Eu sei que não é o que ninguém quer ouvir na véspera de um feriadão, que é grande a tentação de uma viagem ou até mesmo um almoço com os entes queridos. Mas nós devemos ser fortes e resistir a qualquer coisa do tipo. Principalmente se nossos entes são realmente queridos, pois qualquer ação que quebre a quarentena (principalmente uma tão abrangente quanto viagens de feriadão) coloca em perigo não apenas você mesmo, mas todos à sua volta (muitos dos quais são, provavelmente, mais vulneráveis à covid que você), principalmente levando em conta o estado de colapso em que se encontra o sistema de saúde em nosso país. Minas Gerais, para usar o exemplo mais próximo e palpável, tem uma ocupação de leitos superior a 80% (e em alguns municípios atingindo sua completude).
Você poderia perguntar: “Mas Arock, essa não era uma coluna de cultura?” Sim e, como eu disse, nós vamos chegar lá.
E você pode tornar a perguntar: “Mas Arock, o que eu faria em casa trancado todo o feriadão?” Nesse caso, minha resposta seria: Antes de mais nada você estaria salvando vidas! Mas eu entendo que a pergunta é “como ocupar esse tempo que passarei dentro de casa ajudando a salvar vidas?” E aqui, nas minhas sugestões de como passar esse tempo, nós vamos entrar no reino da cultura.
Fato é que eu podia dar uma indicação genérica sobre o que fazer, como “veja um filme” ou “leia um livro”, e elas seriam excelentes indicações (eu mesmo estou me debruçando sobre a coleção de livros “As Crônicas de Sharpe”, do Bernard Cornwell). Mas resolvi fazer algo mais específico.
Um dos grandes passatempos da atualidade (que ganhou força com os serviços de streaming e mais ainda com a quarentena) é o ato de maratonar séries. Então eu copilei uma lista de títulos de diferentes gêneros e com um comprimento o suficiente para manter você ocupado por todo o feriadão. E não estou indicando aleatoriamente: são todas séries que já assisti todos os episódios e achei dignas de serem indicadas. Inclusive, prezei por aquelas que (no momento em que escrevo) estão disponíveis na Netflix (que aparentemente é o serviço ao qual as pessoas mais têm acesso) para manter fácil de você conseguir conferi-las. Dito isso, vamos lá:
Comecemos pelas comédias. A primeira indicação é “The Good Place” (e eu vou resistir à tentação de fazer qualquer comparação ou piada com a temática da série e a do feriado que virá). A série tem 4 temporadas de mais ou menos 13 episódios (duração média de 22 minutos por episódio), todas disponíveis na Netflix no momento em que escrevo. “The Good Place” conta com excelentes atuações e um roteiro que é inteligente, além de hilário, contando com algumas das melhores reviravoltas que já vi em uma série de comédia (nem vou falar muito para não estragar a surpresa).
Ainda nas comédias, nós temos “Brooklyn Nine-Nine”. São 7 temporadas (seis das quais disponíveis na Netflix), de mais ou menos 23 episódios cada (duração média de 22 minutos por episódio), em que você acompanha os detetives do 99º distrito de polícia de Nova York. A série, que é definitivamente uma das mais engraçadas dos últimos anos, conta com um número enorme de razões para ser vista, mas permita-me destacar apenas dois exemplos: o modo como trata de assuntos sérios sem deixar de ser hilária e o elenco maravilhoso (com a presença do favorito dos fãs brasileiros, Terry Crews, famoso pelo personagem Julius, o pai do personagem título na série “Todo Mundo Odeia o Chris”).
As próximas duas indicações (ambas na Netflix em sua completude) não apenas mudam de comédia para drama, como focam no outro lado do espectro criminal. Começando pelo drama inglês “Peaky Blinders”, com 5 temporadas de 6 episódios cada (duração média de 58 minutos por episódio). A série acompanha a família Shellby, líder da gangue título, em sua ascensão no escalão do crime na Inglaterra do começo do século XX. O enredo traz muito da política da época (como o fato de a maioria dos personagens masculinos ter lutado na Primeira Guerra Mundial) e até figuras históricas, como Winston Churchill. Além disso, “Peaky Blinders” conta com um elenco de nomes “hollywoodianos”, como Cillian Murphy (o protagonista), Tom Hardy, Anya Taylor-Joy, Helen McCrory, Alexander Siddig, Sam Neill e Annabelle Wallis.
Ainda um drama sobre o mundo do crime, mas em um tom mais contemporâneo, nós temos a profundamente aclamada (e com razão) “Breaking Bad”. Com 62 episódios (de duração média de 58 minutos) divididos em 5 temporadas, essa provavelmente é a mais famosa indicação nesta lista, tanto que imagino que a maioria de vocês já tenha visto. E mesmo se você ainda não tenha acompanhado, com certeza já viu os memes e referências em outras obras. Para os raros leitores que não sabem nada sobre ela, “Breaking Bad” acompanha um professor de química que, ao se descobrir com câncer, recorre à produção de drogas para ter o dinheiro para o tratamento, mas acaba sendo tragado cada vez mais para o mundo do crime. A série tem roteiro e atuações amplamente aclamados e premiados. É basicamente imperdível. (P.S.: também tem o spin-off “Better Call Saul”, que dizem que é tão bom quanto. Mas como ainda não assisti, não vou incluir aqui; afinal, prometi só indicações de séries que já assisti tudo).
