“Despertai vosso poder, Senhor, e vinde salvar-nos e santificar-nos”
(Sl 80,3)
Queridos amigos e amigas, contemplar a nossa vocação é contemplar a nossa vida, e nela, contemplar o mistério da criação, que nos remete à nossa natureza humana, no ato da Criação: “Façamos, o homem e a mulher, à nossa imagem e semelhança”. Eis o sonho de Deus! O ideal, para o ser humano! Um processo e um caminho a ser percorrido, não apenas por alguns momentos, mas ao longo de toda a caminhada.
Contemplando os primeiros capítulos do livro do Gênesis, percebemos que, com a queda de Adão, o pecado interferiu, rompeu o plano divino da santificação do homem, pois nossos primeiros pais, criados à imagem e semelhança de Deus, em estado de Graça e Santidade, colocados à dignidade de filhos de Deus, foram empurrados num abismo de miséria, levando consigo todo o gênero humano. Ao longo da história e da caminhada, o homem geme no seu pecado, e o enfrenta em cada momento. Este, cavou um abismo que não se supera se não pela Graça de Deus, pois por si só absolutamente incapaz de se levantar.
Um caminho é preciso ser percorrido, para conseguir o que o homem não pode, para destruir nele o pecado e restitui-lo a Graça, Deus antecede com a sua misericórdia e promete-lhe um Salvador. Essa promessa, feita e renovada através dos tempos, não se restringe somente ao povo de Israel. Estende-se a toda humanidade. Isaías, em seus escritos remete a essa promessa: “Virão os povos em multidão, dizendo: “Vinde, subamos a montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine seus caminhos” (Is 2,3).
Quando voltamos o nosso olhar para Jesus, vamos escutar de sua boca, expressamente: “Digo-vos que muitos virão do oriente e do ocidente e sentar-se-ão à mesa com Abraão, Isaac e Jacó, no Reino dos Céus” (Mt 8,11)
Assim, podemos contemplar e rezar o Senhor Jesus, na plenitude da Graça do Pai. É esse “Rosto Misericordioso”, que veio salvar a todos os povos, e convidar todos à mesa de seu Pai. No Reino dos Céus. “Quer Deus todos os homens salvos e que cheguem todos ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). A fim de que salvem todos, “enviou seu Filho unigênito, para que, quem que nele creia, não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). É assim o amor de Deus, um amor sem limites. Israel foi o depositário da divina promessa e recebeu a missão de transmiti-la de geração em geração. Isso, não podemos perder de vista, não é, porém, o único beneficiário.
Desde o início, no plano de Deus, foi destinada a promessa a toda a família humana: ninguém, nenhuma pessoa está excluída. Jesus, Salvador, veio para cada homem e a cada homem oferece os meios necessários à santificação.
São Paulo, na sua primeira Carta aos Coríntios, faz um apelo para que cada um tome consciência da sua vocação e missão ao longo da vida e caminhada: “Aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos com todo aquele que em todo lugar invoque o nome do Senhor nosso, Jesus Cristo” (1Cor 1,2). Todos os que crêem em Cristo, seja de que povo for, são efetivamente “chamados a ser santos”, o que, na linguagem do Apóstolo, significa sobretudo, pertencerem, serem consagrados a Deus mediante o batismo e, portanto, em sentido pleno desta consagração, tornarem-se ao longo da caminhada , santos.
Queridos irmãos e irmãs, assim como a salvação, a santidade é um dom oferecido a todos os homens. “Sede santo, porque eu sou santo” (Lv 11,14). No Antigo Testamento, havia Deus dito ao povo de Israel. E Jesus no Novo Testamento especificou: “Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai Celeste” (Mt 5,48).
Estas palavras, queridos irmãos e irmãs, Jesus, não as dirigiu a um grupo escolhido, não as reservou aos Apóstolos, aos íntimos, mas pronunciou-as diante da multidão que o seguia. Jesus, o Santo por excelência, veio santificar todos os homens e a todos oferece os meios necessários, não só para a salvação, mas também para a santificação: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10)
Podemos então entender que o Senhor Jesus, mestre de oração e modelo divino de toda perfeição, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição, pregou a santidade de vida, de que ele mesmo é o autor e consumador. Não pode o homem encontrar em si mesmo, recursos e forças para santificar-se. Somente Deus pode santificá-lo. Pois, o próprio Deus, na sua ação criadora e salvadora, quer ser o santificador das suas criaturas e, em Jesus Bendito, oferece em perfeição, a cada homem, os meios para que se santifiquem.
Um fraterno abraço.
por Gilberto Faustino Braz | Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima.
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