REINALDO JOSÉ LOPES (FOLHAPRESS) – Um dos predadores mais misteriosos da Era dos Dinossauros brasileira acaba de ganhar uma reconstrução artística digna de sua esquisitice. Trata-se de um membro do grupo dos Megaraptora, caracterizado pelas enormes garras nas patas dianteiras.
Descoberto em Uberaba (MG), hoje uma das principais jazidas de fósseis, o animal foi recriado em tamanho natural pela primeira vez por pesquisadores e artistas de sua terra natal. A revelação foi feita ao público num shopping da cidade.
O megarraptor uberabense, cuja posição exata no “álbum de família” dos dinossauros ainda não está clara, foi estudado por pesquisadores da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), junto com colegas da Argentina.
“Até agora só tínhamos reconstruções do esqueleto. É a primeira vez que uma reconstrução da aparência do animal em vida é feita”, contou à Folha o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro, que coordena o Centro Paleontológico Price, na UFTM. A exposição do trabalho está em cartaz no Uberaba Shopping.
A recriação do bicho, realizada pelo paleoartista Rodolfo Nogueira, é a de um animal bípede de 6 m de comprimento, embora alguns dos Megaraptora possam ter alcançado os 10 m, segundo estimativas. O tamanho é uma extrapolação feita a partir do fóssil de uma vértebra da cauda do bicho, descoberta em 2011 durante as obras de construção do Hospital Regional de Uberaba.
Pode parecer pouco, mas a anatomia das vértebras dos dinossauros varia de forma tão marcante entre os diferentes grupos desses animais que se torna possível identificar com relativa precisão a parentela do fóssil, bem como estimar seu tamanho.
A característica mais famosa dos megarraptores, no entanto, é mesmo o formato e o tamanho peculiar das garras nas patas da frente. Os braços dos bichos são grandes justamente para abrigar os aparatos em forma de foice, principalmente nos dedos I e II (equivalentes aos nossos polegar e indicador).
No caso do gênero Megaraptor, que dá seu nome ao grupo, a garra do dedo I chega a ser mais longa que todo o antebraço do animal, explica Borges Ribeiro.
O resto da anatomia do grupo é bem menos conhecida, já que os fósseis de megarraptores costumam aparecer aos poucos, sem esqueletos completos. Sabe-se que o focinho dos bichos costumava ser alongado, com dentes pequenos, recurvados e, muitas vezes, sem serrilhas, diferentemente de outros dinossauros carnívoros (conheça uma nova espécie encontrada no Brasil, batizada em homenagem ao ‘deus do sexo’ guarani).
Seus ossos eram altamente pneumáticos (grosso modo, ocos), como os de muitas aves atuais, o que lhes conferia grande leveza, apesar do tamanhão. É possível que tivessem ao menos uma cobertura parcial de penas.