GOVERNADOR VALADAERES – Uma cidade com potencial estratégico, mas marcada por problemas estruturais que limitam seu crescimento. Um estudo realizado pelo Grupo de Análise Econômica Local (GAEL), projeto de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares (UFJF-GV) , apresenta em dados um raio-x socioeconômico do município.
O estudo analisou dados de 72 municípios brasileiros com população semelhante à de Valadares e apresentou um ranqueamento baseado em diferentes indicadores econômicos e sociais. Foram avaliados eixos como emprego e renda, segurança, educação, saúde, habitação, agropecuária e comércio exterior. A cidade foi comparada ao Vale do Rio Doce, Minas Gerais, à região Sudeste e a cidades de porte semelhante em todo o país.
Segundo o coordenador do GAEL, professor Vinícius de Azevedo Couto Firme, a iniciativa surgiu para “trazer informações socioeconômicas de Valadares para tornar a população mais consciente da sua própria realidade local. Pessoas mais conscientes são mais aptas a cobrar por melhorias e são mais ativas na busca por desenvolvimento”.
Vinícius também destaca a carência de discussões aprofundadas sobre a cidade. “Percebi que Valadares não tem uma discussão mais profunda em termos de dados socioeconômicos, as discussões muitas das vezes são subjetivas e muito superficiais. E a gente montou esse grupo para acompanhar os dados de Valadares e comparar com outras cidades que são parecidas em termos populacionais. Dessa forma, a gente consegue verificar se Valadares está se saindo bem ou mal em diversos eixos que estamos analisando”, explica.
Metodologia do estudo e ranqueamento dos municípios
O GAEL reuniu dados de fontes como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Saúde e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os números foram organizados em indicadores que permitiram uma análise comparativa entre os municípios.
“Até o momento a gente coletou informações de Valadares para alguns anos específicos: 2000, 2010, 2020. […] Então a ideia é ampliar o horizonte temporal, a frequência temporal desses dados para a gente poder acompanhar Valadares ao longo do tempo e ver o que está evoluindo e o que não, e quando aquele fator que a gente está analisando começou a melhorar ou começou a piorar. Aí a gente vai poder fazer análise e depois com esses dados criar indicadores, uma espécie de notas para as gestões de Valadares, então a gente pode ver se uma determinada gestão foi boa na melhora da saúde ou da educação de qualquer um desses indicadores”, destaca o professor.
Emprego e renda: uma economia travada pela falta de indústrias
No eixo de emprego e renda, Valadares ficou em 69º lugar entre os 72 municípios analisados. A dependência do setor de serviços e a ausência de uma base industrial sólida explicam parte desse desempenho negativo.
Apenas 17% dos empregos formais na cidade são ocupados por pessoas com ensino superior completo, refletindo uma baixa qualificação da mão de obra local. A economia é dominada por atividades que oferecem poucas oportunidades de crescimento profissional, como comércio, alimentação e serviços gerais.
“A gente viu que o percentual de empregados formais por escolaridade em Valadares é relativamente baixo. Por exemplo, 17% dos empregados formais em Valadares possuem graduação, nível superior ou mais, e a gente viu que esse percentual é relativamente baixo quando a gente compara com outras cidades que têm o mesmo porte populacional de Valadares. Então poderia ser um número maior. Eu particularmente atribuo isso, de novo, à carência de um setor industrial”, analisa Vinicius.
Desafios para o desenvolvimento de Valadares
O professor também destaca que a economia local é dominada por empregos com poucas perspectivas de crescimento. “A pessoa entra ali e vai trabalhar como caixa de supermercado e ela não tem a possibilidade de crescer lá dentro, não tem incentivo para que ela estude e talvez consiga cargos melhores dentro daquela empresa”.
A educação também apresenta sérios gargalos. O índice de analfabetismo em Valadares foi de 5,1% em 2022, número significativamente superior ao de Sete Lagoas (3,2%) e Divinópolis (2,9%). Além disso, a cidade demonstra dificuldade em reter mão de obra qualificada, já que muitos profissionais formados em Valadares migram para outras regiões em busca de melhores oportunidades.
Sobre a educação, Firme reforça que os números são um reflexo da estrutura econômica da cidade. “Valadares amarga uma baixa capacidade de retenção da mão de obra mais qualificada”. Muitos profissionais formados na cidade acabam migrando para locais com melhores oportunidades.
Segurança: uma barreira ao desenvolvimento
O eixo de segurança também coloca Valadares em posição desfavorável. A cidade possui uma taxa de homicídios 2,8 vezes maior que a média de Minas Gerais, enquanto as mortes no trânsito são o dobro da média da região Sudeste.
Segundo o professor, esses índices afastam investidores, especialmente pequenos e médios empresários, que buscam cidades com infraestrutura e qualidade de vida. “O que descobrimos é que Valadares tem um trânsito caótico e uma taxa de homicídios quase três vezes maior que a média estadual. Para piorar, a cidade sequer possui uma pista rápida que justificasse tantos óbitos no trânsito. Com relação à taxa de homicídios, Valadares é comparada a Foz do Iguaçu, que é tríplice fronteira e uma região muito violenta”, disse.
Agropecuária: um ponto de destaque na economia local
Apesar dos desafios econômicos, o estudo reconhece a força do setor agropecuário em Valadares. Em 2017, a cidade ocupava a 10ª posição nacional em produção animal entre cidades de mesmo porte e a 19ª posição em agropecuária.
Embora o setor represente menos de 1% do PIB total da cidade, ele movimenta uma cadeia produtiva significativa, especialmente em áreas como laticínios e frigoríficos. “Valadares tem uma produção pecuária robusta, mas precisa fortalecer essa base e expandir sua participação no mercado”, sugere o estudo.
