O presidente Jair Bolsonaro (PL) chega à última semana do primeiro turno das eleições pressionado pelas pesquisas e pela tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de atrair o voto útil para tentar encerrar o pleito em 2 de outubro.
Para impedir o crescimento petista na reta final, o mandatário pretende reforçar a ofensiva contra Lula e continuar o investimento nos eleitores do Sudeste, região em que teve votação expressiva em 2018.
Nos bastidores, aliados do chefe do Executivo admitem erros da campanha e buscam justificativas para a estagnação do candidato nas pesquisas.
Um dos alvos de aliados é o ministro da Economia, Paulo Guedes. O entorno do presidente se queixa da falta de agilidade do ministro em adotar medidas com potencial eleitoral, como ampliar o Auxílio Brasil – o que só ocorreu em agosto, ou seja, com pouco tempo hábil para virar votos.
Alguns interlocutores do Palácio do Planalto defendiam que o valor fosse ainda maior, de R$ 800, e pago desde o começo do ano, justamente para esvaziar a crítica de que se trata de um benefício eleitoreiro.
Segundo as pesquisas, o eleitorado que recebe o auxílio continua com forte votação no petista, apesar de já terem sido pagas duas parcelas com o valor atual de R$ 600.
Até o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), que ajuda a coordenar a campanha e tem boa relação com as pessoas mais próximas ao presidente, foi criticado nesta semana por ter decidido sair de férias faltando menos de dez dias para a eleição.
Nogueira alegou que iria centrar as atenções no Piauí para ajudar seu candidato a governador, Sílvio Mendes (União Brasil), além do próprio Bolsonaro. No dia seguinte, ele recuou e anunciou que “interrompeu a tramitação do seu pedido de férias, devido a diversos compromissos inadiáveis na próxima semana”.
Outro problema levantado por aliados foi a dificuldade em arrecadar recursos, o que dificultou a profissionalização da campanha. De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), dos mais de R$ 31 milhões de receita de Bolsonaro e seu vice, Braga Netto, R$ 17 milhões vieram da direção nacional do PL e R$ 1 milhão, do PP.
A expectativa era de que empresários, em especial do agronegócio, que compõem a base bolsonarista, fizessem mais doações – o que não se concretizou. Entre outros fatores, atribuem isso a um medo causado pela ação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), contra empresários bolsonaristas.
Uma dificuldade identificada por correligionários do presidente é o fato de a campanha ser dividida em muitas alas, desde os mais radicais, críticos de urnas eletrônicas, até os pragmáticos, que integram o centrão.
O consenso, porém, é que os ataques a Lula devem ser intensificados na reta final do primeiro turno. Em reunião no Palácio da Alvorada com a campanha após chegar da viagem internacional na quarta-feira (21), o mandatário foi aconselhado a adotar um tom ainda mais agressivo contra o petista.
Essa tese já vinha ganhando corpo nas últimas semanas, em especial com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente e coordenador da campanha.
No dia seguinte, Bolsonaro fez uma das declarações mais duras contra o adversário nesta campanha. Disse a apoiadores em Belém (PA): “Fiquem tranquilos, o Lula continuará no lixo da história. Este cara nunca mais vai roubar o povo brasileiro”.
Depois, na sexta-feira (23), afirmou que não há oposição no Brasil, mas bandidos. Ele voltou a chamar Lula de ladrão.
“Lula não apresenta plano porque já negociou ministérios, estatais e bancos em troca de apoio. Esse modelo promíscuo resulta num governo que trabalha por interesses estranhos e não pelos da nação. Não dá para assumir compromissos com o povo se já está comprometido com maracutaia”, disse Bolsonaro em seu Twitter.
Nas redes sociais, os filhos do presidente também intensificaram os ataques. Já a campanha lançou uma inserção na TV em que diz que “a maior mentira desta eleição é dizer que Lula não é ladrão”.
A nova estratégia busca conter as tentativas de Lula de liquidar a fatura ainda no primeiro turno. A campanha do adversário tenta criar uma onda de voto útil, tirando apoios de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT).
Ainda que uma ala de bolsonaristas aposte na tese do “Datapovo” e diga que ele vai vencer o pleito em 2 de outubro, contrariando as pesquisas, a maior parte dos aliados do chefe do Executivo diz acreditar num segundo turno apertado e crer que o espólio de eleitores dos terceiro e quarto colocados na disputa presidencial é de antipetistas, devendo migrar para Bolsonaro.
Integrantes da campanha dizem ainda que em levantamentos internos a distância entre Lula e Bolsonaro seria menor.
Entretanto, a última pesquisa do Datafolha mostra o presidente estagnado com 33% das intenções de voto contra 47% de Lula. O petista conseguiu uma variação positiva de dois pontos porcentuais em uma semana.
Se em 2018 Bolsonaro ganhou em todas as regiões do país, menos no Nordeste, neste ano a aposta é tentar repetir a vitória no Sudeste. Por isso, durante toda a sua campanha o presidente privilegiou a região em viagens e comícios.
Trata-se do maior colégio eleitoral do país. Bolsonaro viajou ao menos 13 vezes para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Nos últimos dias da campanha, o presidente deve repetir a dose e visitar os estados na maior parte da semana — passando, inclusive, pelo ABC paulista na sexta (30), berço político de Lula.
Na quarta-feira (28), Bolsonaro deve estar na Baixada Santista. No dia seguinte, deve passar por Uberlândia e Belo Horizonte (MG). Em Minas Gerais, aliados estão esperançosos com o desempenho eleitoral do presidente.
A avaliação de aliados é que Bolsonaro tem condições de ganhar do petista do estado. A estratégia é tentar surfar no desempenho eleitoral do governador Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição e líder nas pesquisas.
O chefe do Executivo deve ir ainda para a Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, na véspera do primeiro turno. A expectativa é que ele durma lá, vote cedo e retorne para Brasília, para acompanhar a apuração dos votos.
Bolsonaro disse, na sua transmissão semanal nas redes sociais, que motociatas devem ocorrer no sábado (1º) em várias cidades do país. Ele não afirmou, contudo, se pretende participar.
O mandatário deve marcar presença ainda da sabatina da Record, na segunda (26), após passar o dia em agenda de campanha em Brasília e, possivelmente, em Goiânia. Na quinta (29), deve ir ao último debate presidencial, na TV Globo.
Durante toda a campanha, o mandatário evitou conceder entrevistas a jornais ou falar com todos os repórteres que o acompanham em agendas públicas.
Ele concentrou seus contatos com a imprensa em viagens aos estados e a entrevistadores e podcasters simpáticos a ele. No caso dos podcasts, foram mais de 12 horas de entrevistas, juntando todas as participações. A conversa mais longa foi com o Flow, com mais de cinco horas ininterruptas de transmissão. MARIANNA HOLANDA E MATHEUS TEIXEIRA/FOLHAPRESS