Uma dívida de R$ 500 milhões do governo estadual com o Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), herdada da gestão de Fernando Pimentel (PT), pode causar a paralisação de 90% do atendimento médico-hospitalar aos beneficiários em todo o Estado. A informação é do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado de Minas Gerais (Sindpúblicos-MG). De acordo com a entidade, desde 2016 o governo não vem repassando o valor arrecadado dos contribuintes ao instituto, que acabou sem recursos para honrar os compromissos com hospitais, clínicas e laboratórios.
Por lei, o governo deve transferir ao Ipsemg os recursos oriundos da contribuição dos servidores (3,2% do salário) e patronal (1,6%). Em Valadares e região, de acordo com os usuários do Ipsemg, alguns serviços, como consultas e exames laboratoriais, já foram suspensos em alguns locais credenciados. Há casos de pessoas que tiveram a cirurgia desmarcada quatro vezes.
A suspensão de alguns serviços prestados por laboratórios e clínicas credenciados tem “prejudicado e gerado uma insatisfação muito grande na categoria”, afirmou o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Governador Valadares (Sind-UTE/GV), Rafael Toledo. Ele ressalta que o atendimento na cidade está precarizado. “Alguns profissionais atendem os pacientes do Ipsemg porque às vezes eles já são pacientes antigos, e acabam não negando a consulta. Essa situação precisa ser estudada a fundo e garantir que toda a arrecadação vá para o Ipsemg. É necessário que nesse momento seja feita uma auditoria. Os usuários não podem continuar passando por isso”.
Usuários
Usuários do Ipsemg já vinham encontrando dificuldades para agendamento e marcação de consultas e exames em Valadares. Entretanto, a situação se agravou. Maria da Penha Ferrari conta que está tendo de pagar por alguns procedimentos. “Fui fazer uma consulta este mês e acabei tendo de pagar por ela, porque algumas clínicas da cidade não estão atendendo pelo Ipsemg. Tive de fazer também um exame e, ao chegar ao local, descobri que eles não estavam atendendo. Aí, a proposta que me fizeram foi de me dar um desconto. Como precisava daquele exame, acabei pagando”.
A bacharel em direito Kesia Ferreira fala do drama vivido pelo pai em 2018. Foram quatro viagens a Belo Horizonte para fazer uma cirurgia de varizes, que sempre era desmarcada. Alexandrino Ferreira, que trabalha como porteiro em uma escola em Santa Maria do Suaçuí, teve de pegar suas economias para pagar a cirurgia, porque não estava mais aguentando a espera.
“Tivemos muitos gastos. As viagens até Belo Horizonte não ficavam baratas, sem contar o psicológico do meu pai, que se preparava para a cirurgia e, ao chegar lá, eles desmarcavam. Um verdadeiro desrespeito com os usuário do Ipsemg, já que descontam um valor mensal no pagamento deles. Desesperado, meu pai pegou as economias em janeiro e fez a cirurgia particular. Agora ele tem uma nova vida. Mas, se ele não tivesse o dinheiro, estaria sofrendo até hoje”, conta Kesia.
Insatisfação Sind-UTE/GV
Este é o cenário do atendimento de saúde do servidor público em praticamente todo o Estado, com maior gravidade em municípios do interior, onde a assistência à saúde dos quase 900 mil usuários mineiros está defasada. A insatisfação da categoria aumenta, conforme explica o diretor do Sind-UTE em Valadares. Ele explicou que mensalmente é descontado um percentual do contracheque dos servidores e o valor não está sendo repassado ao instituto, deixando a categoria desassistida no atendimento à saúde. “Todo mês é descontado um valor mínimo de contribuição para ter direito à assistência à saúde Ipsemg, de R$ 30,00 até o valor máximo de R$ 250,00”.
Serviços
Os serviços oferecidos pelos hospitais Samaritano e Nossa Senhora das Graças ainda não foram interrompidos na cidade.
Hospital Samaritano – “O atendimento aos usuários do Ipsemg continua de forma normalizada, mas, em virtude do contexto em que o instituto de previdência se encontra, quando necessário notificaremos sobre os atrasos e pediremos providências”, diz nota enviada pela assessoria de imprensa.
Hospital Nossa Senhora das Graças – “A dívida com o hospital já chega a um milhão de reais. Ainda estamos mantendo o atendimento, porque acreditamos nas promessas feitas pelo Governo do Estado, de regularizar essa situação”, explica o diretor do hospital, Sérgio Marques.
Ipsemg
Por meio de nota encaminhada ao DIÁRIO DO RIO DOCE, o Ipsemg respondeu em nome do Estado e informou que “a atual gestão do Governo de Minas Gerais tem feito o levantamento das dívidas deixadas pela administração anterior com a rede credenciada ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg). Neste momento estão sendo avaliadas, segundo a disponibilidade de caixa, todas as possibilidades de regularizar a situação para garantir a continuidade do atendimento a todos os beneficiários”.
“Já tive de pagar pelos procedimentos; um desrespeito com os servidores”,
explica a professora aposentada Maria da Penha Ferrari
“Os atendimentos em Valadares estão precarizados”, ressalta Rafael Toledo
“Meu pai viajou quatro vezes para Belo Horizonte para fazer uma cirurgia
que sempre era desmarcada”, conta Kesia Ferreira