Demorou 50 anos, mas terminou o maior jejum de um campeão brasileiro. A consequência foram gritos, choros, desabafos e alívio nos bares, nos restaurantes e nas ruas de Belo Horizonte ao apito final da partida vencida pelo Atlético-MG sobre o Bahia, por 3 a 2.
A cidade amanheceu nesta quinta-feira (2) com o preto e branco por todos os lados. Torcedores, a pé ou de carro, seguiam para o trabalho e para a escola com a camisa do clube. Bandeiras eram vistas nas sacadas e janelas dos prédios e casas.
Na Savassi, região centro-sul da capital mineira, um bar, ainda por volta das 8h30, já se organizava e armava gradis, envolvidos em plástico preto, para demarcar espaço destinado a quem fosse ao estabelecimento mais tarde para acompanhar o jogo.
Em outro estabelecimento da região, o Bar do João, o mais antigo da Savassi, inaugurado há 37 anos, o comerciante João Pimenta, 66, não conseguia sequer manter a atenção no almoço que serve diariamente. A cabeça estava no “Galão”, como trata o seu time.
João, além de apaixonado pelo Atlético-MG, tem como cliente o maior ídolo do time: o jogador Reinaldo, que mora próximo ao local e passa pelo bar muito mais para conversar do que para consumir. É só aparecer por lá que chovem pedidos para fotos. Nunca recusa e faz em todas o tradicional gesto do braço esticado para cima com o punho cerrado.
O “Rei”, apesar de nesta quinta-feira não ter aparecido por lá, tem sido um companheiro de João em parte destes tempos de “seca” de títulos do Brasileiro. O último havia sido conquistado em 1971.
“É uma sensação de alívio. Atleticano é diferente. A gente ama o time mesmo sem títulos. Mas com o campeonato na mão é uma alegria para todos nós. Só quem é atleticano sabe o que é torcer para esse clube. E agora, somos bicampeões”, diz João.
O dono do bar que leva seu nome se lembra do primeiro título, mas afirma que agora tudo é diferente. “Eu tinha 15 anos e morava com meus pais e irmãos na minha cidade natal, Diamantina. A gente não tinha televisão. Escutava as partidas pelo rádio. Mas naquela época as pessoas gostavam mais dos times do Rio. Eu, não. Sempre fui atleticano”, afirma.
Não muito distante dali, no bairro Serra, o Bar do Salomão, o mais tradicional reduto atleticano da cidade, começou a receber torcedores três horas antes do jogo. O bar tem fotos de equipes do Atlético ao longo das últimas décadas cobrindo todas as paredes do estabelecimento.
Os torcedores começaram a chegar antes das 15h. Carros passavam, buzinavam, e a resposta eram gritos de “Galo!”. Às 18h o local fervilhava. O bar, bem pequeno, fica em uma esquina.
Televisões são instaladas com o visor para fora do estabelecimento em dias de jogos do time para que os torcedores possam acompanhar a partida da calçada. A forte chuva que atingiu a cidade uma hora antes do jogo fez com que os torcedores se apertassem sob uma marquise, mas nada que reduzisse a animação. O temporal durou apenas alguns minutos.
Era tanta gente que os atleticanos passaram a ocupar parte da rua. Mesmo de longe, aos ouvidos de quem não conhece o local, parecia se tratar de um estádio. “Demorou muito, mas chegou. Somos campeões”, vibrou Victor Bicalho, 31, que trabalha em um buffet da família.
“Agora é comemorar e receber a taça”, afirmou o analista de sistemas, Bernardo Borem, 25. “É festa para mais dias”, acrescentou. Ao final da partida, o que se ouvia era só o grito de “bicampeão”.
A assessoria de comunicação do Atlético-MG, até o fechamento desta edição, não havia confirmado a realização de festa para comemoração do título. Entre os torcedores, no entanto, havia expectativa de que o time retornasse ainda esta noite para a cidade, com desfile do aeroporto até a Praça Sete, região central da capital.
Pela animação da torcida ao longo do dia, porém, a festa em Belo Horizonte vai ser em todos os lugares. LEONARDO AUGUSTO/FOLHAPRESS