A empresa Tolomelli Star iniciou neste ramo na cidade no início da década de 80 e chegou a levar seus trenzinhos para outros lugares do Brasil
Os passeios pelos trenzinhos da empresa Tolomelli Star marcam a infância de muita gente de Valadares. Desde o início, em meados de 1981, os colaboradores dos trenzinhos se vestem de personagens de desenhos animados e programas infantis cativando a criançada que participa das viagens. Com mais de anos de história, o trabalho realizado pela empresa valadarense motivou a criação de outros trenzinhos na cidade e até fora de Valadares, além da criação de uma página no Instagram chamada Museu dos Trenzinhos.
No Brasil, o trenzinho mais conhecido atualmente é o da Carreta Furacão, da cidade de Ribeirão Preto, que viralizou com vários vídeos nos últimos anos nas redes sociais. Poucos sabem, mas o trenzinho da Tolomelli Star esteve na cidade paulista na década de 1980 e motivou a criação deste entretenimento naquela cidade.
Início da Tolomelli Star
O DRD conversou com Tolomelli, o idealizador dos trenzinhos em Valadares. Ele conta que desde o início a aposta era no entretenimento do público infantil, por isso a existência dos colaboradores fantasiados de personagens de desenhos e programas de televisão. “Quando eu era mais novo, vi algo bem simples que funcionava como uma espécie de trenzinho, mas tinha apenas um sininho anunciando a passagem dele nas ruas. Resolvi lançar o trenzinho com personagens que se identificavam com o público infantil e aquilo foi sucesso. Sempre gostei de ser precursor das coisas e resolvi arriscar. Fiz vários nesses 40 anos de história. Cheguei a ter trenzinhos em cinco cidades, mas ficou difícil a administração e quis focar no mais perto, que era aqui de Valadares”.
Quem foi criança em Valadares nas décadas de 80 e 90 dificilmente não andou nos conhecidos trenzinhos da Tolomelli Star. Os dois primeiros eram: um estilo Maria-Fumaça e outro lembrava o Minhocão dos parques de diversões. Depois teve o trenzinho que tinha na parte frontal o rosto da Cuca, personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Nave da Alegria e Baleia Star formavam o quarto veículo. E por último, o Trio Star, que iniciou em meados de 1985 e de lá para cá passou por transformações e inovações. “Sempre gostei de ter novidades e fui fazendo as adaptações no Trio Star durante a sua existência, aplicando sonorização, iluminação, televisão, DJ, banheiro, câmeras de segurança e até fraldário, dentre outras muitas coisas. Me lembro que, certa vez, a extinta revista Manchete considerou o Trio Star o melhor trenzinho do país. Também tive relatos de pessoas que estavam nos Estados Unidos que viram anúncios do nosso trenzinho como atração turística em caso de visita a nossa cidade”, relembra Tolomelli.
O empresário valadarense também citou as viagens dos trenzinhos para cidades de outros estados. Segundo Tolomelli, os trenzinhos viajaram bastante até o fim da década de 80. Além de cidades próximas a Valadares, os trenzinhos passaram por cidades do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Espírito Santo. “Fizemos várias viagens. Às vezes o nosso trenzinho passava uma temporada de até três meses em outras cidades. Inclusive, lá em Ribeirão Preto, fizemos sucesso com a visita do nosso trenzinho na década de 80. Sempre recebíamos convites de prefeituras para poder fazer esse tipo de trabalho, e até de mudar de cidade, como aconteceu certa vez em um convite para ficar em Porto Seguro, mas na época, como também tinha outra atividade em nossa cidade, preferi continuar em Valadares”.
“Fiz vários cursos como psicologia infantil, turismo, marketing, artes, dentre muitos outros e fui aplicando esses conhecimentos nesse trabalho do trenzinho. Como deu muito certo, vejo que muita gente copiou isso. Até onde sei, esses trabalhos de trenzinhos pelo Brasil deve ter gerado cerca de 5 mil empregos direto e indireto, além de movimentar a economia local por onde passava”, destaca Tolomelli.
O Trio Star está com as atividades paralisadas desde o início da pandemia, mas Tolomelli ressalta que quer voltar e aguarda a situação do país melhorar para poder colocar o trenzinho na rua novamente, sempre focando no público infantil e família. “Se Deus quiser, quero voltar a colocar ele na rua, mas primeiro tenho que esperar essa situação da pandemia amenizar. Aprendi em um curso que fiz, que o ser humano precisa de entretenimento, além de novidades, como foi o trenzinho lá no início. O pessoal chegava até a mim e me falava que isso não daria certo, mas sempre arrisquei e estudava bastante para ter sucesso nesse trabalho, não só momentâneo, mas que se perpetuasse. Com mais de 40 anos de história, acredito que consegui atingir o objetivo. Se voltar terá novidade com certeza, mas não posso falar no momento para evitar que copiem”.
