Brasil e República Dominicana se unem contra a Peste Suína Africana

Um trabalho inédito de cooperação técnico-científica entre Brasil e República Domicana deverá auxiliar o país caribenho em cinco questões do agro, e a mais premente delas é o controle da Peste Suína Africana (PSA). Doença hemorrágica grave que só atinge suínos domésticos e javalis, a PSA é letal para quase todos os suídeos que a contraem. A doença foi identificada na República Dominicana este ano e, apesar de não infectar humanos, é um risco à segurança alimentar e ao mercado de carne suína. O Brasil chegou a detectá-la em 1978 e conseguiu erradicá-la em 1984 e, até o momento, o país do Caribe é o único do continente americano a ter registrado novamente a enfermidade.

Reunião virtual reuniu técnicos e representantes da Embrapa e instituições dominicanas

“É de nosso total interesse cooperar e colaborar com a República Dominicana no controle da Peste Suína Africana,” declarou o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, em workshop virtual entre os países ocorrido nos dias 15 e 16 de dezembro. “Estaremos ajudando não somente a suinocultura dominicana, mas também a brasileira e a de vários outros países,” afirmou. O diretor também listou as perspectivas de cooperação nas demais áreas que serão englobadas: fruticultura, doenças e pragas da bananicultura, reflorestamento e reprodução de ruminantes (veja detalhes no quadro abaixo).

Além do diretor da Embrapa, participaram do evento virtual a embaixadora da República Dominicana no Brasil, Patrícia Jorge; o ministro dominicano da Agricultura, Limber Cruz; e o ministro do Meio Ambiente daquele país, Orlando Mera; além de técnicos e cientistas dos dois países especialistas nos temas englobados pelo termo de cooperação.

“Trata-se de um momento histórico para a relação entre Brasil e República Dominicana,” declarou o ministro Limber Cruz, que lembrou as condições sociais e geográficas de seu país que deverão influenciar esse trabalho. “Dividimos uma ilha com o vizinho Haiti e o controle da PSA aqui passa pelo controle também no lado haitiano,” ponderou o ministro da Agricultura, “é uma honra trabalhar com o Brasil, um país poderoso na agricultura,” frisou informando que a República Dominicana produz 80% de sua demanda interna de alimentos e que ainda exporta parte de sua produção agrícola e que a cooperação com a Embrapa deve potencializar esses números.

O ministro dominicano do Meio Ambiente lembrou da urgência das questões climáticas. “Somos um país insular e preocupado e colaborar para a mitigação dos efeitos sobre o clima”, frisou Mera referindo-se ao aumento do nível dos oceanos provocado pelo derretimento da calotas polares. O ministro ainda contou que eles contam com o único banco de sementes florestais do Caribe, o que abre possibilidades importantes de intercâmbio de material genético com o Brasil.

No encontro virtual foi deliberado que haverá uma visita à República Dominicana de técnicos da Embrapa no primeiro trimestre de 2022 para analisar as áreas em que as parcerias serão estabelecidas. Depois serão elaborados planos de trabalho para cada área acordada para a cooperação. Profissionais dos dois países se reunirão para discutir um programa de treinamento à distância para técnicos da República Dominicana e um memorando de entendimento deverá ser redigido e assinado pelos dois países. Estabeleceram-se como pontos focais o pesquisador Alexandre Amaral, assessor da Diretoria de P&D da Embrapa, como representante da empresa brasileira, a técnica do Ministério da Agricultura da República Dominicana Rosa Tejada, pelo país caribenho, além do diplomata Marino Lacay. A técnica se disse comovida pela receptividade brasileira. “Sabíamos desde o início que poderíamos contar com a Embrapa, mas a acolhida impressionante que tivemos superou as expectativas,” disse Tejada.

“Estamos em um momento inédito nas relações entre Brasil e República Dominicana, um momento realmente histórico, de crescimento e de auxílio mútuo. Começaremos pequenos, mas com um enorme potencial para que esse trabalho cresça,” declarou Alexandre Amaral.

Áreas da cooperação Brasil-República Dominicana

Peste Suína Africana

A pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Janice Zanella, apresentou o histórico da PSA que surgiu em 1921 no Quênia. Um dos problemas mais desafiadores, segundo a cientista, é a resistência do vírus, capaz de sobreviver na carne congelada e na carne salgada. O vírus também sobrevive em lixo, em caminhões, materiais contaminados e restos de comida. Isso propicia a infecção dos animais que se dá por picada de insetos, alimentação ou água contaminada, ratos, animais selvagens e vários outros vetores.

