Testes de Covid-19 em Valadares fazem parte de pesquisa nacional

Equipe detida por engano no bairro Santa Rita foi contratada pelo Ibope para coletar dados que servirão para reduzir subnotificações da doença em todo o país

Por uma falha de comunicação entre o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde de Governador Valadares, uma pesquisa que está sendo realizada em todo o Brasil não começou bem na cidade. O grupo de pesquisadores contratado pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) deveria coletar informações e amostras de sangue de um grupo pré-selecionado de pessoas na cidade. No entanto, despertou a desconfiança de alguns moradores do bairro Santa Rita, por onde começou a coleta. O problema se agravou quando a Prefeitura Municipal de Governador Valadares afirmou que não tinha conhecimento da ação.

Entretanto, trata-se de uma pesquisa legítima, encomendada pelo Ministério da Saúde e coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), do Rio Grande do Sul. É a primeira pesquisa sobre a Covid-19 com esse nível de alcance em todo o mundo. O DRD entrou em contato com a UFPel para entender mais sobre a pesquisa e sobre a participação de Governador Valadares nos estudos.

De acordo com Sílvia Pinto, assessora do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel, onde a pesquisa é conduzida, o estudo foi encomendado à Universidade ainda em abril. Ele foi pedido e financiado pelo Ministério da Saúde, depois que a UFPel teve sucesso em outro estudo parecido, mas que foi realizado apenas no Rio Grande do Sul. Lá, a pesquisa já está na terceira fase, e já concluiu que o número de notificações de casos de Covid-19 pode ser até nove vezes menor do que a propagação da doença.

“A pesquisa é legítima e muito séria. Ela é financiada pelo Ministério da Saúde e teve todos os protocolos aprovados pelo Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. O que aconteceu foi realmente uma falha na notificação da Prefeitura, e isso acabou prejudicando o estudo e atrasando o resultado”, explica Sílvia.

Ela também ressalta que a pesquisa só traz benefícios para a população. “O teste rápido é caro, e em algumas cidades ele nem existe. Portanto, além dos outros pontos positivos, ainda é uma oportunidade para que as pessoas façam o teste gratuitamente”.

Por que Governador Valadares faz parte da pesquisa?

Foi com o intuito de medir a propagação real do vírus no país que o Ministério da Saúde encomendou a pesquisa, que deverá coletar e analisar dados em 133 cidades do Brasil. A seleção dessas cidades é feita com o uso de dados do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Funciona assim: o IBGE divide o país geograficamente em várias mesorregiões e microrregiões. Cada uma das mesorregiões possui uma cidade sentinela, que é a maior ou mais urbanizada, e serve de referência para as outras que estão no entorno. Valadares é a cidade sentinela da mesorregião do Vale do Rio Doce, e por isso faz parte da pesquisa.

Além de Governador Valadares, outras 12 cidades mineiras fazem parte do estudo: Belo Horizonte, Montes Claros, Teófilo Otoni, Ipatinga, Juiz de Fora, Barbacena, Varginha, Pouso Alegre, Uberaba, Uberlândia, Patos de Minas e Divinópolis.

Como o estudo funciona?

Os gastos são responsabilidade do Ministério da Saúde, e quem conduz a pesquisa é a Universidade Federal de Pelotas. No entanto, a pesquisa de campo foi contratada com o Ibope, que ficou responsável também por selecionar e alocar as esquipes que estão fazendo a coleta de dados. De acordo com a assessoria da UFPel, essas equipes foram treinadas e muito bem preparadas para seguir os procedimentos corretos e não oferece quaquer risco à população.

O IBGE tem registro de todas as residências da cidade, e é com base nele que as 250 pessoas que serão analisadas em cada municipio são escolhidas. Primeiro, são destacados os 25 maiores setores censitários de cada cidade. Em seguida, são sorteados 10 endereços de cada um desses setores. Os pesquisadores se dirigem a esses endereços e, caso a casa seja habitada por mais de uma pessoa, é realizado um novo sorteio para definir quem será a pessoa testada.

Os pesquisadores chegam às casas em grupo, identificados como agentes do Ibope, e apresentam uma carta do Ministério da Saúde informando sobre a pesquisa. Caso ainda assim a pessoa desconfie da veracidade das informações, os agentes disponibilizam um e-mail do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel para que entre em contato, e qualquer questionamento enviado é respondido de forma imediata.

Resultados já alcançados

De acordo coma UFPel, já foram quase 10 mil testes realizados em todos os estados do Brasil. Manaus, cidade brasileira mais atingida pela pandemia, foi a primeira a completar a coleta de dados, com 250 testes realizados.

“Fica o nosso agradecimento a todas as autoridades de Manaus, em especial ao prefeito Arthur Virgílio Neto, que não mediu esforços para garantir a segurança da nossa equipe, compreendendo a importância da pesquisa e a gravidade da pandemia”, destaca o coordenador geral do estudo e reitor da UFPel, Pedro Hallal.

Até as 20h30 de sexta-feira (15), 9.321 entrevistas e testes já haviam sido realizados. Na Região Norte, as equipes concluíram 2.231 do total de 5 mil testes previstos. No Nordeste, foram realizados 2.353 de um total de 10,5 mil testes previstos. Já no Sudeste, esses números foram de 1.809, de um total de 6,5 mil. No Sul, as equipes já aplicaram 1.855 de um total de 5.250 testes. E no Centro-Oeste, incluindo a capital Brasília, já foram conduzidos 1.073 de 3.750 testes previstos.

regiões da pesquisa

11 cidades têm estudos paralisados

As equipes do Ibope trabalham normalmente em 80 das 133 cidades. No entanto, as atividades estão paradas em 42 municípios, aguardando autorização para o início da coleta de dados, embora o projeto já tenha sido aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) há várias semanas, e o Ministério da Saúde já tenha enviado ofício às Secretarias de Saúde e feito destaque ao estudo no seu site oficial.

De acordo com a UFPel, nas onze cidades restantes, dentre as quais está Governador Valadares, os problemas logísticos e burocráticos resultaram em suspensão sem previsão de retorno do trabalho, aguardando a sensibilização das autoridades locais.

O coordenador geral da pesquisa ressalta o desafio de implementar uma pesquisa em todo o país, de forma tão rápida. “São desafios enormes, mas a emergência causada pela pandemia exige que nós, pesquisadores, saibamos responder com agilidade, para produzir dados científicos que podem ajudar a salvar milhares de vidas. Precisamos agora contar com a colaboração dos governadores, prefeitos e secretários de Saúde, para que o estudo transcorra normalmente”, conclui Hallal.

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