“GV está para o voo livre como o Havaí para o surf”

Impossível falar de Governador Valadares sem falar da Ibituruna. E também é impossível falar da Ibituruna sem falar do voo livre. Praticado na cidade desde a década de 1980, o esporte levou o nome da cidade a um destaque internacional. O piloto valadarense de asa delta Carlos da Silva Lages Filho, de 55 anos, chega a fazer uma comparação que reflete bem a importância do vôo livre para a cidade. Segundo ele, Governador Valadares está para o voo livre assim como o Havaí está para o surf.

Segundo Carlos, ele sempre gostou de esportes radicais e começou a se interessar pelo voo livre no final da década de 1970, quando aconteceu o primeiro voo de asa delta no pico. Algumas pessoas praticavam o esporte sem muita segurança, conforme o piloto, e muitos acidentes fatais aconteciam.

O piloto lembra que as mortes que aconteciam, devido à falta de segurança, “queimaram o filme” do esporte e levaram as autoridades valadarenses a proibirem sua prática. A situação só começou a mudar, segundo ele, quando a Equipe Esso, formada por um grupo de pilotos, entre eles Haroldo Castro Neves, saiu à procura de rampas de voo livre pelo estado, passou pela cidade e se interessou pela Ibituruna. A equipe, segundo Carlos, procurou as autoridades e conseguiu convencê-las de que o local não era o problema, mas sim a prática do esporte sem a devida segurança. A partir daí, ele foi liberado e o local foi se aperfeiçoando ano a ano, assim como a segurança dos praticantes.

Carlos só ingressou em um curso em 1989, com o instrutor Jonas Tadeu Patrocínio, hoje com 72 anos e ainda praticante do esporte. “Ele se aposentou e se mudou para o litoral baiano, onde ainda voa com asa delta e trike (uma asa delta com motor)”, disse o piloto.

Nascer e morar em Governador Valadares é um privilégio para o piloto, que destaca as condições climáticas e orográficas (relevo) como fatores principais para fazer da cidade um dos melhores, senão o melhor, pontos para a prática do volovelismo no mundo.

“A Ibituruna é fantástica. Estou com a faca e o queijo nas mãos. Lá em cima é possível praticar esportes radicais como mountain bike, motocross, rapel, trekking e até alpinismo. Tudo isso ajuda a fomentar o turismo e a gerar recursos para a cidade”, concluiu o piloto. Hoje ele tem uma escola de pilotos chamada Clínica do Voo, que recebe alunos de diversas regiões do país e até do exterior.

História do paraglider valadarense

O piloto de parapente Moisés Sodré, o Móka, 50, natural de Valadares, é um dos pioneiros no esporte na cidade. Ele foi o quinto piloto de paraglider da cidade. O policial militar contou que começou a voar em setembro de 1994 e um ano depois já conquistava o primeiro título brasileiro, feito que foi repetido no ano seguinte, com quebra de recorde brasileiro em distância.

“Metade dela eu vivi dedicada ao voo livre, representando Valadares, e a Ibituruna fez e ainda faz parte disso.FOTO: Divulgação.

Móka afirmou que voar está no sangue. “No início, era apenas por esporte, até que descobri o dom. Foi necessária muita dedicação para que realizasse o sonho de me tornar um vencedor no esporte. Sempre optei pela segurança e isso até me custou alguns títulos, mas não me arrependo de nada. Faço quase todas as manobras e fui o primeiro brasileiro a fazer a manobra SAT (quando o piloto parece girar em torno do parapente).

Em abril, Móka tem um desafio: ele vai disputar o Brasileiro, a Pré-Copa do Mundo e o Internacional de Voo Livre, que vão acontecer na Ibituruna. “Para isso, consegui um patrocinador que está me ajudando bastante. Graças ao pessoal da Eu Sou Mineração, vou poder continuar levando o nome da nossa cidade adiante”, declarou.

O piloto disse ainda que a Ibituruna faz parte da vida dele. “Metade dela eu vivi dedicada ao voo livre, representando Valadares, e a Ibituruna fez e ainda faz parte disso. Espero continuar levando o nome da nossa cidade e da nossa montanha para o mundo”, finalizou Móka.

Pepê disputou último torneio em GV antes de morrer

Ao mesmo tempo em que é impossível falar de Valadares e não citar a Ibituruna, também é inconcebível falar de voo livre na cidade e não citar Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o lendário Pepê. O piloto que fez história no voo livre mundial era frequentador assíduo dos céus valadarenses e disputou na cidade o seu último torneio antes de morrer numa competição no Japão, em abril de 1991.

Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o lendário Pepê. FOTO: Divulgação.

No único mundial de asa delta que aconteceu em Valadares, em fevereiro de 1991, Pepê ficou em segundo lugar no individual e por equipe. Em 1984, ele chegou a sofrer um sério acidente, chegando a ficar dois dias desacordado e a perder um rim e o baço. O fim da vitoriosa carreira do piloto se deu aos 33 anos, no torneio seguinte ao de Valadares, no dia 4 de abril de 1991, em Wakayama, Japão. Ele tentou completar a prova, considerada por muitos pilotos de alta periculosidade, e teve a asa delta jogada contra as pedras. Pepê agonizou por duas horas até morrer, 15 minutos antes de o socorro chegar.

O piloto valadarense Carlos Lage lembrou que teve a oportunidade de voar com Pepê. “Me recordo que quando eu já estava com alguns anos de voo, tive a oportunidade de voar com ele próximo ao Mundial de 91, quando ele e sua equipe estiveram disputando aqui, pouco antes de sua morte, no Japão”, comentou. A importância de Pepê para o voo livre é comparada à de Airton Sena para a fórmula um. E sua morte causou comoção nos valadarenses, que já tinham se acostumado com as frequentes visitas do piloto.

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