FOLHAPRESS – Após mudarem as indústrias de filmes e da música, os serviços de conteúdo por assinatura –cujos exemplos mais conhecidos são Netflix e Spotify– começam a mudar também o mercado dos jogos eletrônicos.
De 2018 para cá, Apple, Google, Microsoft e Sony, além de grandes estúdios de games como Eletronic Arts (EA) e Ubisoft, lançaram, remodelaram ou expandiram serviços próprios de assinatura de conteúdo com o objetivo de disponibilizar aos consumidores uma gama ampla e diversa de jogos a preço mensal baixo.
Com opções tanto para os consoles quanto para computadores e smartphones, esses serviços estão mudando não só a forma como o mercado funciona mas também o comportamento dos consumidores de jogos eletrônicos.
“O comportamento que a gente tem visto é as pessoas jogarem 40% mais tempo, trocando outras formas de entretenimento, como TV e música, pelo videogame, e experimentando 30% mais novos gêneros”, diz Bruno Lobo Motta, gerente de categoria de Xbox, sobre o comportamento dos assinantes do serviço Xbox Game Pass, da Microsoft.
Um dos poucos serviços do tipo já disponíveis no Brasil, o Game Pass dá acesso a um catálogo de mais de 200 jogos para o Xbox One e para computador por R$ 39,99 por mês –há também opções mais baratas separadamente para PC (R$ 41,99 por trimestre) e console (R$ 29 por mês).
A sensação é compartilhada pela game designer Thais Weiller, do estúdio JoyMasher, que disponibiliza o jogo Blazing Chrome no serviço.
“Muitos jogadores nos disseram que não comprariam o jogo baseado no que viram antes do lançamento, mas, como estava no Game Pass, acabaram jogando e se surpreenderam positivamente”, afirma.
Para disponibilizar o jogo no serviço por um tempo predeterminado, a JoyMasher recebeu um valor fixo da Microsoft. Para o estúdio, o acordo foi positivo por ajudar a financiar o projeto em um momento crítico, pré-lançamento.
“Para nós, foi bem interessante porque eles também adicionaram um valor para desenvolver o jogo para Xbox One, que originalmente não era umas das plataformas previstas”, diz Weiller. “Ter esse dinheiro durante o desenvolvimento e antes do lançamento foi uma vantagem. Ajudou a dar uma respirada.”
Mas não são só jogos independentes –os chamados “indies”– que fazem parte da plataforma. Segundo Motta, o objetivo é disponibilizar aos assinantes uma coleção de jogos curada, com qualidade e de diversidade de gêneros.
Para isso, desde 2018, a Microsoft adquiriu sete estúdios de games e criou mais um, se comprometendo a disponibilizar toda a sua produção no Game Pass no mesmo dia do lançamento dos jogos. A empresa também mantém negociações constantes para adicionar títulos de outros distribuidores à sua plataforma.
É possível encontrar no catálogo tanto grandes blockbusters (como Grand Theft Auto 5 e The Witcher 3) quanto jogos premiados de produtoras menores (Untitled Goose Game e Human Fall Flat).
Se, por um lado, as produtoras perdem parte da receita que poderiam ganhar com a venda de seus jogos, por outro, conseguem acesso fácil a uma grande base de jogadores e podem buscar lucrar de outras formas, como pacotes de expansão (os chamados DLCs) ou venda de itens virtuais dentro do jogo (microtransações).
“Quando um jogo AAA [grandes produções] entra no Game Pass, em média, a base de usuários ativos desse título duplica no Xbox, podendo aumentar em até 3,5 vezes. Quando é um jogo indie, a gente vê um crescimento de seis vezes em média, indo a até 33 vezes”, diz Motta.
O executivo não revela o número de assinantes do serviço no Brasil, mas afirma que o modelo é bem-aceito: “O brasileiro está acostumado a trabalhar com parcelamento. É mais palatável para ele fazer um pequeno pagamento por mês a grandes investimentos”.
Os principais títulos da plataforma podem chegar ao consumidor a preços próximos de R$ 250 no lançamento, valor equivalente a mais de seis meses da assinatura mais cara do Xbox Game Pass.
Por um valor mais em conta, os brasileiros também podem assinar o serviço da EA, conhecida pelas séries Fifa e The Sims. A empresa tem dois serviços similares de assinatura de games: o EA Access (para Xbox One e PlayStation 4) e o Origin Access (para PC).
Seguindo a mesma tendência, a Apple lançou em setembro do ano passado o serviço Apple Arcade, que dá acesso a mais de cem jogos nos dispositivos da marca, como iPhone, iPad e Apple TV. No Brasil, o serviço custa R$ 9,90 por mês.
Sua principal vantagem é dar acesso a jogos sem anúncios nem compras dentro do app, práticas que se tornaram comuns em games para dispositivos móveis, mas que ainda irritam muitos consumidores.
Pouco depois do lançamento do serviço pela Apple, o Google anunciou uma versão similar para aparelhos Android, o Google Play Pass. O serviço, porém, só está disponível nos EUA.