Tolomelli ainda cita que sempre prezou pela segurança e adota protocolos que são repassados aos colaboradores, como pode ser visto na sede da empresa com as regras para cada função. “Esse meu trabalho foi desenvolvido com muita organização, para não dar brecha para erros, porque se acontece algo ruim, marca de forma negativa. É isso que eu tomo cuidado. Temos que fazer o trabalho para ser duradouro e, por isso, acredito que muita gente lembra de forma positiva do nosso trenzinho pelo trabalho bem feito durante todos esses anos”.
Izaias Souza trabalhou na Tolomelli Star de 1982 e 1998 e depois na Expresso da Alegria, outra empresa que surgiu na cidade. Com ampla experiência, ele chegou a atuar como personagem e carreteiro. Hoje Izaias está realizando um trabalho de reforma em um trenzinho em Pontes e Lacerda, cidade no Mato Grosso, mas não se esquece da época áurea. “O trenzinho quando surgiu na época que não tinha internet e muitos jogos eletrônicos, marcou muita gente. Por onde ele passava ele arrastava as pessoas de dentro de casa e aqueles personagens como Cuca, Olívia Palito, Mickey, Pateta, Turma da Mônica, Fofão, deixavam as crianças radiantes. Havia muita interação nesses passeios. A gente que trabalhou assistia muito os programas e desenhos desses personagens para na hora do trenzinho rodar fazer algumas brincadeiras que eram características. A nossa missão era agradar essas crianças. Hoje vejo que mudou um pouco o público dos trenzinhos, já que as coisas vão mudando e esses passeios estão sendo mais para adolescentes”.
Museu dos Trenzinhos
O educador e pesquisador Alessandro Gomes Alexandre, que chegou a escrever um artigo no DRD citando a importância dos trenzinhos em Valadares, se juntou com outras pessoas e criou uma página no Instagram chamada Museu dos Trenzinhos, onde tem um trabalho de resgate histórico dos trenzinhos de Valadares. “A ideia surgiu por desejo dos amigos Denes Júnior e Juriel Ferreira de pesquisar sobre a história dos trenzinhos da alegria da região leste de Minas. Assim eles convidaram ex-funcionários da Tolomelli Star, Valcesare Matias, Leonardo Gonçalves e Raul Barbalho para iniciar as postagens do perfil em janeiro de 2020. Era do conhecimento deles que desde a minha infância sempre tive muito contato com os funcionários da empresa e residia próximo à garagem dos trenzinhos. Nesse sentido fizeram o contato para que como educador eu pudesse colaborar na escrita dos textos do perfil. Assim iniciamos e muitos funcionários da empresa deram suas contribuições. Entre eles destaco Izaias Souza e Jurandir Boboffi. Além deles, outros deram entrevistas à página e muito contribuíram para que todos pudessem conhecer a trajetória dos trenzinhos da cidade”.
Alessandro não tem dúvidas sobre a importância dos trenzinhos que certamente deixam um legado em Valadares. “O trenzinho teve grande relevância no que refere-se à ludicidade e a formação da personalidade das crianças de nossa cidade. Na década de 80 o imaginário infantil ocupava-se entre assistir os programas infantis da TV aberta e aos fins de semana ter expectativa de encontrá-los nos trenzinhos na praça da Bíblia, denonimada no comum como praça dos Correios. Esse legado sem dúvida alguma colaborou muito no desenvolvimento como pessoas. As crianças de Valadares tiveram a oportunidade de ver nos trenzinhos personagens clássicos como Fofão, Cuca, Pantera Cor de Rosa, a turma da Disney e as Paquitas e outros do Programa da Xuxa”.
Sobre a receptividade das pessoas na página que faz esse resgate histórico, Alessandro diz que está contente pelo resultado. “O feedback é o melhor possível. Recebemos muitas fotos, comentários de várias pessoas da cidade e do exterior que fazem questão de relatar a experiência nos anos de ouro do trenzinho Star na década de 80. E a cada foto e participação na página vamos tendo a real dimensão do que representou do ponto de vista econômico, turístico, cultural e a nostalgia que todos têm em contar suas experiências. Podemos afirmar que os trenzinhos de Valadares marcaram várias gerações e continuam sendo um assunto que atrai curiosidade e o público da cidade”.
A página do Museu dos Trenzinhos pode ser acompanhada neste link.