Dia da Educação: isolamento social pode inaugurar nova era no ensino

Aulas a distância se multiplicaram pelo país, mas acesso à tecnologia e à internet ainda é uma barreira para a educação

A educação nunca mais será a mesma. Essa afirmação é feita sempre que surge um novo paradigma ou uma nova ferramenta educacional. Foi assim quando a educação deixou de ser vista como obrigação para se tornar um direito de todos, na Constituição de 1988. Também foi assim quando a internet começou a ser vista como uma nova sala de aula.

Agora, com as medidas de isolamento social necessárias para conter a pandemia do novo coronavírus, a educação a distância se tornou a única opção. Muitos professores e alunos foram obrigados a testar pela primeira vez as aulas on-line, e isso certamente trouxe mudanças no modo como a EAD é visto.

Esse foi o caso de Haruf Salmen, professor titular da Universidade Vale do Rio Doce (Univale). “Eu nunca havia dado aula on-line ou usado nenhuma plataforma nesse sentido, pra nenhum tipo de atividade. Em termos de aula e orientação de alunos, eu tive que me adaptar. Primeiro eu tive que aprender a usar as tecnologias, tive que aprender a preparar aulas que fossem adequadas a esse tipo de tecnologia, ou seja, toda uma mudança de rotina, de postura”, conta Haruf.

Para superar as dificuldades com a tecnologia, o professor contou com a ajuda dos próprios alunos. “Antes da minha primeira aula, eu propus a alguns alunos que eles pudessem me ajudar, então eu fiz uma aula experimental com eles, e eles foram me orientando. Os próprios alunos me ensinaram e me habitaram no uso da tecnologia no começo. Isso é interessante, porque o aluno vê que ele pode ensinar também”, conta.

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Professor Haruf Salmen

Ambiente on-line fortalece participação

Não foi só com o uso da tecnologia que os alunos do professor Haruf Salmen se tornaram mais participativos. Ele relata que o ambiente on-line pode ter dado mais abertura para os alunos tímidos, aqueles que “nunca abrem a boca na sala de aula”. E também fala sobre a atenção individualizada que o contato pela internet permite.

“Quando você está no ensino presencial, sua relação é com a sala, o conjunto, não se individualiza, exceto em alguns momentos muito particulares. Com as aulas on-line, você está dando aula pra turma, mas ao mesmo tempo você está dando aula pra cada um. Então há uma individualização maior. Parece que há distanciamento, mas na verdade há uma aproximação. Isso eu achei muito interessante, porque acaba que, no lugar de tornar impessoal, isso torna a relação mais pessoal, e obriga maior interação entre o professor e o aluno”, relata Haruf.

“Em relação aos meus alunos do curso de Direito da Univale, eu estou sim extremamente satisfeito. Impressionado até. Alguns alunos que não falavam, que nem abriam a boca em sala de aula, acabam participando, interagindo, opinando; eles perguntam mais. O resultado acabou sendo muito diferente da expectativa inicial, e acabou sendo muito positivo. Não sei se é porque são alunos, na maioria, jovens de 17 e 18 anos, que eu dou aula no primeiro e segundo período, e eles têm mais facilidade; mas foi um resultado muito bom”, destaca.

Nova era na educação

Assim como outros professores, Haruf também não acredita que esse momento vá passar despercebido na história da educação. “Eu acredito que vai deixar marcas. Primeiro, vai abrir para muitos as possibilidades dessas ferramentas tecnológicas e como elas podem contribuir para o processo ensino-aprendizagem. E vai também alterar um pouco a relação que o professor mantém com os alunos. Então eu acho que vai deixar um aprendizado positivo, vai deixar um saldo de mudança, aproximando o ensino desse mundo novo. A questão é como usar isso positivamente”, afirma Haruf.

O uso da tecnologia na educação é uma pauta antiga, e que tem gerado diversos debates ao longo das últimas décadas. Discute-se, entre outras coisas, os limites entre os benefícios e os malefícios de unir tecnologia e sala de aula. Os alunos, principalmente no ensino médio, clamam que a escola se adapte às novas possibilidades da internet.

Em uma pesquisa realizada em 2017 pelo Instituto Porvir, que teve resposta de 18.483 estudantes, 55% dos participantes acreditavam que havia a necessidade iminente de inserir a tecnologia na escola como um todo, e não só dentro do laboratório de informática.

Falta de acessibilidade ainda é problema, principalmente para escolas públicas

Quando falamos em ensino fundamental e ensino médio, no entanto, alcançar essa meta se torna muito mais complicado, já que as disparidades entre o ensino particular e o público ainda são evidentes. Isso tem ficado claro desde o começo das medidas de distanciamento social: enquanto as escolas particulares em Minas Gerais se adaptaram rapidamente para as aulas on-line, no ensino público as primeiras medidas só começam a ser tomadas agora.

Depois que o Governo de Minas Gerais anunciou que iria investir em opções para possibilitar o ensino a distância para os alunos das redes públicas, vários questionamentos surgiram sobre a aplicabilidade dessa medida. O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), por exemplo, destacou que mais de 700 mil alunos de escolas públicas ficariam sem o ensino, caso o governo seguisse com a ideia de transmitir aulas pela Rede Minas, canal público de televisão que, de acordo com o Sind-UTE, só atende 23% dos municípios mineiros.

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