Tenho “tireóide”, e agora?

Este é um assunto que nós, endocrinologistas, com frequência ouvimos no consultório. A tireóide é uma glândula presente em todos nós, na região cervical anterior, pouco abaixo do chamado Pomo de Adão, o popularmente conhecido “gogó”. “Ter tireóide”, do ponto de vista médico, não significa um problema, mas sim a normalidade. A tireóide produz algumas substâncias, dentre elas o hormônio Tiroxina (T4), que é convertido em Triiodotironina (T3) na circulação sanguínea. O T4 é um hormônio com diversas funções: (1) neurológicas: capacidade de concentração, participação na regulação do sono, controle emocional e memória; (2) cardiovasculares: participação na frequência cardíaca e na participação na pressão arterial, via mecanismos de resistência arterial periférica; (3) trato gastrointestinal: motilidade e trânsito intestinal; (4) pele: grau de hidratação e ressecamento; (5) ginecológico: participação na regulação do ciclo menstrual; (6): coagulação sanguínea; (7) metabolismo energético: participação no aumento ou redução do nosso gasto energético; (8) formação óssea: participação no remodelamento ósseo; (9) nível de colesterol: o hormônio tireoidiano baixo eleva o LDL-colesterol, chamado “colesterol ruim”; (10): crescimento e desenvolvimento: o hormônio tireoidiano participa do crescimento de crianças e adolescentes.

Por sua vez, quem regula a função tireoidiana é o TSH, hormônio produzido na glândula hipófise, localizada na base do nosso crânio, chamada por muitos de “glândula mestre”. Para entender a função: é como se o TSH fosse o “patrão” e o t4, o funcionário. Quando o T4 reduz sua ação, ou seja, “para de trabalhar”, o TSH precisa aumentar, “dando mais ordens”, a fim de que o T4 aumente de novo. Assim, quase sempre eles funcionam de modo inverso: quando o TSH está alto é porque o T4 está baixo; quando o TSH está baixo, é porque o T4 está alto; TSH normal acompanha T4 normal.

O que, na maior parte das vezes, uma pessoa quer dizer quando afirma “tenho tireóide”, na verdade é: tenho uma disfunção tireoidiana. Esta pode se manifestar como um hipotireoidismo (funcionamento baixo da tireóide, T4 baixo, TSH alto); hipertireoidismo (funcionamento elevado da tireóide, com T4 alto e TSH baixo).

As causas mais frequentes são: (1) auto-imunidade, quando o nosso organismo passa a agredir a própria tireóide e ela perde capacidade de produção hormonal; (2) tireoidites, causadas por inflamação secundária a vírus ou bactérias; (3) nódulos tireoidianos produtores de hormônios; (4) medicações que modificam a secreção do T4; (5) além disso, o iodo presente em nosso sangue é usado como substrato na produção hormonal, assim, o excesso ou a baixa oferta de iodo também provocam alterações no funcionamento da glândula tireóide.

O tratamento da disfunção tireoidiana pode envolver uso de medicamentos orais, radioiodoterapia (o iodo é dado por boca para o paciente tomar. Ele tem uma substância que vai até a tireoide e a queima) e cirurgia.

Se você apresenta alteração desses hormônios, ou alguma queixa relacionada, não deixe de procurar o seu médico para melhor avaliação.

Íkaro Breder, 32 anos. Mora em Campinas e está em doutoramento (PhD Student – UNICAMP). É especialista em Endocrinologia, Clínica Médica e formado em Medicina, todos títulos obtidos também nesta Universidade | E-mail: ikaro.breder@unimedsa.com.br

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