“Apesar do percentual ser baixo, a gente viu que Valadares tem uma produção pecuária que parece ser muito importante. Quando a gente pegou a quantidade de quilos de carne por habitante, o valor de Valadares era o dobro das cidades próximas”, afirma o professor.
Comércio Exterior: dependência e baixa representatividade
O eixo de comércio exterior é um dos pontos mais frágeis da economia de Governador Valadares. O estudo do GAEL revela que, em 2020, as exportações e importações representaram apenas 2,6% do PIB da cidade, índice muito inferior ao de outras localidades de porte semelhante, cuja corrente de comércio exterior chega a 60% do PIB.
Esse desempenho é influenciado pela dependência de um único produto: pedras preciosas, que compõem mais de 80% das exportações locais. Essa concentração deixa Valadares vulnerável às flutuações de mercado e limita sua capacidade de diversificar a economia.
O baixo desempenho no comércio exterior reflete a falta de integração da cidade a cadeias produtivas globais, reduzindo as oportunidades de atração de investimentos estrangeiros e o estímulo à inovação tecnológica.
“Governador Valadares é uma cidade relativamente pobre, carente de indústrias e dependente do setor público. Além disso, é pouco conectada ao mercado internacional, com um perfil de exportações muito concentrado. Isso limita o desenvolvimento econômico e a competitividade do município”, explica Vinícius de Azevedo.
O futuro de Valadares: o que precisa ser feito?
O estudo aponta que a solução para os desafios econômicos de Valadares passa pela atração de indústrias, melhoria na segurança pública e investimentos em educação e infraestrutura urbana.
A ausência de uma política industrial sólida é um dos maiores entraves ao desenvolvimento econômico de Valadares. O estudo revela que o PIB industrial da cidade é muito baixo em comparação a outras localidades de mesmo porte. Enquanto cidades como Ipatinga, com sua forte base industrial, apresentam uma renda per capita significativamente maior, Valadares depende do setor público e do comércio local.
Para atrair grandes indústrias, o professor sugere medidas como incentivos fiscais e investimentos em infraestrutura. “A localização estratégica de Valadares, próxima a grandes centros e cortada por importantes rodovias e ferrovias, é um diferencial. No entanto, a cidade precisa oferecer condições que atraiam investidores, como segurança e políticas de incentivo”, explica Vinicius.
Comments 9
Muito bom , falou com propriedade esqueceu que Valadares foi piada por causa do nome : Governador Valadares , deixou de receber melhorias , parece coisa de filme , mas a política faz isso.
Valadares foi agraciado agora com a entrada na SUDENE , sempre foi um sonho para o Valadarense.
Valadares é o que é hoje , acredito pela exportação de mão de obra para os EUA , INFELIZMENTE essa é a nossa triste realidade. Quanto aos homicídios ainda é bandidos matando bandidos , quando começar assalto com morte a comerciante , roubo de carro e motos seguidos de morte , aí sim , estaremos bem pior.
Mas a análise está perfeita
Quando cheguei em Valadares tinha menos de 07 anos. Cresci estudei, fiz ensino médio, casei morei mais uns anos fui embora, justamente a procura de melhores condições de vida.
Cresci ouvindo dizer que Valadares não poderia ao exemplo de Ipatinga se industrializar para não se poluir; e essa é a lógica de sempre. Li toda a reportagem e achei ótimo o estudo pois foca nas necessidades do município em se transformar e tornar-se um lugar atrativo financeiramente e que as pessoas possam viver com mais alegria e satisfação. Há também a grande dependência de dólar enviados por pessoas de Valadares e região enviados para investimentos pessoais e que no coletivo não elevam o status da economia da cidade.
As perspectivas sombrias causa desânimo. Vejam só os últimos prefeitos e deputados, pois a classe política só olha para o próprio umbigo. A mediocridade é o que prevalece, pois o sonho do povo é EUA.
Valadares tem a indústria de multas
Amo minha Valadares!
Gostei muito do texto e fico triste por ler o mesmo que se ouve pelas ruas. O povo já sabe de tudo isso que foi dito. Porque será que ainda não temos políticas públicas que nos ofereçam uma perspectiva mais otimista?
Torço pela nossa cidade!!
Somos uma cidade dominada por castas, famílias tradicionais de comerciantes, políticos que se beneficiam dessa situação de entrave do desenvolvimento da cidade, impondo barreiras de entrada a novos negócios, indústrias e desenvolvimento social.
Essa política favorece a manutenção da subserviência e impede que projetos de desenvolvimento sejam pensados para a cidade.
Por isso os talentos formados na cidade vão embora em busca de melhores condições e há tanta fuga dos nossos conterrâneos para os EUA e Europa, minando o empreendedorismo e a inovação de nossa economia.
O histórico de Valadares é esse, sempre na engrenagem principal, a dependência da pecuária q ao longo dos anos n̈ evoluiu, ñ se preocupou no beneficiamento e industrialização dos produtos,o comércio local é a consequência dessa cadeia do campo, já q nunca houve uma política de industrialização q elevasse o número de empregos e qualificação de msm, tínhamos nas décadas atrás uma mineração até consistente como pedras e a mica q hj é praticamente inexistente, em contra partida o q vemos na atualidade são os representantes políticos q ñ se esforçam em trabalhar essas estatísticas pra de fato fazer valer desenvolvimento local, prova disso são os Distritos q ñ são poucos, tds jogados no abando total…
Excelente pesquisa… Trouxe em números a percepção de muitos. Torcer para que esse estudo sirva de fundamento para novas políticas públicas de desenvolvimento economico na nossa cidade.
Só mais uma coisa. Gostaria de parabenizar o trabalho da UFJF, por meio do curso de Ciencias Economicas. Mais uma vez mostrando o papel social das universidades federais nas comunidades! Deram show.