CPI realizada em Valadares comprova existência de elementos tóxicos na lama do rio Doce

Nos materiais colhidos foram encontrados tolueno, bário e cromo

Nesta terça-feira (10) ocorreu a quinta sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar se a lama da enchente que atingiu Valadares neste ano continha elementos tóxicos. Na ocasião, o professor de química Ângelo Denadai apresentou dados de estudos que comprovam a existência de metais pesados na lama.

Segundo o professor, geralmente há a presença de vários óxidos de ferro na lama. O problema é a quantidade. No estudo do químico foram encontrados três elementos tóxicos na lama do rio Doce: tolueno, bário e cromo.

“Temos investigado a lama do rio Doce nos últimos cinco anos e temos constatado os elementos tóxicos. A identificação desse material é relativamente simples: é possível identificar, através de parâmetros visuais e com o uso de um imã, que indica a existência de óxidos de ferro”, explicou.

Na ocasião, o professor realizou uma apresentação e mostrou como a lama seca se une a um ímã, representando que existem óxidos de ferro. Além disso, ele afirmou que as substâncias são perigosas para qualquer pessoa, mas quem possui problemas respiratórios vai responder de forma mais agressiva. 

“Pode agravar quadros clínicos respiratórios, além de causar pneumonia. A maioria dos materiais tem uma toxicidade relativamente baixa. O problema é que, ao secar, o volume de lama pode ser suspenso e gerar poeira, o que gera problemas nas vias respiratórias”, afirmou.

A CPI

A CPI foi instaurada no dia 16 de março deste ano. A enchente se iniciou no dia 10 de janeiro de 2022 e foi a terceira maior da cidade. O rio atingiu a marca de 4,75 metros. Além disso, a lama estava mais difícil para limpar, sendo necessário o uso de enxada.

“Ainda está em fase de conclusão, mas já podemos afirmar que realmente este barro é proveniente do rompimento da barragem. Nós montamos a CPI na intenção de realmente descobrir se existem metais pesados na lama. Então a presença do professor Ângelo está sendo fundamental”, afirmou o presidente da CPI, o vereador Cabo Amorim.

Segundo o professor, nunca havia vivenciado uma enchente com volume de lama tão grande. De acordo com ele, se não tivesse os minérios de ferro, os moradores fariam três vezes menos esforço para limpar os rejeitos de lama da enchente.

“Eu já resido em Valadares há um tempo, já vivenciei algumas enchentes e o volume de lama residual aumentou sim. Além da presença dos minérios de ferro, que deixam mais difícil de limpar”, disse o professor.

De acordo com o vereador Cabo Amorim, caso fique comprovada a responsabilidade das empresas, novas ações na justiça e pedidos de indenização poderão ser exigidos. “Na verdade, essa conclusão vai servir de norte para a justiça, para indenizar as pessoas que foram penalizadas. As empresas têm sim que ser responsabilizadas pelas consequências dessa tragédia”, afirmou.

Crédito: DRD/TV Leste

Posicionamento da Fundação Renova

Por meio de nota, a Fundação Renova se posicionou sobre o assunto relacionado à presença de metais pesados na lama da enchente:

“A Fundação Renova ressalta que os efeitos e os materiais carreados durante os eventos de inundações refletem essencialmente as características da própria bacia do rio Doce. Os solos de toda a bacia estão submetidos a processos históricos de degradação e erosão, potencializando a produção de sedimentos que acabam sendo carreados durante as cheias. É importante destacar que a produção de sedimentos da própria bacia já é da ordem de milhões de toneladas por ano, ou seja, o rio e as planícies recebem naturalmente uma contribuição significativa de sedimentos durante as cheias.    

Desde 2016, a ANA (Agência Nacional das Águas) e o CPRM (Serviço Geológico do Brasil) emitiram relatórios que demonstram que a deposição de material oriundo do rompimento da barragem de Fundão não tem o potencial de alterar os efeitos de inundações de regiões que margeiam o rio Doce.

Durante as chuvas de janeiro de 2020 e 2022 foram realizadas coletas da lama depositada em diversos pontos dessa mesma região. Os resultados das análises não indicam impactos associados aos rejeitos provenientes da barragem de Fundão. Também não foram observadas concentrações de metais superiores em comparação à legislação e outros estudos realizados antes do rompimento.

A Fundação esclarece que o rejeito da barragem de Fundão não possui característica de toxicidade e é um subproduto do processo de beneficiamento de minério de ferro, extraído de rochas naturais da bacia e não envolve modificações em sua natureza química.

A Fundação Renova ressalta que mantém o diálogo aberto com os poderes Legislativo e Executivo de Governador Valadares e está à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos devidos acerca dos monitoramentos e análises realizados”.

Rio Doce/ DRD-TV Leste

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