Minha próxima indicação é uma animação, que é algo que às vezes gera certo preconceito injustificado nas pessoas. Eu já falei disso antes: temos que parar de pensar em animação como algo para crianças; afinal, a principal marca de uma boa série classificação livre é conseguir ser algo que agrada todas as faixas etárias. Por sorte (para confirmar meu argumento), atualmente nós temos uma obra de arte disponível na Netflix: “Avatar: The Last Airbender” e sua continuação/spin-off “Avatar: The Legend of Korra”. A primeira tem 61 episódios (duração média de 23 minutos) divididos em 3 temporadas, e a segunda 52 episódios (com mais ou menos a mesma duração) divididos em 4 temporadas. As duas séries de Avatar têm uma criação de mundo ímpar, além de contarem uma história profunda, filosófica, mágica, linda e que consegue ser engraçada e cheia de ação. Sinceramente, as séries do mundo de Avatar têm algo para agradar todos os gostos. E com os boatos de que os criadores estão para criar mais histórias nesse universo fantástico, esse é o momento de conferi-las (eu só recomendo com todas as minhas forças que você jamais veja o filme live-action com o mesmo nome, mas que não faz jus ao material original).
É claro que vai ter leitor que já viu todas as séries que estou indicando aqui. Aquele leitor que acha que isso tudo são indicações “casuais” e que está à procura de um desafio de verdade, inclusive que o mantenha ocupado para além desse feriado. Pois bem, meu caro leitor, se é um desafio que estava procurando, você veio ao lugar certo. Essa próxima indicação não é para qualquer um… É exclusivamente para aqueles que audaciosamente exploram a “fronteira final”. Para vocês eu tenho apenas duas palavras: “Star Trek”. E não estou falando de uma série específica, estou falando da franquia.
“Mas, Arock, você disse que só ia indicar coisas que tivesse visto em sua completude…” Sim, e por isso eu posso indicar Star Trek. Assisti cada episódio de cada uma das 10 séries e cada um dos 13 filmes.
Não preciso dizer que sou um fã dessa franquia desde pequeno. Star Trek sempre foi sobre esperança; afinal, é um dos poucos lugares em que o futuro deu certo: uma sociedade baseada na cooperação universal e nos avanços científicos, onde não há mais traço de capitalismo (inclusive o uso de moeda foi abolido) e todos ditadores que pregavam algum tipo de superioridade de algum grupo sobre outros, como Khan Noonien Singh, foram derrotados e depostos.
Enquanto os personagens estão explorando as fronteiras físicas e científicas do universo, a franquia sempre tendeu a confrontar as barreiras dos mais diferentes tipos de preconceitos sociais. Um dos muitos exemplos foi que na série original, em 1966 (durante a Guerra Fria e o Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos), eles puseram uma mulher negra e um russo como patentes de comando trabalhando na ponte de comando. A tenente Uhura, por exemplo, era a oficial de sexta mais alta patente em uma nave de centena de pessoas.
A Netflix tem 7 das 10 séries disponíveis: “Original” (também chamada de Clássica); “Série Animada”; “The Next Generation” (ou TNG); “Deep Space 9” (ou DS9); “Voyager”; “Enterprise” e “Discovery” (faltando “Short Treks”, “Picard” e “Lower Decks”). Admito que cheguei a fazer uma descrição detalhada de cada uma delas, mas isso ia deixar a coluna muito comprida (e vou guardar essa cartada de falar de uma das minhas franquias preferidas para outra ocasião). Vou só diz que (tirando talvez “Discovery”) sou fã de todas as séries de Star Trek (apesar de todas terem seus particulares pontos fortes e fracos). Se tivesse que eleger a minha preferida, talvez nomeasse “Deep Space 9” (junto das suas séries irmãs, “Voyager” e “The Next Generation”), e a que menos gosto é “Discovery” (que tem uma primeira temporada bem ruim; uma segunda temporada melhor, porém, ainda não boa, e uma terceira temporada maravilhosa. Se eu fosse você, simplesmente ignoraria as duas primeiras e fingiria que a série começa na temporada três). Eu sei, eu sei: é uma quantidade absurda de conteúdo. Como eu disse: é um desafio (um que vai para muito além desse feriado). Então, se ousar essa empreitada, só posso desejar Qapla’ (que é klingon para “boa sorte/sucesso”).
Bem, aqui acabam minhas recomendações (UFA!).
Isso tudo para reiterar a mensagem “SALVE VIDAS! FIQUE EM CASA! MANTENHAM A QUARENTENA!”. E depois desse texto enorme, você há de convir que pelo menos a desculpa de “não tem nada pra fazer em casa” não cola mais.
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