Mesmo após a abertura de dois editais voltados para brasileiros, mais de 1,4 mil vagas deixadas pelos cubanos no programa Mais Médicos não foram preenchidas por profissionais com registro no País. O balanço foi divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. O número representa cerca de 17% dos 8.517 postos de trabalho deixados pelos estrangeiros em novembro, quando Havana rompeu o convênio com o Brasil e ordenou o retorno quase que imediato de seus doutores.
Das 1.462 vagas não preenchidas, 842 nem sequer tiveram inscritos, a grande maioria delas nas regiões Norte e Nordeste. Outras 620 até registraram interessados no segundo edital, mas eles não compareceram às unidades de saúde no prazo determinado, que terminou na quarta-feira, 9. Agora, o ministério abrirá as vagas ociosas para brasileiros formados fora do País ou estrangeiros sem diploma revalidado. Eles já se inscreveram no sistema e precisam só escolher o município de interesse.
Segundo cronograma divulgado pela pasta, os brasileiros formados fora do País poderão escolher as vagas nos dias 23 e 24. Depois, nos dias 30 e 31, estrangeiros poderão entrar no sistema e, entre as vagas remanescentes, selecionar uma cidade.
Para entidades médicas, apesar das 1,4 mil vagas ainda abertas, o índice de preenchimento dos postos de trabalho por brasileiros foi “fantástico” e poderia ser ainda mais alto. “O discurso do governo no passado para implantar o Mais Médicos e para a entrada de cubanos foi de que brasileiros não queriam de forma alguma trabalhar nesses lugares, mas agora a maioria das vagas foi preenchida. O índice só não foi maior porque algumas medidas não foram tomadas”, diz Diogo Leite Sampaio, vice-presidente da Associação Médica Brasileira (AMB). Ele se refere à oferta de desconto na dívida do Financiamento Estudantil (Fies) a médicos formados com o auxílio e o uso de médicos das Forças Armadas para áreas de difícil acesso.
Já o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou que também considera o número de brasileiros suficiente para preencher as vagas em aberto. “Ressalte-se que 5.968 médicos passaram a integrar o Mais Médicos entre 14 de novembro e 11 de janeiro, o que dá uma média de 100 novas incorporações por dia, sendo que essa adesão foi livre e voluntária, independentemente de acordos ou interesses outros”, declarou, em nota.
Queixas
Mas para as cidades que ainda não tiveram os cubanos repostos, o cenário é de desespero. Em Serra do Ramalho, no oeste baiano, a prefeitura diz ter triplicado os custos de manutenção do hospital local, desde a partida dos cubanos. “O nosso hospital está sobrecarregado. Sem a presença dos cubanos nas comunidades passamos de uma média de 100 atendimentos por dia para quase 300”, afirma o prefeito Ítalo Anunciação (PSD).
O município tinha seis profissionais de Cuba. Em todas as vagas abertas, houve inscrição de brasileiros, mas só metade compareceu. Para manter o hospital, ele diz receber cerca de R$ 70 mil mensais, mas nos últimos meses esse custo subiu para R$ 400 mil, comprometendo os gastos com outras áreas.
Em Serra Dourada, também no oeste da Bahia, a situação é parecida. Com três postos sem médicos, eles têm alternado os dias de atuação de outros três profissionais, já contratados pela prefeitura. “Brasileiros não querem trabalhar nas cidades pequenas do interior, muito menos na zona rural”, diz o prefeito José Milton Frota (PT).
por Fabiana Cambricoli e Heliana Frazão, especial para o Estado da Agência Estado