Vacina da Janssen de dose única é eficaz contra a covid, mas proteção contra novas variantes preocupa

A Janssen, braço do laboratório Johnson & Johnson (J&J), anunciou nesta sexta-feira (29) que sua vacina contra a Covid-19 é eficaz contra o desenvolvimento da doença com uma única dose.

Os dados de segurança e imunogenicidade da vacina já haviam sido publicados no dia 13 de janeiro na revista científica New England Journal of Medicine, em artigo que constatou a produção de anticorpos em 98% dos participantes após uma dose única.

A vacina apresentou eficácia de 85% na redução de casos graves da doença, incluindo proteção contra internações e mortes.

Os resultados divulgados nesta sexta-feira se referem aos ensaios clínicos de fase 3 do imunizante, conduzidos simultaneamente em diversos países, e são para casos moderados e graves, que necessitam de hospitalização. Ainda não há dados para proteção de casos assintomáticos ou impedir infecção do vírus.

Os números variaram também segundo a região do estudo, indicando uma possível influência das novas variantes do coronavírus no número de casos e consequente proteção da vacina.

Eficácia

Nos Estados Unidos, onde foram avaliados cerca de 45 mil participantes, a eficácia da vacina em impedir hospitalização foi de 72%. Na América Latina, essa taxa caiu para 66%, enquanto na África do Sul foi menor ainda, de 57%.

O país sul-africano vem enfrentando um aumento do número de casos e mortes devido à circulação de uma nova variante, a B.1.135, caracterizada por uma série de mutações, incluindo a E484K, possivelmente associada a uma evasão do sistema imune. A linhagem, identificada primeiro nesse país, já foi detectada nos Estados Unidos.

Não foram divulgados dados do estudo da vacina para o Reino Unido, onde uma nova variante também tem causado aumento substancial no número de casos não só na região, mas também em outros países da Europa.

No Brasil, a nova variante de Manaus causa preocupação semelhante por conter as duas mutações identificadas nas variantes do Reino Unido e da África do Sul, na proteína S do Spike (ou espícula, o gancho utilizado pelo coronavírus para entrar nas células).

Se for confirmado que a baixa eficácia da vacina está associada à evasão do sistema imune pela variante da África do Sul, outras vacinas em fase final de testes ou já aprovadas para uso, como as da Pfizer/BioNTech, Moderna, Oxford/AstraZeneca e Novavax, podem também apresentar o mesmo risco.

Uso emergencial

A J&J disse ainda que pretende enviar o pedido de aprovação para uso emergencial à FDA (agência norte-americana que regulamenta medicamentos) até a próxima semana, o que colocaria a vacina disponível para uso até o final de fevereiro. O diretor científico da companhia, Paul Stoffels, disse ao New York Times que a vacina (da Janssen) é “a que pode fazer diferença no combate à pandemia com uma única dose”. As demais vacinas utilizadas até o momento necessitam de duas doses, em um intervalo de 21 dias, para garantir os índices de proteção.

Além do controle da pandemia para conter os casos com as novas variantes, os EUA têm discutido a fabricação e aceleração na produção de doses de vacinas no menor tempo possível.

Os agentes regulatórios no país aguardam dados da companhia sobre a fábrica construída em Baltimore, Maryland, que pode produzir o imunizante em larga-escala, com a possibilidade de entregar 100 milhões de doses até junho.

Se a J&J conseguir entregar as vacinas rapidamente para o governo norte-americano, a incidência de novos casos pode diminuir e, consequentemente, as chances de novas variantes se estabelecerem e piorarem a situação já fragilizada da pandemia. Como a vacina necessita de apenas uma dose para garantir a proteção, essa capacidade de produção garantiria a vacinação de 100 milhões de indivíduos.

Além da dose única, outra vantagem do imunizante seria o seu armazenamento em refrigerados comuns, em temperaturas de 2˚C a 8˚C, em comparação às vacinas da Pfizer e da Moderna, que precisam ser armazenadas em ultracongeladores, a -70˚C e -20˚C, respectivamente.

No Brasil, a vacina da Janssen é testada em cerca de 7.000 voluntários. Em janeiro, a Anvisa concedeu o certificado de boas práticas de fabricação à companhia. A conclusão e divulgação dos ensaios clínicos no país ainda são aguardadas. (Ana Bottallo/Folhapress)

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