O agravamento da seca no interior do Nordeste tem provocado filas para abastecimento de baldes e garrafões de água em frente a caminhões-pipa e reservatórios em cidades de médio e pequeno portes.
Em ao menos cinco estados da região, açudes estão praticamente vazios, e a rotina dos moradores está afetada por causa da situação de emergência.
O pior cenário de estiagem ocorre no estado da Paraíba. Lá 195 das 223 cidades estão em situação de emergência. A medida é declarada pelas prefeituras e pelos governos estaduais para que os municípios possam receber com mais facilidade os recursos para atenuar os danos à população.
Em Solânea, no interior da Paraíba, a 130 quilômetros da capital João Pessoa, o abastecimento de água foi suspenso em agosto. Desde então, o recebimento hídrico só ocorre por meio de carros-pipa.
No início de setembro, a Cagepa (Companhia de Água e Esgotos da Paraíba) anunciou que a barragem de Canafístula, reservatório que abastece a cidade e a vizinha Bananeiras, secou. Com isso, a captação de água para distribuição ficou completamente comprometida.
As consequências da escassez de água na unidade afetam em média 70 mil residências nas duas cidades. De modo geral, na Paraíba, um em cada quatro reservatórios do estado operam com menos de 5% da capacidade.
A situação de estiagem na Paraíba teve um avanço em agosto devido à falta de chuvas. Dados do Monitor das Secas, vinculado à Agência Nacional das Águas, apontam para impactos de longo prazo –a exceção é o sudoeste do estado, afetado a curto prazo.
O estudo realiza o acompanhamento do grau de severidade das secas no Brasil e indica as implicações geradas em curto ou longo prazo. São considerados impactos de curto prazo os déficits de precipitações recentes, de até seis meses. Acima desse período, os impactos são tidos como de longo prazo.
Para além da Paraíba, a situação do Nordeste gera temor. Os reservatórios da região estão em média com 50% da capacidade, segundo o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico.
O abastecimento de água com caminhão-pipa também é realidade na rotina de pessoas de 12 dos 75 municípios de Sergipe, que fica às margens do rio São Francisco. Ao todo, são 68 mil pessoas afetadas pela seca no menor estado em termos de população na região.
Em Sergipe, com a chuva abaixo da média em parte do estado, há impactos previstos em curto e longo prazos.
Já Pernambuco tem 116 dos 184 municípios em situação de emergência, por determinação do governo do estado. A medida segue até março de 2022.
Para o estado, o Monitor das Secas sinaliza que, com a redução no volume de precipitações nos últimos meses, houve a intensificação da seca no extremo sul. Nessa parte, a situação passou de moderada para grave em agosto. Por outro lado, devido a chuvas acima da média, houve um recuo da seca no leste do estado, próximo ao litoral.
No Piauí, por sua vez, 50 municípios estão em situação de emergência. A seca atingiu o nível moderado no oeste do estado. A tendência é de impactos de curto prazo no norte e de longo prazo nas demais áreas do território.
Maranhão, Ceará e Alagoas têm previsão de seca de impactos de curto a longo prazo. Na Bahia, fora o litoral, a previsão é de consequências de curto prazo.
Já no Rio Grande do Norte, houve avanço da seca grave no nordeste e oeste, também com impactos de curto a longo prazo.
Para tentar atenuar os efeitos da estiagem, o Consórcio Nordeste, conglomerado dos nove governos estaduais da região, realiza uma campanha para estimular doações para a construção de cisternas. Segundo cálculos da entidade, mais de 350 mil famílias estão sem acesso à água no semiárido.
O projeto é mantido em parceria com a ASA (Articulação do Semiárido). O objetivo, conforme os organizadores, é dar às famílias rurais, além do direito à água, o acesso a sementes. JOSÉ MATHEUS SANTOS/FOLHAPRESS