua mãe quando soube que a filha fez sexo pela primeira vez. Moradora de São Paulo, a estudante sempre morou apenas com a mãe, de quem era muito próxima. Aos 15 anos, quando mudou de escola para cursar o ensino médio, a relação entre elas começou a mudar.

O contato com pessoas diferentes fez com que a então adolescente se aproximasse de ideias mais progressistas e se envolvesse com pautas sociais, como o feminismo. Sua mãe, porém, não aprovou a mudança. Quando a estudante deixou de acompanhá-la em cultos evangélicos, esse afastamento se intensificou.

Embora Evelyn não culpe a mãe pela forma como reagiu em relação às mudanças da filha, a jovem afirma que teria tido menos dificuldade se tivesse conversado sobre as novas experiências dentro de casa.

“Todo mundo sabe que se você vai começar a transar precisa usar camisinha. Eu sabia que precisava usar, mas não sabia como colocar, por exemplo. Muita coisa eu só aprendi depois que comecei a fazer. Isso eu acho que poderia ter sido melhor trabalhado se tivesse acontecido uma conversa anterior”, diz.

Para a psicóloga Talita Fabiano de Carvalho, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, devido a falta de suporte e o despreparo de alguns pais, a escola deve estar capacitada para assumir esse papel, além de criar um ambiente em que assuntos sejam discutidos e ensinados sem tabus.

Para as especialistas ouvidas, a autonomia do jovem é importante para o amadurecimento, mas a liberdade para conversar abertamente com os pais sobre qualquer assunto é fundamental para a construção da maturidade e da confiança emocional.

O principal passo para estabelecer essa confiança é a alteridade -é preciso entender que o jovem pode pensar de maneira diferente e que isso precisa ser respeitado. LUIZ PAULO SOUZA/FOLHAPRESS

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