INCONFIDÊNCIAS – Isto, sim, é Quaresma

FOTO:Divulgação.

A nossa transformação ou conversão se dá efetivamente no acolhimento das propostas de Deus para o transcorrer da nossa caminhada humana, que podemos refletir neste tempo quaresmal.. Porém, a ideia do exercício dos pilares, ou ideias centrais deste tempo (jejum, esmola e oração), é muitas vezes mal interpretada.

Há várias opções de estudo acerca deste tempo. Por exemplo, lendo e refletindo o livro “A Quaresma com Santo Agostinho”, pode-se concluir que a aplicação deste raciocínio baseia-se essencialmente no amor fraterno, que nos induz a acolher o irmão com o coração manso e humilde, um coração misericordioso, alimentado pela fé e poder da oração.

Muito se fala neste tempo em jejum. O jejum tanto mais é abster-me de algo que me causa prazer ou saciedade, mas não abstenção pela simples abstenção e, sim, para reavivarmos a nossa consciência de que, ao mesmo tempo em que jejuamos, seja por um simples preceito ou para estar de acordo com a orientação religiosa, jejuamos por todos aqueles que, com a miséria com a qual são sobreviventes, são privados do alimento. Ou seja, ao jejuar, lembre-se daquele que não se alimenta pela falta do alimento.

Quanto à esmola, ou caridade, somos chamados a voltar o nosso olhar para a miséria humana; porém, este olhar não deve se limitar a este tempo, mas durante toda a nossa caminhada aqui na terra. Somos todos os dias amparados e socorridos pela graça e misericórdia de Deus, portanto, a nossa atenção para as necessidades dos nossos irmãos, independentemente do seu credo, raça e outras opções de vida, deve ser, ou tentar ser, na mesma medida como somos medidos pelo Pai. Esta é a verdadeira esmola que a Quaresma sugere. Não uma esmola de migalhas e pontuais, mas a caridade como sendo parte da nossa vida cotidiana.

Enfim, a oração. Falar com Deus vai muito mais além de adentrar um templo (igreja), muito além de se ajoelhar, chorar aos pés da cruz, muito mais que teatralizar a fé. Falar com Deus é procurar compreender as expectativas de Deus para nossa vida de filhos, missionários ou discípulos, é saber ouvir o que Deus tem a nos dizer, muito mais do que dizer a Deus o que queremos. A nossa oração mais autêntica está mais na escuta do que no falar.

E é desta oração que o mundo mais necessita, uma vez que os tempos modernos nos afastam mais e mais de Deus. O grande poder das mídias, aliado à aridez dos corações desiludidos, maltratados e sofridos, tornam a humanidade à parte do sofrimento pela fome e desamparo. O mundo precisa orar mais, o mundo necessita mais de nossa orações. O jogo da vida precisa ser revertido.

Temos o direito e o dever de aprender a associar a oração aos exercícios de penitência e caridade, e não nos ater apenas ao jejum do alimento, mas ao jejum da língua ferina, da intriga, dos maus conselhos. Não nos ater à caridade para fotografias e visibilidade, mas à real caridade para a promoção da dignidade humana. Não nos ater à oração vazia do amor de Deus, mas ao verdadeiro diálogo com Ele, expondo nossa fraquezas na condição de humanos pecadores, com o ardente desejo de nos colocarmos como instrumentos em Suas mãos.

Que sejamos, enfim, transfigurados em novas criaturas, preparadas para, a cada tempo, a cada nascer do sol, aguardar o “Bom dia de Cristo”, e, no decorrer de cada dia, promover a nossa própria conversão e a conversão de todos os nossos irmãos, uma vez que somos filhos de um mesmo Pai, que está no céu, mas ao mesmo tempo entre nós. Nos preparemos para a Páscoa Celeste.

por Sebastião Evilásio | Editor do Jornal Comunhão Fraterna da Paróquia Santa Rosa de Lima – tiaoevilasio1@gmail.com

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