Crescemos ouvindo que devemos ser fortes durante todo o tempo, que as pessoas de sucesso são aquelas firmes, perseverantes e que não desistem nunca. Esse discurso é muito bonito e, inicialmente, nos passa uma ideia muito positiva e de fortalecimento. Mas, ao estudarmos a semiótica (teoria geral das representações, que leva em conta os signos/símbolos sob todas as formas e manifestações que assumem, sendo linguísticas ou não, enfatizando a propriedade de convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram), e ao atendermos os nossos pacientes no consultório, percebemos que o que é falado pode ser internalizado de diversas formas. Afinal, estamos numa sociedade cheia de paradoxos.
Há momentos em que nos fazemos de fortes e acabamos com nossa saúde mental, o que nos leva ao esgotamento, ao cansaço e até mesmo à depressão. Isso é o resultado de um padrão de pensamento muito rígido e a um perfeccionismo comportamental de não aceitação das nossas debilidades e nem dos que estão à nossa volta.
Dessa forma criamos pais, filhos (as), namorados (as) e funcionários (as), tudo bem perfeitinho e sob nosso total controle. Isso nos leva a um nível de cobrança exageradamente alto, fazendo os outros sofrerem pelo nosso modo de ser.
A psicanálise nos mostra que os que assim agem podem muitas vezes estar projetando no outro algo que falta ou deseja em si. É menos doloroso projetar no outro que aceitar nossas incongruências e fragilidades.
Os principais sintomas da não aceitação da realidade e dos seus próprios limites são: exaustão, baixa atenção, irritação, perda do prazer (anedonia), pensamento lento, insônia, entre outros.
Aceitar que você não é perfeito não é se entregar à imperfeição. Passa longe disso. É simplesmente aceitar que você não é perfeito, simples assim. É entender que você não está dando conta, como gostaria, de terminada área da vida e que não vai ser a pior pessoa do mundo por isso. É aceitar que, se não passou no Enem ou no concurso, mesmo tendo se esforçado muito, não é porque você é menos inteligente do que o que conseguiu aprovação (ele pode ter utilizado uma melhor técnica de estudo que você, é só aprendê-la). Se não conseguiu levar o namoro adiante, mesmo tendo se esforçado para dar certo, não é porque você é a pior pessoa do mundo e nunca terá namorados ou namoradas. É porque não deu certo neste momento (pode dar em momentos futuros); simplesmente estava fora do propósitos da vida. Manter-se na rigidez, com medo de se mostrar fraco, na realidade, é a pior estratégia. Isso só demonstra a pouca aceitação que tem de si e da realidade, não sendo nada resiliente.
Uma questão muito interessante é que o indivíduo nega sua fragilidade mostrando-se forte todo o tempo, pelo fato de ter medo da dor/frustração. Ele só não sabe que aceitar sua dor é um dos primeiros passos para se restabelecer e continuar sua jornada de modo mais leve e com mais chances de dar certo, pois já teve uma grande aprendizagem. E ainda há mais: aceitar sua fragilidade pode ser muito menos doloroso do que o esforço de se mostrar forte todo o tempo.
Aceitar-se do modo que é, suas potencialidades e vulnerabilidades, dói muito menos, faz você atuar até dentro dos seus limites, te ajuda a buscar as melhores estratégias de desenvolvimento para se superar a cada momento e, principalmente, traz o alívio de que você não precisa vencer em tudo nem ser perfeito a qualquer custo.
Há uma abordagem muito interessante na psicologia que é a Terapia da Aceitação e Comprometimento, a ACT (Acceptance and Commitment Therapy), que tem como uma das suas propostas centrais aceitar o que está fora de seu controle pessoal e se comprometer com a ação que melhore e enriqueça a sua vida. Ela também propõe a ensinar habilidades psicológicas para lidar com seus pensamentos e sentimentos dolorosos de forma eficaz, de tal forma que eles passam a ter muito menos impacto e influência sobre o indivíduo, ajudando-o a esclarecer o que é verdadeiramente importante e significativo para o paciente, e então usar esse conhecimento para orientar, inspirar e motivar sua vida para que seja melhor.
Ao deparar consigo mesmo, não se estranhe. Esforça-te no engenhoso desafio que é aceitar a si e ao outro e, a partir daí, caminhar rumo ao desenvolvimento da sociedade. Talvez essa seja a melhor forma que temos de não adoecer e construir um mundo mais leve.
Espero que a leitura deste artigo tenha lhe ajudado. Aproveite e mostre a um amigo que necessita de uma leitura mais apropriada ao problema que esteja passando. Caso queira contribuir com críticas ou sugestões a esta coluna de comportamento, é só entrar em contato pelo 33-98818-6858 ou 3203-8784 ou pelo e-mail: leosavieira@gmail.com.
Leonardo Sandro Vieira