Seis meses de pandemia: perspectiva dos valadarenses sobre a Covid-19

Foto: Juninho Nogueira

Pandemia trouxe nova rotina e já causou impactos na economia local, mas futuro ainda não é claro; economista aponta que cenário ruim também pode deixar marcas positivas 

No dia 30 de junho, completaram-se seis meses desde que a Organização Mundial da Saúde recebeu a primeira notificação sobre um novo tipo de pneumonia, altamente contagiosa. A doença chegou ao Brasil em janeiro de 2020, mas para os valadarenses, ainda parecia um surto distante. No dia 11 de fevereiro, a OMS fez um anúncio: tínhamos um nome, Covid-19, uma nova mutação do coronavírus. Naquela época, o mundo já estava em estado de alerta, inclusive Governador Valadares. 

No dia 7 de março, a Prefeitura de Valadares anunciou a criação do Comitê de Prevenção e Controle com relação ao coronavírus, que viria a ser o grupo responsável por deliberar sobre as medidas preventivas na cidade. Uma semana depois, no dia 16 de março, o Brasil registrou a primeira morte pela doença. O primeiro caso confirmado apareceu em Valadares no dia 24 de março, quando aulas já estavam suspensas e o comércio da cidade estava fechado.

Os valadarenses começavam a sentir a pandemia cada vez mais perto, mas a perspectiva era de que ela passasse rápido. Nas primeiras coletivas com a imprensa, a Secretaria Municipal de Saúde anunciava que o pico da curva de contágio havia sido projetado para abril, depois foi adiado para maio, junho e agora, em julho, os casos ainda continuam aumentando. 

Mudanças na rotina por causa da Covid-19

Mayara fala sobre mudanças na rotina por causa da covid
Mayara Gama, jornalista

De lá para cá, a vida mudou bastante. É o que afirma a valadarense Mayara Gama (24). “Tudo mudou. Desde a forma de se relacionar, agora sem muitos toques e abraços, já que meus pais são do grupo de risco, até a rotina, que pra mim é o mais difícil. Agora o trabalho é de casa, tem todo o procedimento para sair de casa (máscaras, álcool em gel) e também para voltar. É uma rotina completamente nova”, conta a jornalista.

Mayara sabe que o cenário na cidade ainda é grave, mas acredita que é preciso enxergar as coisas com positividade. “Os próprios números apresentados pela prefeitura mostram que o cenário não está bom, mas as minhas expectativas são as melhores. O momento já é difícil, ser positivo nessa hora e acreditar que tudo em breve vai passar, tornam esse período menos pesado e triste”.

Se a rotina já não é mais tão nova assim, as informações ainda geram confusão. “Sobre o vírus no geral ainda vejo muita inconsistência nas informações. Talvez porque ainda é “novidade” para todos, mas sempre surgem novas informações a respeito de contágio, cura, medicação, que trazem um pouco de confusão sobre o que estamos enfrentando e mostra que ainda não sabemos realmente o que é”, destaca Mayara.

Mayara fala sobre mudanças na rotina por causa da covid

“As pessoas perderam o medo”

aléxia fala sobre mudanças na rotina por causa da covid
Aléxia Oliveira, engenheira de produção

Diferente de Mayara, a engenheira de produção Aléxia Oliveira, 24 anos, precisou continuar trabalhando presencialmente, mas teve que ir para mais longe de casa. A empresa em que ela atua faz parte dos setores que são considerados essenciais. 

“Eu tive que continuar trabalhando, porque trabalho no escritório de um supermercado, e precisa continuar funcionando. A minha rotina de serviço continua no mesmo horário, o que mudou é que, como a gente não podia mais trabalhar muitas pessoas na mesma sala, eu tive que começar a trabalhar um pouco mais longe de casa, pra poder estar em um outro setor do supermercado, onde teria menos aglomeração”, explica. 

Saindo de casa para trabalhar, Aléxia percebe que o movimento nas ruas tem aumentado cada vez mais. “No início as pessoas estavam com medo, estavam respeitando mais, ficando mais em casa. Hoje, a gente vê o supermercado lotado, vê o pessoal saindo pra bar e tudo mais. Apesar de Valadares estar no auge dessa crise, o pessoal está saindo de casa sem medo. Perderam o medo mesmo”. 

A engenheira sabe que, apesar de estar saudável, como está saindo de casa todos os dias, corre o risco de pegar a doença e, pior, transmiti-la para a família. “Eu tô trabalhando, e minha irmã também está saindo de casa pra trabalhar, então eu fico com medo de ter alguma coisa e passar pra alguém da minha família, porque os mais velhos são os mais prejudicados. A gente teve que diminuir o contato pra tentar cuidar deles, dos amigos, da família, principalmente dos meus avós e tios mais velhos. E eu fico bem preocupada com as pessoas que não se preocupam, nem por elas nem pelos outros”.

“Eu espero que isso acabe logo, mas infelizmente eu não vejo isso encerrando antes de outubro, novembro. Aparentemente não vai acontecer. Eu espero que acabe logo pra que possamos voltar a viver nossa vida, melhor do que vivíamos antes”

Aléxia Oliveira

Impactos econômicos da Covid-19

A crise na saúde é sem dúvidas o pior impacto da Covid-19, que já tirou a vida de mais de 60 mil brasileiros, mas não se pode negar que ela também tem causado grandes impactos na economia. Entretanto o professor universitário, que é mestre em Economia pela Universidade Estadual de Maringá, Alyson Fidelis, traz uma perspectiva positiva sobre a economia local.

“Até o momento não parece que a administração pública municipal irá propor novamente medidas mais rígidas de isolamento social. Valadares já está com os estabelecimentos abertos há mais de dois meses. Aos poucos a economia vai retomando seu curso”. Ele destaca, no entanto, que caso seja necessário um lockdown, a economia é diretamente afetada. O economista explica que, por ser uma cidade essencialmente comercial, Valadares pode ser impactada de forma mais drástica.

“Uma economia mais diversificada dá mais força à cidade, pois tem mais unidades produtivas que geram riqueza na região. E ainda em alguns estados as indústrias não fecharam por completo durante o período de quarentena”.

Alyson Fidelis

Entretanto ele indica que o saldo não é totalmente negativo. O momento de crise inevitavelmente traz reinvenções que, dentro de algum tempo, podem ser benéficas. “Empresários dessas pequenas cidades [por exemplo], vão perceber que não precisam necessariamente vir a Valadares comprar mercadorias para revender ou alguns insumos. Podem fazer isto pela internet quando for possível”. 

Além disso, destaca que “as empresas mais uma vez têm a oportunidade de melhorar processos, inovar e reduzir custos. É o momento de ter ações intencionais na boa gestão empresarial. E sem dúvida ter canais virtuais de vendas e publicidade. Isto é indispensável. Os trabalhadores precisam focar e usar melhor o tempo para melhorar a qualificação. Procurar cursos na internet, muitos gratuitos, para somar conhecimento e desenvolver  novas habilidades”, conclui.

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