É o que afirmam os pesquisadores responsáveis pelo estudo; primeira parte dos resultados já foi divulgada
Os pesquisadores do Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, realizaram uma coletiva de imprensa no fim da tarde dessa sexta-feira (26), para dialogar sobre os resultados da primeira fase do estudo Epicovid19. A coletiva teve participação de 25 veículos de imprensa de todo o Brasil, incluindo o DRD. A principal conclusão da primeira etapa da pesquisa foi resumida no título do relatório de divulgação: Covid-19 no Brasil, várias epidemias num só país.
No dia 15 de maio, um grupo de agentes enfrentou problemas em Governador Valadares ao tentar coletar dados e realizar testes rápidos no bairro Santa Rita. Isso ocorreu por uma falha de comunicação entre o Ministério da Saúde e a Prefeitura da cidade. Por esse motivo, Valadares ainda não está nas estatísticas da primeira amostra dos resultados, mas deverá entrar nas fases seguintes.
Os primeiros resultados apontados pela pesquisa, ao serem comparados com os números oficiais que têm sido divulgados pelo Ministério da Saúde, apontam uma grande subestimativa do número de infectados pelo coronavírus.
Só a cidade de São Paulo tem, de acordo com a pesquisa, mais casos do que o governo tem constatado nas estatísticas oficiais para o Brasil inteiro. “Isso é preocupante, porque as pessoas estão infectadas e não sabem, e assim elas podem acabar contaminando outras pessoas”, destacou o coordenador geral do estudo, Pedro Hallal.
Para ele, isso se deve ao baixo índice de testagem no país, já que a maior parte dos municípios tem testado apenas as pessoas que apresentam os sintomas mais graves da doença. “Nós chegamos a algumas casas em que as pessoas têm anticorpos, ou seja, estiveram contaminadas, mas não sabiam que haviam tido a doença”, destaca Pedro Hallal.
Minas Gerais tem melhor cenário da região Sudeste, mas tem baixa adesão ao isolamento social
No que se refere ao estado de Minas Gerais, a situação não parece ser essa. Isso porque, nas cidades mineiras em que a primeira fase da pesquisa já foi concluída, foram poucos os resultados positivos para Covid-19. “Se a gente pegar os dados das cidades de Minas Gerais, em que se conseguiu fazer mais de 200 entrevistas, basicamente nós não tivemos casos no Estado. É um lugar com pouco caso mesmo, seguindo o que dizem as estatísticas oficiais”, destaca a pesquisadora Mariângela Silveira.
Entretanto, a pesquisadora explica que existe outro fator preocupante em Minas Gerais, que é o índice de isolamento social. “Quando olhamos os dados de distanciamento social, os resultados não são bons. Só 59% dos participantes relataram seguir o isolamento. Em cidades com índices melhores, esse número chegou a quase 70%”, explica.
De acordo com os pesquisadores, esse cenário pode representar um problema para o futuro próximo. Isso porque o índice de isolamento atual reflete diretamente nos índices de contaminação que serão captados em alguns dias. “O cenário é diferente do Rio Grande do Sul, por exemplo, em que se tem um baixo índice de contaminação e um alto índice de isolamento, aí a situação fica estável. Em Minas, com o isolamento baixo, a contaminação pode subir”.
Agentes do Ibope voltam a Valadares no dia 4 de junho para segunda fase da pesquisa
A segunda fase do estudo Epicovid19 está prevista para os dias 4, 5 e 6 de junho. Neste período, os agentes contratados pelo Ibope deverão voltar às cidades pré-selecionadas para a coleta de dados. Apesar dos problemas enfrentados em Governador Valadares, onde os agentes chegaram a ser levados à delegacia de polícia, os pesquisadores afirmam que a cidade permanecerá no estudo.
“A amostra continua a mesma. Nas cidades que não conseguimos concluir, como foi o caso de Governador Valadares, nós queremos garantir agora que consigamos fazer tudo. Para isso estamos conversando com os municípios, tentando diminuir os ruídos, as falhas de comunicação e vamos tentar voltar de maneira mais eficiente e que realmente funcione”, destacou o coordenador geral da pesquisa.
Ele explicou que o que houve no começo foi que a comunicação do Ministério da Saúde com algumas cidades aconteceu muito em cima da hora. Com isso, a divulgação da pesquisa não ocorreu como deveria, e a população não foi devidamente informada.
Os pesquisadores Fernando Barros e Bernardo Horta explicaram que não ter conseguido o número necessário em todas as cidades, é sim um problema. No entanto isso deverá ser corrigido com técnicas estatísticas, sem apresentar maiores prejuízos. Portanto ainda assim o resultado da primeira fase foi positivo.
“Nós conseguimos fazer três quartos do previsto logo na primeira fase. Os outros estudos nacionais que existem, realizados na Áustria e na Islândia, só conseguiram um terço do total. Então nós tivemos, sim, um ótimo começo”, explicaram.