Os embates entre girondinos e jacobinos na revolução sangrenta da França de 1789 forneceram muito da noção que hoje temos de direita e esquerda. Sentados à direita na Assembleia Nacional, os girondinos se opunham aos jacobinos, instalados no outro lado. O interessante é que, por mais polarizadas e radicalizadas que fossem as reuniões, naquela sala a bolha não funcionava. Eles tiveram que se sentar para construir entendimento, tiveram que fazer política mesmo sob gritos e caras feias. Afinal, política é uma forma controlada de guerrear sem armas, ou violência, correto?
Exatamente por isso, o rótulo direita e esquerda é muito útil para definir pautas que ambos os grupos defendem por vezes antagônicas, irremediavelmente. Por exemplo, não é de se esperar que um político de direita liberal apoie a estatização de empresas privadas; da mesma forma, que um de esquerda apoie a privatização das públicas. Se o cara fala que é de esquerda, sabe-se basicamente o que esperar dele, assim como no lado oposto. Ou seria melhor se todas as farinhas estivessem no mesmo saco?
Esse modelo plural, para alguns, é chato demais. Para usar um termo francês, é “démodé”, fora de moda. Na última estação mesmo está o tecnicismo, o equilíbrio, a correção de posturas públicas, as biografias alvas como a neve, o politicamente correto, a pluralidade de uma única visão. Mesmo que por trás dos “twittes” e “selfies” a “pura alma política” esconda um oceano de hipocrisia moral, ética e, porque não dizer, em muitos casos, extensa ficha criminal.
A realidade é que a velha e boa política está sendo substituída por algo que, se bem sucedido, destruirá tanto a direita (alvo da vez) quanto a esquerda (próxima da lista). O debate político, “chato”, “barulhento”, “lento”, não terá mais vez em um mundo onde os técnicos decidem o que é melhor para todos. Assim como os “técnicos” do Terceiro Reich, que defenderam a eliminação dos judeus como método de limpeza da sociedade alemã. Provando que a técnica como pretexto mata e mata com crueldade. Atualmente, a escolha da direita como alvo prioritário ocorre meramente por “stratégie”, usando outro termo francês. Sun Tzu já ensinava: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. É muito melhor usar um processo revolucionário existente para depois implodi-lo do que iniciar algo do zero.
Arte popular já prenuncia: “o golpe tá aí… cai quem quer”. As “Big Techs”, os metacapitalistas, as mídias mainstream, estão substituindo os governos locais e tomando decisões que são obedecidas por parte considerável da população. Cabe lembrar que, quando a capacidade de ordenar se une à obediência, nasce o poder. O nazismo e o comunismo não deixam essa afirmação ser mentirosa.
Essas empresas já são capazes de censurar políticos mandatários de qualquer grande nação, sem medo de represálias. Elas já podem escolher as “verdades” mais convenientes. Elas decidem muita coisa por você, até seu político.
Essa realidade pode ser facilmente observada em uma declaração da social democrata chanceler da Alemanha Angela Merkel, que considerou “problemática” a decisão de banimento do presidente norte-americano das redes sociais. Problemática? Francamente… O que aconteceu foi a completa desmoralização de todos os políticos do mundo. Eles agora só podem existir com as bênçãos das divindades Zuckerberg e Jack Dorsey, donos do Facebook e Twitter, respectivamente. Banir Trump foi a maior humilhação da classe política da história humana. Pelo menos os revolucionários franceses tiveram a coragem de cortar a cabeça de Luiz XVI, assumindo os custos históricos dessa radical decisão.
Por fim, você que é da esquerda tenha uma coisa em mente: dois grupos revolucionários diferentes têm até afinidades, mas, nesse caso, duas revoluções não podem coexistir. O alinhamento globalista com a esquerda durará até a direita ser totalmente derrotada. Logo após, os precedentes abertos contra os conservadores serão usados com ainda mais violência contra os progressistas. A França ainda dormia enquanto Napoleão Bonaparte colocou uma coroa na própria cabeça. Que o despertar não ocorra tarde demais.
Ricardo Dias Muniz é especialista em Gestão Estratégica, engenheiro de Produção, estuda Direito e Ciências Políticas.