O diagnóstico também não é trivial, de acordo com Zanella, porém a Embrapa está desenvolvendo um método de diagnóstico rápido que possa ser usado na granja pelo veterinário.

Ela alertou especialmente para o risco de se transportar alimentos cárneos em viagens internacionais. “Muitas pessoas fazem isso, o que coloca em risco a sanidade do país”, frisou.

Um dos pontos que poderão ser trabalhados na cooperação é o tratamento térmico dos efluentes de matadouros de suínos. “Estamos desenvolvendo um protótipo de sistema de aquecimento da água dos matadouros, o que pode ser útil nesse trabalho,” comentou.

A implantação de boas práticas como a instalação de zonas limpas nas granjas em que caminhões e materiais de transporte não entram, tem tipo bastante eficácia em países como o Japão de acordo com a pesquisadora.

Reprodução de animais ruminantes

Presente em 36% das propriedades rurais, a pecuária da República Dominicana necessita de modernização especialmente na área de reprodução. Razão que levou o item a ser incluso na pauta de cooperação.

No encontro, o pesquisador Ériklis Nogueira, da Embrapa Pantanal, apresentou quatro frentes que poderiam ser trabalhadas nesse tema: o uso de touros melhoristas, capaz de gerar ganhos importantes por bezerro obtido; inseminação artificial em tempo fixo, com a vantagem de massificar o melhoramento permitindo a inseminação de cerca de três mil vacas por mês; a transferência de embriões, para a qual o Brasil possui ampla experiência na modalidade in vitro e as técnicas envolvendo biotecnologia como a transgenia e a CRISPR, a qual permite edições genéticas precisas para gerar animais com características específicas.

Doenças e pragas da bananicultura

Com uma produção de 400 mil toneladas por ano, a banana é um dos produtos mais importantes da agenda de exportação da República Dominicana, responsável por uma receita de US$ 400 milhões anuais e por manter mais de 125 mil empregos diretos ou indiretos no país. Por isso, uma das suas maiores preocupações são os problemas fitossanitários que atingem a cultura: a raça 4 da murcha-fusarium e a Sigatoka Negra.

“Temos muitas oportunidades de trabalho conjunto na bananicultura,” declarou o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Fernando Haddad. “Apesar de não termos a raça 4 da murcha-de-Fusarium no Brasil, temos interesse nessa doença que já está na Colômbia e também nos preocupa,” contou o cientista frisando que as duas doenças são alvo do melhoramento genético da Embrapa e que a cooperação pode complementar estudos, como no caso testes para o melhoramento preventivo. “Se conseguirmos controlar essas duas principais enfermidades da bananeira com variedades resistentes, as demais poderemos tratar com manejo,” afirmou. Haddad aproveitou para apresentar algumas cultivares de banana desenvolvidas pela Embrapa, como a BRS Princesa que vai ser testada com a raça 4 do Fusarium.

Fruticultura

Para o subdiretor do Departamento de Fruticultura do Ministério da Agricultura da República Dominicana, Carlos Jimenez, o país tem necessidade de novos materiais tolerantes a doenças como o maracujá e de uvas sem sementes, temas nos quais a Embrapa obteve sucesso.

O país caribenho também tem problemas com a mosca-das-frutas e com a bactéria causadora do HLB na produção de citros. Outra necessidade seria a criação de um programa regulador para a certificação de viveiros, o que necessitaria de um subsídio técnico. Para ele, a parceria poderia ajudar a República Dominicana a elaborar normas oficiais para a produção de fruteiras, o que ajudaria muito o setor, assim como a capacitação de técnicos para o manejo da fruticultura.

Florestas

A República Dominicana, que preserva cerca de 42% de sua vegetação natural, tem interesse em introdução de novas espécies florestais para produção, como seringueiras, eucaliptos e pinus. “Cerca de 6% dos pinus produzidos hoje no Brasil têm origem no Pinus caribaea, espécie que veio do caribe e teve bom desempenho aqui. Do mesmo modo, algumas espécies que temos aqui podem se desenvolver bem no Caribe,” contou o pesquisador e chefe-geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza.

Schaiza considera ser possível desenvolver programas de capacitação à distância para preparar técnicos caribenhos em manejo e adaptação desses novos materiais.

Foto: Jairo Backes

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