Danos de rompimento de barragem em 2015 ainda sem reparação

A qualidade da água da bacia do Rio Doce, atingida pelo rompimento da barragem das mineradoras Vale e BHP em 2015, foi um dos principais assuntos tratados em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (26). Durante o encontro, a Fundação Renova, criada pelas empresas para mediar a reparação dos danos da tragédia de Mariana, foi acusada de negar direitos básicos da população atingida.

A lama de rejeitos que percorreu toda a extensão do rio Doce em 2015 mudou a cor e a qualidade da água utilizada pelos moradores de toda a bacia e, apesar de a Fundação Renova afirmar que hoje são boas as condições de consumo, os atingidos não confiam na informação. “Buscamos água nos poços artesianos de vizinhos”, contou Izaias Francisco, da Comissão de Cachoeira Escura do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

O presidente da Associação dos Pescadores de Conselheiro Pena e Região (Aspesc), Lélis Barreiros, mostrou dois filtros de água, ambos com sujeira preta que, segundo ele, é composta por rejeitos de minério de ferro. Além de reivindicar a melhoria da água para consumo humano, Lélis Barreiros destacou que os animais que bebem da água acabam morrendo ou abortando seus fetos. Ele ainda falou da qualidade dos peixes, que também gera desconfiança e impede a comercialização.

Um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias com os pescados da Bacia do Rio Doce no estado do Espírito Santo apontou que alguns metais estão em concentração maior nos peixes da região do que em outras regiões do País. Quem apresentou o trabalho foi Milton Cabral de Vasconcelos Neto, analista de saúde e tecnologia do Grupo Técnico de Contaminante em Alimento da Anvisa.

Segundo nota técnica produzida a partir do estudo, que ele também apresentou, os pescados da região podem ser consumidos, mas não em alta quantidade como acontece em locais onde essa é a principal fonte de alimentos. Ressaltou, ainda, que além de o estudo não abarcar áreas da bacia em Minas Gerais, não tratou da qualidade específica da água e, se essa qualidade não for boa, a quantidade de peixe possível de ser consumido deve ser reduzida, já que os metais nos peixes se somariam aos da água no organismo das pessoas.

O procurador Edmundo Antônio Dias Netto Júnior, que tem atuado no caso desde 2015, questionou o estudo. Ele lembrou que não é só em Minas Gerais, devido à maior proximidade com a barragem rompida, que há chances de a concentração de metais nos peixes e água ser maior. Além disso, o trabalho não qualifica os peixes. Ele falou do fenômeno chamado de biomagnificação, que significa que um peixe grande, ao ingerir um médio que já havia se alimentado do menor, acumulou os metais dos três peixes.

Dessa forma, não seria possível falar de níveis gerais de concentração de metais sem considerar as especificidades de cada espécie. Afirmou que os órgãos da Justiça que têm atuado conjuntamente no caso não recomendam o consumo dos peixes da bacia do rio Doce. Acrescentou que estudos independentes estão sendo realizados e devem ser apresentados em breve.

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